Guerra Morna

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Conflitos no mundo. Ilustração de Catarina Hipólito.
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Enquanto observamos esta guerra morna, há que admitir: a Rússia e China estão claramente mais bem preparadas para uma próxima guerra fria.

Por O VAZ *

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O conflito que testemunhamos atualmente entre o ocidente e as superpotências do Oriente, como a Rússia e China, é, oficialmente, uma guerra morna. Não está nem a ferver em declarações amigáveis, nem completamente fria com colocações de bombas atómicas em Cuba. Não, é uma guerra assim a uns 30 graus, como a água do duche. É uma coisa morna, que se bebe como um chá esquecido, sem entusiasmo nem sabor.

A Rússia e o Ocidente, que em tempos foram ferozmente inimigos em blocos distintos, estão agora num pé de “amigos que trocam indiretas no Facebook”. E o que fazem? Sanções para cá, condenações para lá.

Ora, se pensarmos bem, em 2010, esta panela geopolítica estava com a água a ferver. Mas, por volta de 2020, e com o início da guerra na Ucrânia, foi desligado o lume e posta a penela no frigorifico. Agora, em 2024, é uma questão de tempo até a água ficar fria.

Estamos numa espécie de banho-maria inverso, com a água a esfriar lentamente a cada dia que passa, e todos aguardamos o dia em que o caldo esfria de vez ou em que algum líder político resolve ligar o lume de novo.

Enquanto observamos esta guerra morna, há que admitir: a Rússia e China estão claramente mais bem preparadas para uma próxima guerra fria. Afinal, estes países são os mestres do gelo.

Tanto é que a Rússia jogou em casa no último embate com os Estados Unidos. Mas, se o domínio for mesmo o do morno, então , meus caros, Portugal está na linha da frente. Somos aquele país que vive num clima ameno e que tanto tolera o frio intenso em Trás-os-Montes como o calor absurdo no Alentejo. No fundo, somos especialistas do “nem muito quente, nem muito frio”.

A coisa é morna, o risco é morno, o medo é morno – uma tensão em águas de bacalhau, preparando lentamente o cozinhado para apurar o sabor. E Portugal, com a sua vocação para o clima ameno, está bem posicionado. Só nos faltam uma ou duas bombinhas atómicas (pequeninas, claro, nada de exageros), para termos um papel relevante como super-micropotência na eventual futura guerra fria.

Enquanto isso, seguiremos assim, campeões do clima intermédio, confiantes que, na zona morna, ninguém nos bate.

Afinal, já dizia o velho ditado diplomático: “Não há guerras mornas que durem cem anos.”

* Cineasta. https://www.instagram.com/_gvaz_/ . Ilustração de Catarina Hipólito.

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