As respostas são multifacetadas ao nível das Politicas Educativas e da responsabilidade social de todos nós. Enquanto psicóloga e docente compete-nos evidenciar os aspetos ligados à educação para a saúde mental.
Por Anabela Pereira *
No final do ano de 2019, fomos confrontados com a propagação do vírus SARS-CoV-2 (Sindrome Respiratória Aguda Grave) e que provoca a doença COVID -19. Sendo um vírus altamente contagioso, levou a Organização Mundial de Saúde a declarar situação de Pandemia e exigiu medidas extremas de prevenção e mitigação dos riscos associados à propagação do vírus, nomeadamente o impedimento de frequentar locais de trabalho, recorrendo-se ao regime de teletrabalho, no próprio domicílio.
Já iniciada nos anos 70, a noção de teletrabalho veio dar resposta às necessidades das empresas para flexibilizar o trabalho e exigiu nesta pandemia, estratégias de adaptação nas famílias. Será que as instituições educativas e os seus principais atores (professores, alunos e funcionários) tiveram formação e estarão preparados para lidar com estas adversidades? Quais os efeitos psicológicos associados ao confinamento e como lidar com eles? Por fim a questão integradora (H)À Educação no autocuidado?
As respostas são multifacetadas ao nível das Politicas Educativas e da responsabilidade social de todos nós. Enquanto psicóloga e docente compete-nos evidenciar os aspetos ligados à educação para a saúde mental.
Primeiro, muito há para fazer ao nível da Formação Inicial e Continua. A Educação à Distância, o trabalho de forma síncrona (comunicação em tempo real, com a utilização de videoconferência…) ou de forma assíncrona (com o recurso a email…) mostrou ser uma mais-valia onde os professores, alunos e funcionários foram excedíveis no apoio cooperativo e entre pares, facilitando a auto – aprendizagem.
Tal sucesso destas práticas educativas, deverá ser contemplado pela tutela. Contudo, porque “ não há bela sem senão” não deverá ser negligenciado a sobrecarga de trabalho e as consequências negativas no bem-estar pessoal e familiar. As Instituições de Educação devem apostar na formação das tecnologias da comunicação, das competências transversais, no desenvolvimento e bem-estar do individuo em particular do autocuidado.
Em segundo lugar, destaca-se os efeitos psicológicos resultantes das exigências em teletrabalho. Lidar com os medos, inseguranças, ansiedade, solidão, conflitos e interações familiares, que associadas ao excesso de horas de trabalho em detrimento das responsabilidades familiares e negligência de auto cuidado (esquecimento do Eu), levaram nalguns casos a situações de burnout (exaustão psicológica). Urge o desenvolvimento de estratégias de coping para lidar com o distress psicológico.
Defensora da prevenção de comportamentos de risco, apraz nos aqui realçar a necessidade de todos nós termos um “Kit dos primeiros socorros emocionais” (tal como Kit dos primeiros socorros, que sempre nos acompanha), com estratégias de estilos de vida saudável, várias âncoras de suporte social, mil e uma cores de afetos e emoções positivas e alertas para o auto cuidado.
Por fim H(À) educação sem autocuidado? Esta resposta será da primazia do leitor, contudo acreditamos que o auto cuidado será facilitador da saúde e bem-estar do individuo.
* Professora do Departamento de Educação e Psicologia e investigador do Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.