O vereador da Cultura do município de Aveiro sublinhou hoje a necessidade de resolver “uma das angústias existenciais” sob ponto de vista de investigação histórica e científica da cidade, que é, seis séculos depois da edificação, investigar e reverter para documento aspetos ainda por esclarecer e “questões por responder” sobre as antigas muralhas, das quais apenas restam vestigios.
Miguel Capão Filipe falava na abertura da 12.ª edição das Jornadas de História Local e Património Documental, organizada em parceria com a Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro (ADERAV).
“Aveiro sempre podia ser classificada na altura como a Jerusálem portuguesa, as muralhas eram todas em pedra de Eirol, era uma muralha sobretudo estética e não defensiva, todas as pedras serviram para o molhe da Meia Laranja que nos salvou nesse período grave de penúria e encerramento da barra? Falamos muito disto, mas nada como trazer a debate científico provas e investigação”, declarou o vereador.
O município pretende “reverter para memória futura” os contributos dos oradores convidados em forma de livro, como já aconteceu nas jornadas sobre Aveiro e os Descobrimentos, ou aproveitando uma nova publicação municipal, os “Cadernos de Cultura”, a lançar no primeiro trimestre de 2019.
Miguel Capão Filipe lembrou ainda a intervenção encomendada ao arquiteto Siza Vieira para recuperar o memorial aos 250 anos de elevação da cidade, envocando a chamada ‘Porta do Sol’, uma das entradas das antigas muralhas, junto da igreja da Sé. Bem como a criação de sinalética identificativa bilingue para evocar o percurso daquele edificado na cidade.
Para a ADERAV, é necessário promover “o reencontro” com o passado de Aveiro. Lauro Marques, presidente da direção, lembrou que “a muralha moldou a imagem da cidade e nela se perdeu”, permanecendo sinais mesmo depois de demolida.
Os muito poucos vestígios que ainda possam restar devem ser preservados, o que não sucedeu no passado recente.
“Por isso mesmo, são ainda mais importantes os alertas e a reflexão informada, devemos reflectir bem para decidir melhor. Se trouxermos a nossa cerca muralhada para o centro da atenção pública e todos saberem que parte pode ainda persistir, poderemos todos ter a consciência de como deve ser salvaguardada integrada na cidade atual”, apelou Lauro Marques.
Haverá mesmo a possibilidade de nem tudo se ter perdido. Em alguns muros e panos de parede de casas haverá ainda pedras de Eirol que resistiram ao tempo e progresso urbanistico. “É responsabilidade acrescida de todos nós sermos verdadeiros guardiões da memória e defensores dos testemunhos do nosso passado”, concluiu o presidente da ADERAV.
Para além do programa com intervenções de convidados, a organização tem agendada, para sábado, uma visita pela cidade para retratar o que seriam as muralhas.
Excerto de intervenção com a caracterização da muralha de Aveiro