Makavejev foi o mais controverso, agitador e inesperado realizador Jugoslavo, marcou a história do cinema, sobretudo no tempo da Guerra Fria, com alguns dos mais brilhantes e originais filmes das últimas décadas.
Por António Costa Valente *
O “23º AVANCA, Festival Internacional de Cinema” vai homenagear no sábado dia 27 de julho, um dos mais subversivos, anárquicos e anti globalização, de entre todos os grandes cineastas do cinema europeu.
A 25 de janeiro deste ano desaparecia Dusan Makavejev, um dos incontornáveis realizadores da história do cinema do século XX.
Em Belgrado, sua cidade de sempre, entre um tempo de Jugoslávia e agora Sérvia, entre as convulsões do seu país mas também da sua vida e obra, Dusan Makavejev sempre por ali esteve, mesmo quando por lá não podia viver.
Makavejev foi o mais controverso, agitador e inesperado realizador Jugoslavo, marcou a história do cinema, sobretudo no tempo da Guerra Fria, com alguns dos mais brilhantes e originais filmes das últimas décadas.
Formado em Cinema e Psicologia, realizou cerca de 3 dezenas de filmes. Obras como “A Man is not a Bird” (1965), “Love Affair, or the Case of the Missing Switchboard Operator” (1967), “Innocent Unprotected” (1968), antecederam “W.R.-Mysteries of the Organism” que rodado em 1971 se veio a transformar no seu primeiro grande sucesso internacional.
Baseado nas teorias da psicologia sexual de Wilhelm Reich, este filme foi considerado “subversivo” na Jugoslávia e proibido até 1986. Makavejev, forçado a trabalhar no estrangeiro, rodaria “Sweet Movie” em França e Holanda (1974), “Montenegro” na Suécia (1981), “The Coca Cola Kid” na Austrália (1985), “Manifesto” na Croácia e USA (1988) e “Gorilla Bathes at Noon” na Alemanha (1993). Os seus filmes foram selecionados e várias vezes premiados em festivais como Berlim, Cannes, Chicago e São Paulo. O seu último filme “A Hole in the Soul”, produzido pela BBC, é um auto-retrato intimista.
Makavejev, com sua posição anárquica às críticas político-sociais dos sistemas de direção económica, foi sempre um crítico contundente da globalização.
Em 2002 Dusan Makavejev esteve no Festival AVANCA onde dirigiu um workshop intitulado “Entre o Documento e a Ficção”, provocando intensos debates e um trabalho marcante.
A homenagem que o AVANCA agora lhe irá fazer, não poderá ser repetida em nenhum outro sítio, país ou momento. Será a memória desse workshop que estará presente nesta homenagem.
Nascido dos debates liderados pelo cineasta Dusan Makavejev, em torno do psicodrama e do documentário, o filme de longa metragem “Ruptura” de Miguel Marques viria a ser produzido e apresentado no festival AVANCA do ano seguinte, onde o júri lhe atribuiu uma Menção Especial.
“Ruptura” foi assim um projeto iniciado nos Encontros de Avanca de 2002 com a marca crucial de Makavejev.
O pressuposto (estudado na altura) foi pedir a um grupo de intervenientes que se familiarizassem com uma jovem desaparecida (Ana Lúcia, estudante de artes, com uma vida afetiva um pouco instável) e posteriormente colher os seus depoimentos. Pretendeu-se tornar claro o confronto entre discurso direto (no caso vários discursos diretos sobre uma personagem) e a personagem em si encarnada pela atriz Graça Ochoa, partindo das bases programáticas do psicodrama.
O filme inicia-se quando Ana Lúcia abandona todas as relações de até então e parte para lugar incerto.
A Homenagem irá acontecer pelas 18h30 no Auditório Paroquial de Avanca, no âmbito do festival que ali decorre, com as competições internacionais a acontecerem entre 24 e 28 deste mês.
* Fundador do Cine Clube de Avanca, diretor do AVANCA 2019