(H)À representatividade social na literatura infantil?

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Livros infantis.

Os livros infantis são, muitas vezes, uma das primeiras formas de representação social a que as crianças são expostas. Através da associação de texto e imagem, a criança constrói conceitos sobre o mundo que a rodeia e as pessoas que nele habitam, o que contribui para a formação da sua identidade, aprendendo a relacionar-se consigo e com os outros.

Por Por Mariana Coronha e Ana Raquel Simões *

A literatura infantil permite às crianças conhecerem realidades distintas da sua e aprenderem como outros vivem, agem ou se comportam, evidenciando a diversidade sociocultural, histórica, étnica, familiar, de língua, de género, entre outras. Ao mostrarem o mundo pelos olhos de outras pessoas, os livros incentivam a criança a apreciar características diferentes das suas, formando para valores como a cooperação, a amizade, a empatia, e o respeito pela diferença.

Já para os que muitas vezes ainda são uma minoria nas sociedades contemporâneas, verem os heróis da história como personagens com as quais se identificam física, psicológica ou socialmente, poderá ser inspirador na forma como encaram o futuro, tornando-os visíveis e dando-lhes voz. Por outro lado, a ausência de representatividade de personagens nos livros infantis pode ter um impacto negativo a longo prazo, afetando a forma como a criança se vê, como se relaciona com os outros, influenciando o sentimento de pertença e de inclusão entre os pares.

Assim, uma representação realística, diversa e inclusiva de todas as crianças na literatura infantil favorece a redução de estigmas, preconceitos, sentimentos de isolamento, e até mesmo de comportamentos de bullying, que são, frequentemente, uma resposta dos mais novos perante aquilo que desconhecem. Quando as crianças abraçam a diversidade que veem representada nos livros que leem, intuitivamente desenvolverão atitudes positivas de interação entre todos, despertando para uma maior consciência social e sentido de comunidade.

Não esqueçamos que as crianças são especialmente vulneráveis em relação aquilo que veem e leem nos livros. Se, deliberadamente ou não, lhes omitirmos uma parte do nosso mundo, estamos a promover apenas uma visão incompleta da sociedade. Desta forma, questionarmos a existência ou não de uma variedade de personagens, vivências e emoções, ou mesmo a existência de ideias preconcebidas de determinados grupos, é uma parte crucial do trabalho dos educadores, de forma a assegurar que todas as crianças se sentem incluídas quando aprendem com os livros.

É nossa responsabilidade como consumidores de literatura infantil – professores, pais e cuidadores – pesquisar e avaliar criticamente as escolhas que fazemos e partilhar histórias inspiradoras que influenciem positivamente os pequenos leitores e que melhor reflitam a diversidade do mundo no qual as nossas crianças estão a crescer. O desenvolvimento da competência leitora é muito mais do que ler um livro, implica ler o mundo e toda a diversidade que ele encerra.

* Departamento de Educação e Psicologia / Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.

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