Sem a grandeza de receita de patrocínios que os clubes maiores conseguem garantir, e sem um número de sócios e adeptos comparável a estes, a quebra de receitas devido à ausência de adeptos no estádio poderá ser um fator ainda mais decisivo na sua falta de saúde financeira.
Por David Vinagreiro *
A atual conjuntura mundial, e o impacto da mesma no desporto e sua economia, trará a necessidade de efetuar reformulações de modo a garantir a sobrevivência desta industria.
Numa altura em que provavelmente veremos cair o atual presidente da liga de clubes, será importante que quem lhe suceda possa deter a coragem necessária para quebrar certos paradigmas instituídos, e seguir por um caminho que proteja a sobrevivência dos pequenos clubes.
Se até para os denominados grandes já não é simples obter contas positivas, e será difícil enfrentar a onda económica que se seguirá a esta pandemia, para os clubes mais pequenos a tarefa revelar-se-á mais árdua ainda.
Sem a grandeza de receita de patrocínios que os clubes maiores conseguem garantir, e sem um número de sócios e adeptos comparável a estes, a quebra de receitas devido à ausência de adeptos no estádio poderá ser um fator ainda mais decisivo na sua falta de saúde financeira. Sendo certo que a maioria dos clubes regista habitualmente números paupérrimos de assistências, o encaixe efetuado quando recebem os grandes é, por exemplo, uma almofada financeira bastante importante.
Urge cada vez mais que, quem assuma o lugar de Proença, tome o caminho que este já apregoava a quando da sua campanha, mas que acabou por não cumprir.
Falo, claro está, da partilha do bolo total das receitas televisivas por todas as equipas da liga. O que observamos de momento, são Porto, Benfica e Sporting a efetuar contratos milionários, alguns dos clubes médios a lograrem bons contratos, mas muitos dos clubes mais pequenos a receberem valores bastante mais baixos do que os seus competidores.
Um programa de partilha, à semelhança do que acontece por exemplo na Premier League, seria uma excelente solução para travar o cada vez maior aumento da distância entre os grandes e os restantes.
Negociando um valor total pelos direitos de transmissão da liga, seguidamente dividir-se-ia o “bolo” por todos os clubes, sendo que uma percentagem seria dividida em porções iguais, e outra consoante o mérito desportivo, ou seja, a classificação obtida no ano anterior. Assim, estar-se-ia a impedir que o fosso financeiro entre o campeonato dos “grandes” e o campeonato dos “outros” continue a amplificar-se, e simultaneamente estar-se-ia de igual modo a premiar o mérito desportivo.
Mais tarde, quando o futebol (e a vida no geral) retomar a sua normalidade, seria também importante a tomada de medidas que fomentem uma maior ida aos estádios por parte dos adeptos, de modo a aumentar o encaixe financeiro obtido pela vertente da bilheteira, mas também melhorar a própria imagem da liga para comercialização no exterior.
Uma maior regularização no valor dos ingressos, e uma melhor gestão dos horários das partidas, poderiam ser fatores importantes neste processo.
Resta-nos então esperar para ver quem sucederá a Pedro Proença no leme da liga, e se conseguirá dar seguimento ao também meritório trabalho deste, elevando a nossa liga para o patamar no qual temos todo o potencial para pertencer.
* Formado em Ciências do Desporto, treinador de futebol ([email protected]).