(H)À Educação: é possível aprender quando o ensino não é presencial?

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Ensino à distância (arquivo).

O ensino em Portugal voltou, pela segunda vez em menos de um ano, a ter de ser feito à distância, para a maioria dos alunos e dos professores. É uma realidade que parece não agradar a ninguém, desde o governo aos professores, passando pelos alunos e pelos seus pais e encarregados de educação.

Por José Paulo Cravino *

Parte deste desagrado decorre da noção generalizada de que o ensino sem a presença física simultânea de professores e alunos numa sala de aula não permite aprender com a mesma qualidade.

Por outro lado, é difícil fazer no ensino remoto o mesmo que se faz no ensino presencial, seja pelas dificuldades técnicas de professores e alunos, seja porque o meio, mesmo com as condições técnicas asseguradas, não é o ideal para reproduzir a interação em sala de aula.

No entanto, é possível tentar fazer melhor uso dos meios disponíveis, embora provavelmente não seja boa ideia tentar reproduzir exatamente o que se faz normalmente em sala de aula.

Uma das vantagens do ensino à distância é a possibilidade de permitir que os alunos realizem as tarefas previstas de modo assíncrono. Ou seja, o professor pode disponibilizar ou indicar ao aluno o que ele ou ela deve estudar. Pode ser simplesmente ler uma ou mais páginas do manual escolar, ou ver um vídeo, ou usar uma simulação ou outros recursos mais ou menos sofisticados. Note-se que recorrer ao manual não implica sequer recursos diferentes dos usados normalmente pelo aluno.

No entanto, para aprender não basta ler a página ou ver o vídeo. É preciso que haja uma ou mais tarefas complementares para o aluno realizar. Pode ser responder a uma ou mais questões. Pode ser fazer um resumo ou uma apreciação crítica. O aluno, dentro de um prazo realista, pode completar a tarefa ao seu ritmo.

Depois é preciso dar feedback ao aluno sobre as tarefas que realizou, de preferência individualizado, em tempo útil e acentuando o que o aluno pode melhorar e como o pode fazer.

Os momentos síncronos podem então ser utilizados para tirar dúvidas, para esclarecer melhor o que é pretendido nas tarefas, para encorajar os alunos a realizá-las, para discutir o que foi feito e como melhorar.

Os meios podem ser os mais rudimentares. Claro que os momentos síncronos resultam melhor em videoconferência, se a Internet e os dispositivos de todos permitirem uma boa ligação. Mas podemos comunicar apenas por voz (telefone?) ou até simplesmente através de texto (bate-papo ou chat, SMS?). No limite, embora não seja tão síncrono (depende da rapidez com que respondemos!), até o velhinho correio eletrónico pode servir.

A tecnologia ou as ferramentas usadas não são o mais importante. O essencial é a possibilidade de manter o diálogo, porque é aí que reside verdadeiramente a aprendizagem, no intercâmbio de informação, de ideias, de perguntas, no debate e na resolução conjunta de problemas. Esta partilha entre pessoas, com alguém mais conhecedor e experiente (o professor), mas também entre os alunos, é a função primordial do ensino que permitirá que todos aprendam, seja presencialmente ou à distância.

* Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente em Portal da UA.

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