“Gosto de pensar em peças que tanto dão como decorativas ou como utilitárias”

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Eduardo Melo, pintura cerâmica estilo 'Vista Alegre'.
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As criações artísticas de Eduardo Melo, incluindo peças originais, são herdeiras da tradição de pintura em porcelana da escola da Vista Alegre. Uma conversa a pretexto da abertura de mais uma edição da ´Artes & Ofícios´.

Porcelana pintada com motivos regionais é o dominador comum das suas criações, como tem exposto aqui na feira de ´Artes & Ofícios´ deste ano?
Trago porcelana decorada com motivos aqui da zona, mais de Aveiro. Os moliceiros por exemplo, mas tenho outros. Quase sempre alusivos à nossa zona, à pesca do bacalhau, aos nossos costumes e tradições. Vem daí a inspiração. É o normal neste tipo de trabalho de artesanato regional.

A pintura cerâmica acompanha-o há muito?
Sempre trabalhei em porcelanas, sempre foi pintor de porcelanas. Agora dediquei-me mais a fazer estes trabalhos temáticos regionais.

Onde aprendeu ?
Trabalhei na Vista Alegre. Foi lá que aprendia a pintar, no desenho e pintura. Na escola de pintura. Andei lá uns anos e depois passei ao desenho. Agora estou a trabalhar por conta própria.

O que é preciso para pintar desta forma ?
Tem de se ter algum talento claro, mas, sobretudo, fazer isto com gosto. Paciência, também. Caso contrário, não chegamos lá. O gosto é importante.
Tenho 51 anos. Estive na Vista Algre uns dez anos. Uns tempos no desenho, depois a aprender a pintar. Passei também pela produção.

Uma boa escola ?
Sim. Eu gostei muito de ter passado pela Vista Alegre, era mesmo uma escola. Hoje não será tanto, mas continua a ser emblemático. Nós íamos muito jovens aprender com os mestres. Era uma coisa a sério.

Este conjunto de chávena e pires é, digamos, uma das imagens de marca do seu trabalho?
As chávenas de café e o pires, sim, são um cartão de visita do meu trabalho. É um conceito meu. O pires pode ser em forma de onda do mar, de sardinha ou bacalhau. Decoro com os motivos regionais. A porcelana em cor branca com o desenho em escuro é para dar com decorações mais modernas das casas. Têm moliceiros e outros dezenos. São pintados um a um. Também faço as chávenas, as mais originais, seguem o meu modelo.

Mas tem outras peças…
… guarda joias, pratos e jarras decorativas, de vários tamanhos, por exemplo. Levam motivos da pesca do bacalhau. Sou de Ílhavo, tinha de ser. Além disso, o meu pai andou nessa vida de mar, portanto vem de pequeno o convívio com a temática.

As tarefas de pintura exigem tempo ?
Pinto todos os dias. Mais de inverno. No verão faço a feiras e aproveito para trabalhar ao vivo, a mostrar como se faz esta arte. As pessoas apreciam isso e vou ocupando o tempo que é longo nestas vendas.  Isto também ajuda a divulgar a nossa arte, já somos poucos a fazer algo do género.

A feira de ´Artes & Ofícios´ apanha o forte dos turistas.

Sim, e Aveiro tem agora mesmo muito turismo. Os visitantes passeiam por aqui, acompanham o nosso trabalho. E nós aproveitamos para vender. É um bom ambiente aqui no jardim do Rossio por estes dias.

Os preços das peças por vezes são elevados…
…Caros ? As pessoas percebem que é trabalho artesanal, demorado. Compreendem. São peças únicas.
Mas temos para todos os preços. Temos também os imans, em porcelana, com decorações. Podem optar.

Tem também peças decorativas alusivas ao bacalhau, em formato de dori bacalhoeiro.
Tinha de ser, comecei a fazer estas peças para os concursos que se organizam no Festival do Bacalhau. Tenho de começar a pensar no próximo, que está aí à porta, prepara a peça temática. O desafio este ano é a partir de uma ´espinha´ de bacalhau… Vamos ver o que sairá daí. Temos lá um espaço de exposição para vender. É muito útil aproveitar aqueles dias com muita gente. O festival está com muita força.

Prefere decorar ou criar peças úteis?
Gosto de pensar em peças que tanto dão como decorativas como utilitárias. Tenho aqui uns ´casas pijama´ da Costa Nova em porcelana, com porta moedas, por exemplo. Servem para as duas coisas.

Como está a edição deste ano da ´Artes e Ofícios´ ?
A feira está muito bem composta, com muitos expositores. Existe boa camaradagem entre os particiantes. Não há concorrência, somos todos amigos. Ajudamo-nos uns aos outros para agradar ao público e fazermos algumas vendas.

Não é a FARAV (antiga feira de artesanato) onde o sector teve dias de muita visibilidade…
…Pois não. Lembro-me bem, ainda cheguei a participar. Temos a esperança que regresse um dia a Aveiro. Era bom, tinha um grande impacto. Pode ser que volte.

Há pessoas que são apreciadoras mesmo de artesanato, interessadas em conhecer, no autêntico ?
Sim. Nossos conterrâneos e também estrangeiros. Gostam de levar este tipo de recordações, mais típicas. Compram sempre alguma coisa, o que nos ajuda.

44 artesãos na edição de 2018

A feira de ´Artes & Ofícios de Aveiro´, até 26 de agosto, não se limita à área de influência da Associação de Artesãos da Região de Aveiro – A Barrica, entidade promotora que está a assinalar quatro décadas de existência, sendo uma das mais antigas em atividade. Pelo jardim do Rossio estão também convidados de outros pontos do país.
Ao todo, 44 artesãos, todos credenciados com carta de artesão, representando várias artes e ofícios, desde a cerâmica, à tecelagem, ao couro e madeira, passando pelo estanho, a vitrofusão, a encadernação e joalharia. Há quem trabalhe ao vivo. Um tear encontra-se em exposição. Existem também expositores ligados aos cosméticos naturais, produtores de doces e comportas. Além da venda, que funciona nos dias úteis das 10:00 às 20:00 e às sex

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