“Nunca vendi droga. Foi com o intuito de fazer dinheiro, não para magoar”. O homem que, em finais de fevereiro de 2020, terá alvejado, pelas costas, um pretenso comprador de droga, em Aveiro, disse hoje no Tribunal de Aveiro que fez-se passar por traficante para vender “gato por lebre”, num ‘esquema’ envolvendo dois amigos. O plano seria entregar ao suposto cliente um quilo de “placas de acendalhas por ser o mais parecido” com haxixe para receber os 1700 euros acordados.
Nas declarações prestadas no início do julgamento, o arguido, praticante de artes marciais, que se encontra em prisão preventiva, negou, contudo, que tenha sido o autor de disparos ocorridos, um dos quais atingiu pelas costas o alegado comprador da droga, ou mesmo que estivesse na posse de uma caçadeira de canos cerrados.
Na sua versão, quando fez a entrega das falsas placas de droga, durante um encontro com o pretenso comprador em que fumaram haxixe, na zona do bairro do Santiago, pressentiu desconfiança do ofendido e de outros desconhecidos que o acompanhariam próximo. Ao perceber que “o negócio correu mal”, temendo ser desmascarado a qualquer momento, regressou ao carro onde estavam os dois cúmplices que o acompanhavam e fugiram do local sem receber dinheiro.
“Percebi que confirmaram o que eu tinha no saco. Já tínhamos arrancado, quando ouvimos o disparo. Não vi nada”, garantiu o homem que está acusado de homicídio tentado, roubo e posse de arma proibida.
Os outros acusados respondem por roubo. Um deles, vendedor de carros, que conduziu a viatura, confirmou apenas que aceitou participar no ‘esquema’ proposto pelo arguido principal “para enganar um otário, um nabo”, sem terem “falado em violência” e porque “precisava de dinheiro”, tendo-lhe sido prometido o pagamento de 100 euros. “Pensávamos que era entregar, receber o dinheiro e vir embora”, referiu, negando ter visto qualquer arma ou sequer ouvido disparos. O terceiro arguido, também praticante de artes marciais, apresentou uma versão idêntica, com a diferença de ter ouvido algo que lhe pareceu um disparo. “Não vi nenhuma arma”, disse.
Os arguidos envolvidos no “negócio de droga fictício” (com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos) foram considerados pela Polícia Judiciária (PJ) como “pessoas da noite e perigosos”.
O alegado comprador, de 37 anos, havia combinado o negócio de droga com um outro homem tido como fornecedor, que não conhecia, mas através de um intermediário residente no estrangeiro.
De acordo com a PJ, apesar de gravemente ferida, a vítima conseguiria fugir sem entregar dinheiro, tendo sobrevivido, de acordo com a polícia, graças ao auxílio de um amigo que observava o encontro à distância.
Não foi apurada a quantia que a vítima de disparos levava consigo para pagar a droga que pensava ter encomendado e acreditava que lhe seria entregue no encontro.
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