É entusiasmante apresentar uma reflexão sobre a especificidade da docência na educação profissional (EP). Quando se fala em educação básica, parece ser óbvio que o professor é um profissional que está dedicado de forma exclusiva à sua função e aos processos de aprendizagem dos estudantes.Já quando se ouve falar em educação profissional, parece possível pensar numa docência que não agregue a especificidade da função de ensinar, mas, antes, que prioriza um saber “técnico” que deve ser transmitido aos futuros trabalhadores.
Por Cristiane Silva e Cecília Guerra *
Nesse sentido, seria legítimo que, em cursos técnicos, tais como mecânica, turismo, eletromecânica, eletrónica e automação, os formadores tivessem saberes profissionais especializados nas suas áreas de atuação e com prática no mundo do trabalho para inserção na docência? O que é necessário para atuar como docentes nesses cursos? Bem, a resposta não é tão simples, mas é única: ser professor.
A história da educação profissional em muitos países parece coincidir com a própria história da docência nesse campo, pois o foco no saber-fazer direcionava o que se esperava de um docente para atuar nessa modalidade. Assim, do docente que atuava nesse campo, saber o conteúdo e as técnicas do desenvolvimento de uma dada atividade parecia ser o suficiente. O desenvolvimento tecnológico, as mudanças no mundo do trabalho e as novas competências exigidas do trabalhador criaram outras expectativas do docente e das instituições de ensino profissional. Nesse contexto, muitos países viram a necessidade de criar iniciativas para a formação de docentes da educação profissional, articulando com as necessidades do mundo do trabalho.
No Brasil, contexto que apresenta um grande número de profissionais do ensino técnico profissional (engenheiros, arquitetos, químicos, entre outros) que se inserem na docência sem a devida formação didático-pedagógica, evidencia-se a problemática da especificidade da docência na EP, enquando a legislação ainda prevê programas de formação especial sem garantia de continuidade e efetividade.
Já em Portugal, essa realidade parece caminhar para uma mudança significativa quando se exige o mestrado em ensino específico para atuar nos cursos profissionalizantes das escolas secundárias.
Contudo, cabe refletir: há mestrados em ensino que atendam a todos os campos específicos da educação profissional, como por exemplo Ensino de Ciências Agropecuárias, de Energias, de Eletrónica e de Automação? Caso não existam, a continuidade e efetividade da política educacional do país nesse campo também estaria comprometida. De que forma é possível transformar essa realidade? Como os profissionais podem ser acionados a desenvolver a sua função enquanto docentes na EP?
Um projeto de doutoramento em Educação tem procurado responder a essas questões, colaborando com docentes de cursos técnicos numa Instituição de Ensino Profissional no Brasil. Pretende-se (co)construir com esses atores um programa de formação pedagógica de docentes de EP em exercício, contribuindo para transformar a realidade das ações de desenvolvimento profissional docente no Brasil, servindo de subsídio para outros contextos.
* Cristiane Silva é membro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA (Brasil) e Cecília Guerra membro Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.
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