Glória aos vencedores! Causas do nosso sucesso turístico

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Canal Central, Aveiro.

Estamos a viver o momento mais alto da história do turismo em Portugal. Nunca, como agora, tivemos tantas entradas de visitantes, tantas receitas do turismo, tanto volume de emprego gerado pelo setor, tanta riqueza produzida para o nosso país.

Por Miguel Paredes Alves *

O turismo passou a ser considerado o motor da economia e o segredo dos nossos bons resultados macro-económicos. Por estranho que possa parecer, os políticos ainda não chamaram a si os méritos por estes resultados. Mas, se bem os conheço, a coisa deve estar por dias… E é por isso – e antes que isso aconteça – que acho oportuno refletir sobre as causas e causadores desse sucesso.

Do alto dos meus 60 anos, todos vividos na hotelaria e no turismo, direi que são 7 as causas no nosso sucesso turístico:

1. Em primeiro lugar, os empreendedores. Os milhares de pequenos, médios e grandes empresários que arriscaram o seu património para criar uma oferta turística de qualidade, mas com sustentabilidade económica. Pessoas como Dionísio Pestana, Jorge Rebelo de Almeida e André Jordan, que costumam – com justiça – ser mais citados. Mas há muitos mais que convém recordar: Sander Val Gelder, Lourenço Marçal, Manuel Proença, Fernando Martins, Manuel Duarte Fernandes, Nazir Din, Erik Kurgy, António Trindade, Família Bensaúde e tantos, tantos outros, que souberam ver para lá da espuma dos dias (e das crises) e acreditaram no futuro. Com saber, trabalho e visão…

2. Em segundo, o (bom) ordenamento do território. Quando, no início dos anos 90, nos começámos a aperceber que havia um “turismo que mata o turismo”, então passámos a ordenar e planear os espaços com mais rigor, profissionalismo e exatidão. Com os Planos Nacionais, Regionais e Municipais de Ordenamento do Território passaram-se a limitar os excessos urbanísticos que quase iam destruindo algumas localidades algarvias – e não só. É certo que esse processo foi turbulento e cheio de falhas, nem sempre justo e com as doses habituais de burocracia, corrupção e compadrio, que são próprios da atividade pública em países de sangue latino, como o nosso. Mas, no geral, o balanço só pode ser positivo.

3. Em terceiro, a requalificação urbana. Quem se lembra do que eram os bairros históricos em Lisboa e no Porto há 20 ou 30 anos? Prédios velhos, muitos em ruínas, pejados de cartazes e graffiti, onde só viviam idosos, em péssimas condições.

Aqui – e ao contrário do que muitos querem pensar – não foi o Estado nem os políticos que recuperaram estas zonas. Foram milhares de microempresários que viram o potencial do alojamento local e que investiram na requalificação destes prédios miseráveis. E atrás deles vieram outros, que abriram pequenos restaurantes, bares, cafés, lojas de merchandising e artesanato, tuk-tuks e um sem número de espaços e serviços que vieram dar vida a este património turístico fundamental que são os bairros históricos – e que são a alma das nossas cidades principais.

4. De seguida, há que juntar as companhias aéreas low-cost. Foi graças a estas formas mais baratas de viajar que Portugal passou a ter condições de se posicionar como um destino concorrencial face a outros mais próximos dos centros emissores de turistas. Pessoas como Michael O’Leary, da Ryanair e Stelios Haji-Ioannou, da Easyjet, deveriam há muito ter ruas com o seu nome no nosso país, pelos milhões de turistas que transportam anualmente para Portugal e que, se tivessem de vir para cá em companhias caras de bandeira, provavelmente optariam por um passeiozinho de automóvel até ao sul da França ou da Itália.

5. Dentro do mesmo registo, devemos acrescentar – e até porque o assunto está por resolver – o aeroporto da Portela. Porque se tivesse sido encerrado – como alguns queriam – para dar origem a um gigante na Ota ou em Rio Frio, teríamos hoje um aeroporto com taxas aeroportuárias altas (e lá se iam as low cost) e com um tempo e custo de transfer aeroporto-cidade que iam afastar a metade mais pobre dos turistas que demandam Lisboa e todo o centro do país. Iríamos então alcançar a panaceia dos políticos “entendidos em turismo”: O “turismo de qualidade”. Só com hotéis e restaurantes de luxo. Que bonito!!!

6. Também temos de dar crédito às novas formas de alojamento turístico, que contribuíram bastante para enriquecer e diversificar a nossa oferta: Começando com o Alojamento Local, que trouxe tanta gente para o nosso turismo – pessoas que não apreciam partilhar o seu espaço com centenas de outros clientes – e estão no seu pleno direito; Mas também os Hostels, o Turismo Rural, os Resorts All Inclusive, a Hotelaria de Ar Livre, e outros mais.

7. Por último, mas não menos importante, há que reconhecer o esforço de promoção turística internacional desenvolvido pelas empresas turísticas e também pelos organismos promocionais. Aqui, merecem destaque – a meu ver, algumas pessoas: Frederico Costa, João Cotrim de Figueiredo e Luís Araújo, por terem sabido resistir às pressões para colocar a rentabilidade política à frente da rentabilidade turística, e Vítor Costa, por ter provado, por A mais B, que a promoção deve envolver os “privados”, e por demostrar, tal como os anteriores, que a boa promoção só se faz com estudo, planeamento, organização e muito trabalho.

O sucesso do nosso setor turístico, que pretendi celebrar neste texto, não nos deve fazer esquecer dos riscos e desafios que enfrentamos, e que podem deitar tudo a perder num instante. Estamos em risco de perder dois dos sete elementos acima referidos: A Portela e o Alojamento Local. E mais se seguirão se não soubermos, individual e coletivamente, defender o que deu tanto trabalho a construir.

* CEO, HotelShop. Artigo publicado originalmente no site Turisver.

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