Finalizada a primeira volta do campeonato nacional, eis que chega a hora de efetuar o balanço da mesma, verificar quais os maiores destaques da primeira metade da época, e efectuar uma comparação com a época transata.
Por David Vinagreiro *
Observando a tabela classificativa, o maior destaque terá que, obviamente, ser concedido ao Sport Lisboa e Benfica, que possui por agora um registo praticamente imaculado. As águias apenas cederam pontos por uma ocasião, na derrota perante o Futebol Clube do Porto. Desprezando essa partida, os números são impressionantes, com registo de vitórias em todos os restantes encontros realizados.
Efectuando uma comparação com a temporada transata, o Sport Lisboa e Benfica possuía à décima sétima jornada apenas 38 pontos conquistados, menos 10 do que na presente época. Naquela altura, tinham cedido já três derrotas e dois empates, encontrando-se a cinco pontos dos dragões, e longe de imaginar a segunda volta de grande nível que iriam realizar.
O Benfica está portanto lançado para a conquista de mais um título, e apenas realizando uma segunda volta ao nível da primeira que concretizou na época passada, poderá permitir que o Porto o destrone.
Quanto aos dragões, têm por esta altura menos dois pontos arrecadados do que na décima sétima jornada de 2018/2019, tendo cedido mais um empate. A falta de eficácia em algumas partidas, à semelhança do que se verificou na época passada, levou a perdas de pontos que poderão conduzir a mais um ano sem conquistar o principal troféu do nosso país.
Nas restantes competições, aí sim, os dragões apresentam um excelente percurso, chegando à final da Taça da Liga, estando nas meias-finais da Taça de Portugal, e tendo terminado a fase de grupos da Liga Europa no primeiro posto. Na europa, havia surgido a primeira frustração da época, ao não lograr a passagem à fase de grupos da Liga dos Campeões.
Além dos dragões, também o Sporting Clube de Portugal e o Sporting Clube de Braga estão a realizar uma época menos conseguida ao nível de pontos angariados, estando os leões com menos seis pontos conquistados e os braguistas com menos dez.
No que concerne aos leões, a questionável planificação do plantel para atacar a presente temporada, limita as opções que o seu treinador tem ao seu dispor ao nível de qualidade, e não favorece a competitividade do plantel, fator essencial para potenciar a motivação e, consequentemente, o maior rendimento e desenvolvimento dos jogadores.
A troca de treinador logo nas primeiras jornadas também não contribuiu para a estabilidade que o Sporting tanto necessita neste momento delicado da sua história.
No Sporting de Braga, o plantel é bastante equilibrado e completo em relação a quantidade/qualidade, dispondo o mesmo de pelo menos dois jogadores de qualidade assinalável para cada posição do terreno. Neste caso, a aposta no treinador que iniciou a temporada parece não ter sido a mais acertada, não conseguindo este retirar o melhor rendimento da matéria-prima de que dispunha.
Apenas o trajeto europeu foi adiando a sua saída do clube, que se adivinhava que iria suceder mais cedo ou mais tarde. A troca de Sá Pinto por Ruben Amorim, pelo menos no imediato, parece estar a surtir resultado, e resta saber se este conseguirá transmitir à equipa uma forma de jogar que consiga potenciar da melhor forma os jogadores de grande qualidade de que dispõe, e consiga conduzir a melhores resultados na segunda volta, para assim tentar atacar um lugar no pódio.
O principal rival dos arsenalistas, o Vitória Sport Clube, possui muito provavelmente um melhor plantel do que na passada época, e tem apresentado uma qualidade no seu jogo que tem sido fortemente elogiada pela crítica.
Com um plantel bastante equilibrado no número de opções e qualidade das mesmas, com vários jogadores que são unanimemente considerados “jogadores de clube grande”, os vitorianos têm a presentado um excelente futebol, mas se nos focarmos nos pontos conquistados, verificamos que possui neste momento menos três do que na temporada transacta.
A falta de eficácia na concretização ofensiva em alguns momentos tem sido uma das fragilidades da equipa, não conseguindo por vezes fazer coincidir as exibições com os resultados. Na presente época conseguiu também alcançar as meias-finais da Taça da Liga, e deixou uma boa imagem num difícil grupo na Liga Europa.
Esta quebra de pontos verificada em todas estas equipas, abriu espaço para aquela que é até ao momento, a maior surpresa da época, o Famalicão. A equipa recém-promovida ao primeiro escalão, construiu um plantel de grande qualidade, com bastantes jogadores provenientes da formação de grandes clubes europeus, com o objetivo de servir de montra para estes. O seu técnico, João Pedro Sousa, é também um estreante, tendo a sua primeira experiência como treinador principal, após ter sido adjunto de Marco Silva.
Até a este momento, a estreia está a ser deveras positiva, terminando a primeira volta no último lugar do pódio, com registos de clube grande. A equipa tem neste momento 31 golos marcados, sendo o terceiro melhor ataque da prova. O registo defensivo, acabou por ser a sua maior pecha, mas mesmo assim terminou a primeira metade do campeonato com mais dois pontos do que o Sporting (4º classificado), e mais quatro pontos do que o Braga (5º classificado).
Sendo discreto nos objectivos traçados, o Famalicão afasta qualquer tipo de pressão sobre os seus resultados, e esta fórmula tem sido de sucesso.
Encontrando-se no ponto onde se encontra, os famalicenses não deixarão de querer lutar por um lugar de acesso à Europa, mas no entanto, nada apagará já o brilho do percurso efectuado até ao momento, mesmo caso a segunda volta não venha a ser ao nível da primeira. Além do campeonato, logrou também a chegada às meias-finais da Taça de Portugal, onde irá discutir com o Benfica o acesso à final, que fecharia com chave de ouro esta época de sonho.
Por fim, outra nota a assinalar é o percurso do Gil Vicente, outro recém-promovido, e que teria supostamente uma tarefa mais árdua devido a uma subida de dois escalões conseguida na secretaria, após uma temporada em que não competiu oficialmente.
No entanto, Vítor Oliveira encontra-se a realizar mais um excelente trabalho, e os gilistas seguem por agora num tranquilo oitavo lugar, com 22 pontos conquistados. A continuar assim, conseguirão provavelmente assegurar a permanência na liga bastante mais tranquilamente do que aquilo que se esperaria.
* Formado em Ciências do Desporto, treinador de futebol ([email protected]).