A culpa não foi dos bombeiros. Em muitos era notória a exaustão. Muitos diziam que não conheciam o terreno. Em alguns casos até dava a impressão que havia meios a mais. Foi notória a descoordenação dos meios.
Por Edgar Jorge *
Não quero parecer politicamente incorreto, nem quero ser mal interpretado. Estiveram mais de 700 operacionais no teatro de operações do incêndio que começou em Antelas (Oliveira de Frades). Positivo.
Corporações
A grande maioria dos operacionais eram de corporações longínquas que desconheciam o terreno em Sever do Vouga. Não sabiam para onde ir, onde combater. Não combatiam o fogo no mato, apenas protegiam as casas. Isso eu entendo muito bem e aceito. Mas houve imensas casas (na Bouça, Cedrim, por exemplo) sem um bombeiro que fosse a proteger. Valeram os populares, autênticas milícias coordenadas pelo instinto de proteção dos seus principais bens.
Coordenação
A culpa não foi dos bombeiros. Em muitos era notória a exaustão. Muitos diziam que não conheciam o terreno. Em alguns casos até dava a impressão que havia meios a mais. Foi notória a descoordenação dos meios.
Inferno em Carrazedo
Carrazedo (Cedrim) viveu momentos de terror. Por sorte não arderam casas. O vento, apesar de forte, ajudou, dado seguir uma só direção. Mas houve outras povoações em perigo: Santo Adrião, Bouça, Penouços, entre muitos outros, que tão cedo não esquecerão a madrugada da Sra. Dolorosa de 2020.
Meios aéreos
15 meios aéreos entre as 8h30 e as 19h30. Muitos meios. Muito dinheiro gasto. Mas quase não os vi a defender a povoação de Cedrim. Pergunto-me quanto custaram estes meios só no dia de hoje. Era uma curiosidade que gostaria muito de saber.
7 em 7 anos
Estes incêndios nesta região parecem estar a seguir ciclos de 7 anos. Os últimos consideráveis foram em 1985, 2006 e 2013.
Bombeiros de Sever do Vouga
Em Santo Adrião ouvi alguns elogios à corporação severense. “Finalmente estiveram a apoiar-nos. Estão de parabéns, ao contrário de anteriores incêndios aqui ocorridos”.
Lições para o futuro
Nesta altura tiram-se conclusões e fazem-se planos para que não voltem a ocorrer. Pelo menos é expectável que tal aconteça. Melhorar os caminhos florestais, criar pontos de água, ter uma carta protocolar definida. Obrigar o ordenamento florestal. Quando o incêndio ocorre é o salve-se quem puder. Cada um por si. Fé em Deus.
Resta-nos esperar por 2027 ou 2034 quando tudo se vai repetir, tal como aconteceu este ano e em incêndios anteriores. Resta a consolação de que em Sever do Vouga teve um verdadeiro recorde de meios mobilizados (772 pessoas, 237 meios terrestres, 14 meios aéreos), não morreu ninguém. Valha-nos isso!
* Ex autarca da União de Freguesias Cedrim e Paradela, Agente de Cooperação na empresa Camões, I.P.