O barco moliceiro ‘Marco Silva’ do arrais homónimo venceu, destacadamente, a ‘Grande Regata dos Moliceiros da Região de Aveiro’, que se cumpriu este ano numa tarde muito ventosa em cerca de uma hora, desde a partida, na praia do Monte Branco, Torreira, concelho da Murtosa, até à meta no cais do Sal, em Aveiro.
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Os barcos ‘José Miranda’, do arrais homónimo, e o ‘Conquistador’, com António Padinha ‘ao leme’, ficaram, respetivamente, em segundo e terceiro lugar, numa ponta final animada. Seguiram-se as restantes 15 embarcações participantes, que ajudaram a dar um espetáculo raro que se repete mais duas vezes este verão, com as regatadas do Dia do Emigrante e do São Paio, ambas na Murtosa, o ‘coração da Ria’.
Atracar ao Cais do Sal não foi tarefa fácil. Feita a amarração, Marco Silva, que leva já vários primeiros lugares na principal regata anual, admitiu que o vento contribui para ‘dar espetáculo’, mas também “tem os seus contra, porque quando é demasiado também atrapalha” a navegação a ‘todo pano’. O arrais vencedor dá-se bem com ‘nortadas’ e afins eventualmente mais exigentes para quem manobra a embarcação: “Para mim esteve um dia bom”.
Alcançada a frente do pelotão, não mais perdeu a vantagem. “Vim sempre em segundo, conseguimos ultrapassar ao passar o antigo ‘Francês’, depois foi só segurar o andamento”, relatou o também construtor de embarcações tradicionais e dono de uma campanha de arte xávega na Torreira que vai fazer 49 anos.
Marco Silva somou a segunda vitória na temporada, depois de ter sido o primeiro a ‘cortar a meta’ da regata que integra o programa de animação do ‘Mercado Tradicional’ da Murtosa, no Cais do Bico.
Na Murtosa, terra da maioria dos moliceiros da Ria de Aveiro, se excetuarmos os barcos que fazem passeios nos canais citadinos de Aveiro, têm-se vindo a assistir, nos últimos anos a sucessivos ‘bota abaixo’ afastando o espectro da extinção desta embarcação tradicional. “É um bom sinal, as regatas, com os seus prémios e ajudas, são um bom incentivo. Mas as despesas são grandes. Fazemos isto, sobretudo, por amor ao barco e à ria”, afirmou.
“Fantástico”. O presidente da Câmara da Murtosa, que lidera também a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro, resumiu numa palavra a imagem da chegada do ‘pelotão’ da regata, quase a par, apesar de mais atrasados do que os primeiros.
“A regata correu otimamente. Sem ocorrências negativas. Celebramos a Ria, o nosso barco, a nossa gente, estão todos de parabéns”, afirmou Joaquim Batista, elogiando o desempenho dos arrais, ainda que “às vezes arrisquem um bocadinho” nestas disputas entre pares, a querer ganhar posições, “abusando de ventos que não são constantes” e podem fazer voltar os barcos, que não é habitual ainda assim.
“As pessoas que olham para um barco sem quilha, de fundo chato, completamente inclinado, às vezes literalmente a 90 graus, com pano de vela de 70, 80 metros quadrados, ficam a pensar como é possível. Deve-se ao talento e engenho desta gente a manobrar uma embarcação”, elogiou o autarca.
Há cerca de 15 anos que já não se viam tantos moliceiros na regata. Atualmente, existirão em toda a Ria de Aveiro 22 barcos em condições de navegar à vela, muitos deles de construção recente, propriedade de famílias que foram passando ‘o testemunho’ de geração em geração, ajudando a manter a identidade, a tradição e os saberes. “Possuir estes barcos em condições de navegar na nossa ria ‘aberta’ custa muito dinheiro, mesmo com ajudas para manutenção e pinturas, é um ato mais emocional do que racional”, refere Joaquim Batista.
‘Pressão alta’ para validar candidatura junto da UNESCO
A CIRA tem em curso a candidatura ‘Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro’ para integrar as ‘Listas de Património Cultural Imaterial da Humanidade que Necessita de Salvaguarda Urgente’ elaboradas pela UNESCO. “A nossa equipa está a trabalhar no dossiê, vamos manter uma ‘pressão alta’, esperamos que os técnicos nos comecem a visitar no início do próximo ano. A decisão final terá de ser tomada até setembro de 2025. Naturalmente, ambicionamos que seja positiva”, concluiu o autarca.
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Chegada da regata ao Cais do Sal, Aveiro
Partida da regata, praia do Monte Branco, Torreira.
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