Quem quer vender o seu imóvel consegue fazê-lo com relativa facilidade (mesmo que, para isso, tenha de baixar um bocadinho o valor pedido – e mesmo assim depende das zonas, como sabemos). Quem quer investir no imobiliário ainda pode fazê-lo com alguma margem de segurança
Por Francisco Mota Ferreira *
O título é roubadíssimo ao livro que Pedro Santana Lopes escreveu, depois do então Presidente da República Jorge Sampaio ter dissolvido a Assembleia da República e provocado a queda do XVI Governo Constitucional por si liderado. Lembrei-me deste título porque, confesso, não sei bem o que pensar sobre o real estado (não confundir, por favor, com real estate) do sector. Porque, tal como no livro que o então ex-primeiro-ministro escreveu, há coisas que são percepções e outras que são a realidade. Ou, se quiserem, há verdades, meias-verdades e inverdades (aquele nome simpático que se inventou para disfarçar as mentiras).
E do que é que, genuinamente, estou a falar? Quando converso com profissionais do sector, o sentimento é o de que a coisa não está assim tão mal quanto isso, mas há uma clara tendência para piorar. Há falta de casas, de compradores, a Banca não facilita, o governo idem idem, aspas aspas, e a bolha, a famosa e suposta bolha em que o sector imobiliário vive, há-de rebentar um destes dias – ontem já era suposto, não percebemos o que se passa hoje e desconhecemos o amanhã. E, claro está, lá temos o rame rame de queixas de que os colegas são maus, não partilham, enganam e todo aquele relambório que já estamos habituadíssimos (e cansados?) de ouvir.
E depois, falo com pessoas fora do sector, mas que lidam com este: proprietários, banca, construção, promotores, estrageiros e investidores que querem investir (e continuar a investir) em Portugal e acabo, na maioria por ter outra radiografia e outra realidade. E que passa por achar que isto não está o que estava (ou seja, não está bom), mas que não está ainda o quadro negro que querem quase à viva força fazer pintar. E que ainda há muitas e imensas oportunidades, desde que, claro está, as pessoas tenham a possibilidade de as agarrar.
Costuma-se dizer que no meio está a virtude, mas eu confesso-vos que, entre um lado e o outro, não consigo descortinar o meio possível.
O que eu sei, ou percepciono, é que, nas redes sociais, acabaram (ou estão em extinção) os posts do “vendido em 15 dias” e começam a aparecer mais os posts do “depois de um processo difícil, tenho que agradecer aos meus clientes, amigos, blá, blá, blá”.
Ou seja, da parte do sector, começam a existir queixas, legítimas, de que algo está a mudar e que está a começar a ser mais difícil. Deixem-me aqui dizer que, em abono da verdade, eu nunca achei que esta fosse uma profissão fácil, apesar de ser um sector supostamente acessível. Continuo a acreditar que aqui pode ganhar-se imenso dinheiro, mas, para isso, temos de ser resilientes, persistentes e muito, mas mesmo muito profissionais. O que, como sabemos, não está ao alcance de todos.
Por outro lado, acho que, sinceramente, a crise ainda não se instalou. Ou, se quiserem, a percepção de que as dificuldades podem estar ao virar da esquina. Quem quer vender o seu imóvel consegue fazê-lo com relativa facilidade (mesmo que, para isso, tenha de baixar um bocadinho o valor pedido – e mesmo assim depende das zonas, como sabemos). Quem quer investir no imobiliário ainda pode fazê-lo com alguma margem de segurança – principalmente quem está habituado a ter o mundo (ou, se quiserem, a Europa) como o seu palco principal: Portugal, em face dos preços proibitivos praticados lá fora, continua a ser muito atrativo ao investimento estrangeiro, mesmo que, por cá, se continue a achar que existe uma crise na Habitação. Ela existe, naturalmente, mas é nas grandes cidades, com Lisboa e Porto à cabeça. Não me consta, nem me parece, que existam grandes problemas de arrendamento ou de compra em cidades como Castelo Branco ou Bragança, mas por favor, desmintam-me na primeira oportunidade que tenham.
O mercado não está fácil, o sector está difuso e não há verdades absolutas. O que escrevi nas linhas acima foi, se quiserem, a minha verdade, ou a percepção que tenho do sector, pelas muitas conversas que vou tendo com quem, seguramente, sabe muito mais disto que eu. São, se quiserem, as minhas percepções e a minha realidade.
* Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio) Artigo publicado originalmente no site Diário Imobiliário.