É grande competência dos nossos treinadores no trabalho de campo, dos departamentos de scouting na descoberta de potenciais talentos a baixo custo, e do nível organizacional dos clubes, que vão permitindo que a nossa liga ainda se encontre entre as melhores ligas da Europa.
David Vinagreiro *
No final da partida respeitante à quarta jornada, na qual a equipa do Rio Ave venceu em Alvalade o Sporting, o seu treinador, Carlos Carvalhal, foi questionado sobre se a sua equipa teria como objetivo lutar por um acesso às competições europeias, tendo respondido a esta interrogação de forma bastante sóbria e abordando uma problemática presente no nosso futebol.
O timoneiro da equipa dos Arcos referiu que, devido à diferença de valor entre os quatro primeiros classificados e os restantes, e concedendo a nossa liga neste momento acesso às competições europeias apenas a quatro equipas, não é realista uma equipa mais pequena assumir claramente o acesso europeu como um objetivo fundamental.
Dada a diferença de valor e de orçamento existente entre Porto, Benfica, Sporting e Sporting de Braga, e as restantes equipas do nosso campeonato, as quatro primeiras posições da tabela classificativa estão, à priori, praticamente definidas.
Os clubes pequenos têm o desafio de ao longo da época medir forças com equipas que são construídas com orçamentos descomunalmente superiores.
Segue cada vez mais desigual a “competição financeira” dos clubes componentes da primeira liga portuguesa de futebol, em que até o Sporting de Braga, visto por muitos como o “quarto grande”, e tendo sido o clube que nos últimos anos tem conseguido fazer frente aos três principais clubes do país, possui um orçamento imensamente inferior a estes.
Os arsenalistas dispõem esta época de um orçamento de 25 milhões de euros, contra os 90 milhões de Benfica e Porto, e os 70 milhões de euros do Sporting. A média de orçamentos dos restantes 14 clubes do principal escalão é de cerca de cinco milhões de euros, ou seja, comparativamente aos clubes grandes, o salário de um ou dois jogadores, em alguns casos, seria suficiente para cobrir todo o orçamento de um clube.
É uma diferença abismal que poderia ter sido reduzida caso tivessem sido cumpridas as premissas do presidente da liga, onde os direitos das transmissões televisivas iriam ser divididos em semelhantes fatias por todos os clubes, tal como sucede por exemplo na Premier League.
Essa medida seria crucial para diminuir este fosso financeiro, e trazer mais equilíbrio à competição dentro das quatro linhas. No entanto não foi cumprido, e os excelentes contratos televisivos conseguidos pelos clubes grandes, vieram a acentuar ainda mais esta desigualdade.
Cada vez será mais difícil aos clubes mais modestos tentarem reduzir esta diferença, e se por vezes o conseguem, isto deve-se fundamentalmente à excelente capacidade de trabalho existente nos técnicos do nosso país.
É grande competência dos nossos treinadores no trabalho de campo, dos departamentos de scouting na descoberta de potenciais talentos a baixo custo, e do nível organizacional dos clubes, que vão permitindo que a nossa liga ainda se encontre entre as melhores ligas da Europa. Imagine-se então, com melhores condições financeiras e mais competitividade, onde se poderia chegar…
*Formado em Ciências do Desporto, treinador de futebol ([email protected]).