IA na indústria do calçado: Maior eficiência operacional

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Imagem divulgada no Facebook do CTCP.

A inteligência Artificial (IA) tem tido um forte impacto na indústria, de uma forma transversal aos vários setores nos últimos anos, com uma mudança de paradigma generalizada no sentido de uma maior digitalização dos processos e adoção de tecnologias emergentes. De uma forma muito geral, este impacto tem-se sentido sobretudo ao nível da tomada de decisão e na capacidade das tecnologias de IA permitirem um apoio efetivo em processos de decisão chave de uma forma automatizada, autónoma, eficiente e confiável.

Por Rui Rebelo *

No contexto altamente dinâmico e incerto que caracteriza o ecossistema industrial atual, uma tomada de decisão em tempo-real e baseada em conhecimento é cada vez mais fundamental para assegurar um crescimento sustentável a longo-prazo. O setor do calçado, em particular, reúne um conjunto de características únicas que o tornam especialmente interessante para a integração destes sistemas com sucesso. Trata-se de um sector com uma cadeia de valor largamente globalizada e fragmentada, que apresenta ciclos de vida de produto muito curtos e elevada variabilidade na procura, decorrente não só da sazonalidade, mas também do contexto socioeconómico. Estas características, juntamente com consumidores cada vez mais informados e exigentes, contribuem para uma crescente complexidade do negócio do calçado que condiciona a gestão eficiente dos processos ao longo de toda a cadeia de valor. Neste contexto, a integração de técnicas de IA na indústria do calçado vai permitir uma maior eficiência operacional, mas sobretudo uma maior flexibilidade/agilidade na resposta ao mercado que este setor exige.

Assim, estas técnicas irão permitir ganhos a vários níveis, nomeadamente:

1) Eficiência na produção: através da automatização de tarefas, análise de dados e algoritmos de planeamento/escalonamento que irão permitir reduzir custos de produção, minimizar consumo de recursos e reduzir tempos de paragem e produção;

2) Qualidade: através da automatização de tarefas repetitivas, evitando erros e através da monitorização de parâmetros de produção em tempo real, identificando problemas mais rapidamente e permitindo uma resposta imediata;

3) Previsão: através da capacidade de analisar tendências de consumo, sazonalidade, eventos de moda, etc. com base em dados históricos, da situação atual e de toda a cadeia de valor, permitindo às empresas criar produtos mais relevantes para o mercado e tomar decisões informadas relativamente a níveis de stock e produção;

4) Customização: a customização é cada vez mais crítica no setor do calçado e a IA poderá dar um contributo fundamental através da análise das preferências do consumidor e tendências de moda, permitindo criar designs personalizados e integrando-os no sistema produtivo de forma rápida e mais eficiente.

A adoção destas técnicas de uma forma transversal nas organizações, irá contribuir ainda para a emergência de novos modelos de negócio alicerçados nos desafios atuais de sustentabilidade (económica, ambiental e social) e resiliência. A capacidade de processamento e análise de grandes volumes de dados vai permitir rastrear processos e produtos ao longo de toda a cadeia de valor, permitindo a adoção de estratégias de circularidade e outras que irão permitir perceber e limitar os impactos ambientais, sociais e económicos do sector.

Finalmente, apesar dos ganhos já observados e documentados, prever o real impacto da adoção da IA na indústria será sempre um exercício difícil na medida em que este impacto não só é muito amplo e assume múltiplas características, como está continuamente em evolução acompanhando os avanços tecnológicos e a crescente adoção nos vários setores industriais.

Tipicamente a adoção de tecnologias inovadoras e em particular tecnologias digitais, obriga a reconfigurações importantes de muitos elementos da organização, não só ao nível dos ativos de produção, mas também ao nível dos processos, estratégias e estruturas organizacionais. Apesar das tecnologias de IA estarem num nível de maturidade interessante para aplicações industriais é necessário trabalhar na estruturação dos problemas, processos, dados, etc., assim como na literacia digital das empresas, para uma implementação bem-sucedida. Desta forma, uma transição digital efetiva e respetiva adoção de soluções de IA obriga, por parte das empresas, a uma estratégia digital clara, planeada e integrada na visão global da organização, evolvendo ativamente todos os atores chave do processo.Na indústria do calçado, em particular, os principais desafios poderão estar ao nível do equilíbrio adequado entre a preservação das competências e know-how inerentes a um sector altamente tradicional e o nível de automação e IA requerido nos novos modelos de negócio. Neste sentido, as empresas devem trabalhar ativamente para encontrar o equilíbrio certo entre o processo, tecnologia e estratégia de negócio, numa visão integrada dos sistemas. Só assim as empresas serão mais capazes de obter ganhos efetivos de competitividade através da IA.

* Coordenador do Centro de Engenharia de Sistemas Empresariais do INESC TEC. Artigo publicado originalmente no site da APPICAPS.

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