Quem me conhece sabe que sou um consumidor, diário, de refeições fora de casa. Melhor, sou um consumidor permanente em restaurantes com o hábito de comer fora de casa.
Por Virgílio Nogueiro Gomes *
Faço cada vez menos crónicas sobre restaurantes, mas transformei-me em participante ativo no Instagram podendo todos verem, em tempo real, as refeições que faço. Já me aconteceu colocar uma foto do início da refeição mas, infelizmente, a refeição não terminou de forma satisfatória e retirei a foto inicialmente colocada. Também já me aconteceu, a conversa ser tão boa ou tão animada, que me distraio e esqueço-me de fazer a foto. Mas, se o local me agradou, não demorarei muito tempo sem lá voltar. Portanto ficam a saber que quando coloco a foto é porque me agradou a comida e o serviço.
E é sobre o serviço que irei escrever. Não vou repetir crónicas que já fiz sobre esse capítulo do serviço de restaurantes que é tão importante quando a qualidade da confeção culinária. Nos restaurantes que habitualmente frequento a brigada de mesa sabe que sou apologista de dar gratificação (nunca gostei da palavra “gorjeta”) e até criticado por alguns parceiros de mesa de ser generoso. Mas este gesto não é automático, pressupõe um estado de satisfação pelo serviço prestado. Quando não fico satisfeito não dou gratificação, alguma vezes não reclamo, mas não volto. Costumo dizer que só reclamo (não é verdadeiramente uma reclamação, mais uma opinião para corrigir o que me pareceu menos bem), quando julgo que o restaurante pode corrigir ou porque se evidencia em caso isolado.
Recentemente, em dia de São Martinho, fui surpreendido pela primeira vez em Portugal, que tem o Serviço Incluído nos preços da restauração, com um item no meio dos produtos consumidos, “Gratificação”, e adicionada no total da “consulta de mesa”. Estranhando ser o próprio restaurante a sugerir o montante da gratificação de 10%, quando vou questionar o empregado, antes de eu dizer alguma palavra, informa que naquele estabelecimento: “a política de gratificações”, e não o deixei dizer mais nada e disse-lhe que a política de gratificações é dos clientes que devem assumir livremente dar, e qual o montante. Certo é que, de facto, existe na consulta de mesa um “Total s/ gratificação” e depois aparece um total em letras e números maiores e até a “bold”. A tendência do olhar do cliente irá com muita facilidade para esse total até pela evidência no tamanho dos algarismos como da sua cor forte.
Acho constrangedor esta atitude. E já me aconteceu em mais restaurantes onde a proposta é inferior e se fica por 5%. E provoca-me alguma irritabilidade!
E aconteceu no primeiro restaurante deste ano de 2023, no qual o serviço provocará em mim não voltar, apesar da comida estar dentro dos limites do correto positivo, quando surge a fatura que decidimos pagar em dinheiro, o empregado traz o troco com a gratificação incluída (era só 5%) e eu manifestei-me que não queríamos incluir a gratificação ao que ele responder que deveríamos ter dito logo na apresentação da fatura… ainda sobra para o cliente ter de declarar sobre a opção…!
Será que este gesto de incluir a gratificação, apesar de não ser obrigatória, não é agressivo?
Eu sei que nos EUA os empregados de mesa, os restaurantes não têm o serviço incluído, mas é uma prática conhecida. No Brasil, apesar de em alguns estados o serviço estar incluído, mas continua a ser embaraçoso a solicitar da “comissão” e os empregados até já têm máquinas separadas para receber as “comissões”, “propinas” ou “gratificações”.
Eu, e já tenho mais opiniões de amigos, não darei gratificação sempre que me seja provocada. Sim, para mim, consumidor diário de restaurantes, isto é uma provocação.
Por favor, não me perguntem onde isto aconteceu pois não é meu hábito identificar restaurantes pela negativa. Obrigado.
* Gastrónomo. Texto publicado originalmente em www.virgiliogomes.com.
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