Mais um ano terminou e as nossas lutas, as lutas de Aveiro e do Galitos, estão exatamente no mesmo ponto de há um ano atrás.
António Granjeia *
“Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de
realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.”
Fernando Pessoa in Livro do Desassossego
Mantemos desde o mandato inicial de, através das mensagens de ano novo do Presidente do Galitos, dar a conhecer a atividade do Clube dos Galitos Aveiro integrando a nossa atividade cívica, desportiva e cultural na cidade e sociedade aveirense. Cumprimos este desiderato com o orgulho de quem sente Aveiro e a formação dos nossos jovens como uma missão.
Neste primeiro dia em que ainda festejamos a entrada no novo ano de 2019 façamo-lo recordando o que em conjunto vimos conseguindo construir no Clube dos Galitos, mas sobretudo, ousemos continuar a ser diferentes,inovadores e motores da transformação.
O ano de 2018
O ano de 2018 terminou e um novo ano vai começar e com ele teremos novas metas para ultrapassar, desafios para vencer e problemas para resolver. A vida de um clube não é diferente da nossa lide diária e por isso labutamos com energia para resolver as dificuldades que nos apareceram, dialogando, sendo imaginativos e perseverantes para enfrentarmos e dar solução às novas dificuldades que inevitavelmente surgirão.
É essa a essência da vida quotidiana do clube que exige de todos os dirigentes e seccionistas, muita determinação, uma grande dedicação, muita energia e imaginação. É sobretudo encarando os desafios como novas oportunidades
que devemos prosseguir a nossa ação. Foi um ano de intensas e longas conversas sobre o nosso futuro enquanto coletividade que quer continuar a servir Aveiro com dedicação.
A vida do Clube
A vida social do Clube prosseguiu com normalidade conseguindo-se uma maior participação dos sócios na atividade das secções.
Em maio de 2018 foram eleitos novos corpos sociais. Desejamos invocar e agradecer ao Sr Coronel Albuquerque Pinto no ano em que deixa a presidência da mesa da Assembleia Geral o enorme reconhecimento pela competência e denodo com que exerceu o cargo mais representativo do nosso clube.
Este foi o ano do arranque do projeto Padel. Em parceria com uma entidade privada (Parábola Divertida) foi possivel construir 6 campos de Padel e posteriormente cobrir 4 deles com uma estrutura que permita a sua utilização todo o ano. A secção já está em pleno funcionamento e os resultados da competição dão já os seus frutos como adiante referiremos.
Como temos afirmado, o clube são as pessoas e os sócios o nosso ativo principal. Sem o seu trabalho e contributo de nada valem os edifícios que construímos e tudo que mantemos. No ano de 2018 o clube cresceu em sócios, atletas, secções e dirigentes. Uma vez mais, os pais e sócios deram o seu contributo como secionistas nas várias modalidades conseguindo dinamizar estruturas de apoio que são importantes no sucesso das modalidades e secções. Sem a dedicação dos sócios em tarefas essenciais não seria possível proporcionar formação aos quase dois milhares de jovens que participam nas nossas atividades desportivas e formativas.
Um outro processo que se concluiu em 2018 foi a revisão dos estatutos do clube com vista à sua adequação aos tempos atuais e a permitir que sejam considerados legais pelos serviços do estado que gerem a manutenção do estatuto de utilidade pública outorgado em 1928. Foi um processo complexo e onde o contributo de todos os órgãos sociais foi determinante e em particular o empenho do nosso sócio Dr Armando França.
Iniciámos em meados de 2018 o processo de revalorização e reutilização funcional da atual sede do clube. Depois de alguns debates foi decidido entabular negociações com o inquilino Fidelidade com vista à cedência parcial do espaço por este ocupado com vista à instalação de uma loja Galitos e um elevador. O processo está neste momento em estudo por uma equipa de arquitetos.
Os serviços de contabilidade foram revistos e alterados com vista a um melhor acompanhamento e maior rigor na apresentação de dados de gestão. Este processo envolveu muitas alterações ao funcionamento das secções, a
um esforço suplementar de todos os envolvidos e à aquisição de novo software e hardware informático. O resultado foi extremamente positivo pois em novembro de 2018 já dispomos de temos balancetes de exploração por secção relativos ao 3º trimestre e, no final desta época, teremos dados que vão melhorar a gestão das secções. Cabe aqui um agradecimento à Dra. Silvia Vidal, ao conselho fiscal do clube e a todos os dirigentes envolvidos nesta tarefa essencial.
Sempre as mesmas políticas centralistas do Estado
Passado mais um ano atestamos que o estado português continua incapaz de gerar políticas de promoção do desporto e da juventude menos centralistas, mantendo-se inabilitado para ajudar a resolver problemas burocráticos relativos a instalações desportivas, zelosamente complicando assuntos como a alteração de estatutos das associações desportivas e culturais.
Já vimos reclamando desta situação há vários anos. As associações são tratadas apenas como contribuintes e não como parceiros essenciais no cumprimento do artigo 79º da constituição da República Portuguesa na sua missão de apoiar os cidadãos. Continuamos a cumprir regras descabidas e anacrónicas perante o propósito das associações, a preencher vezes sem contas os mesmos formulários para análise de situação, afundando-nos nas teias administrativas de uma interminável burocracia. Os dirigentes não são valorizados pelo inestimável serviço que prestam à comunidade sendo por vezes os bodes expiatórios das incompetências dos decisores públicos.
Vale nestes casos as atuações mais atentas dos órgãos dirigentes municipais, quer ao nível camarário quer ao nível de freguesia, que vão ajudando como podem.
Voltamos, por este motivo, a insistir nos temas de mensagens anteriores.
Talvez nos ouçam pela exaustão.
A valorização dos dirigentes associativos
Cada ano que passa é mais difícil encontrar gente disponível para o associativismo. Felizmente que o Galitos tem conseguido ultrapassar este problema, mas é essencial criar estímulos para a adesão à vida associativa tal é individualização que a sociedade atual promove diariamente.
Canibalização dos clubes mais pequenos
A democratização do desporto com a construção de instalações desportivas por todo o País não tem valorizado os clubes e as associações do país menos mediatizado e ao invés está canibalizá-los em beneficio dos chamados 3 grandes.
– A “futebolização” está a passar para as modalidades amadoras.
– É fundamental criar estratégias locais e regionais que combatam este marketing agressivo e o centralismo das grandes capitais.
– É necessário criar estímulos às empresas do concelho de que vale apena apostar na sua terra ao invés dos clubes de Lisboa e Porto.
O IVA no desporto – O Estado vê os clubes como uma fonte de receita em detrimento da função educadora
Batemos novamente na tecla do IVA e na taxa máxima (23%) que todas as associações pagam no gás água e
eletricidade para logo percebermos, que o pouco que distribui, lhes acaba novamente por tirar, pela via da tributação e das muitas taxas e taxinhas de que é exímio criador. Já nem se fala na compra de equipamentos para a alta
competição, como barcos de competição, que pura e simplesmente deviam ser isentos. Só reclamamos a devolução do IVA nos custos diretamente envolvidos na formação e competição.
A justiça muito lenta
Passado mais um ano e ainda sofremos com as ondas de choque da insolvência de um ginásio que operava no pavilhão. O clube é um contribuinte líquido da justiça que não sabe ou não consegue resolver problemas simples mesmo depois de todos os bens terem sido vendidos. Mas o problema maior é que se advinha um prejuízo para o lesado ou seja o clube.
A gestão de estruturas – Há vários anos e diversos governos que o desleixo atinge Aveiro
O Governo finalmente parece com vontade de entender-se com a autarquia para largar a tutela administrativa de instalações que lhe pertencem, mas que na prática, não mantém, não gere nem se interessa por elas. Falamos da piscina e do pavilhão do DGD/INDESP/IPDJ.
O mesmo se passa com a zona da antiga lota onde se concentram as atividades náuticas da cidade que necessitam de um incentivo para crescerem e atraírem mais gente. Não percebemos o que tem de difícil resolver esta questão a contento de Aveiro e das suas gentes.
As organizações faustosas – o Clube, por via da sua atividade, é chamado a participar em bastantes atividades organizadas pelo Estado e que, apesar dos discursos de contenção, não dão nota de diminuição no fausto organizativo.
O exemplo dos orçamentos destinados às festas do desporto escolar é disso exemplo, a que se pode acrescentar o facto de no final das festas nem o material desportivo comprado para o efeito ficar nas localidades anfitriãs.
É, portanto, nesse contexto que nos temos de adaptar e gerir os nossos poucos recursos, reinventando diariamente soluções para manter as estruturas a funcionar e tentar evitar o desgaste do imobilizado conquistado e construído ao longo da nossa vida coletiva de mais de um século. Esse é talvez o maior desafio da direção e de todas as secções do clube; manter os ativos em bom estado. Não basta dizermos com orgulho que temos isto ou aquilo, é preciso garantir a sua sustentabilidade. Temos de procurar meios financeiros diversos dos tradicionais para provirmos este objetivo.
Muitas e boas alegrias…
Globalmente o Clube dos Galitos conquistou em 2018, 23 títulos de campeão nacional nas modalidades e alcançou 26 recordes nacionais.
Infelizmente, sempre as mesmas lutas….
Mais um ano terminou e as nossas lutas, as lutas de Aveiro e do Galitos, estão exatamente no mesmo ponto de há um ano atrás. Certamente não por desinteresse ou menor ação do clube… já não sabemos mais o que fazer a não ser insistir nas mesmas teclas.
O único ponto a favor é a posição da autarquia que está empenhada em ajudar e ser parte da solução nestes problemas. Queremos acreditar, sempre acreditar, que será possível, mas os avanços têm sido ridículos. Por uma questão de dignidade apenas poderemos transcrever os textos dos anos anteriores.
O posto náutico da lota continua à espera de acessos condignos que ajudem à chegada mais confortável, principalmente no inverno, de atletas e seus pais. Desejamos as tão prometidas ajudas de diversas entidades que, por um motivo ou outro, teimam em não aparecer e ao invés recebemos cartas desqualificativas do nosso trabalho quando com razão reclamamos do estado de abandono do espaço da lota. Lamentamos que a história do remo na cidade não tenha o peso suficiente para resolver este problema embora saibamos que existem planos para requalificar a zona proporcionando ao clube e à cidade um centro náutico de excelência, à semelhança daqueles em que todas as cidades congéneres já investiram. O incremento da secção náutica tem-se feito mesmo nas deploráveis condições de acesso existentes pelo que não conseguimos imaginar no que seria possível evoluir com uma conjuntura mais propícia no acesso ao posto náutico. Só com as condições melhoradas será possível manter um Remo Aveirense aberto e virado para a Cidade e Turismo.
Também não desistimos de pedir à cidade uma piscina que potencie o trabalho de excelência que o clube tem feito na natação. Sabemos que a conjuntura não tem ajudado, que os fundos comunitários não a incluem, mas estamos convictos que a cidade e a autarquia não aceitam passivamente a destruição definitiva das antigas piscinas municipais em Santiago sem terem alternativas consistentes. A recuperação da que ocupamos depende de um governante em Lisboa se dignar-se a perder dez minutos para assinar um protocolo muitas vezes negociado. Se calhar só vão olhar quando aparecer nas TVs de formato tabloide.
Existe a firme disposição da CM Aveiro em olhar com abertura e interesse para o projeto de uma nova instalação e a recuperação da nossa piscina.
Assim exista a mesma vontade por parte do governo.
* Presidente da direção do Galitos
Mensagem de Ano Novo do Clube dos Galitos 2019 – versão integral