A guerra tecnológica entre os EUA e a China está ao rubro. A acesa competição envolvendo as duas maiores economias do mundo passa, em boa medida, pela formação e captação de talento, em particular nas engenharias de ponta.
Por Alexandre Meireles *
De tal forma que, no final de 2022, o presidente dos EUA Joe Biden assinou uma lei que impede os cidadãos norte-americanos de exercerem exercer funções em empresas chinesas de desenvolvimento ou produção de chips, sem que tenham uma licença para tal.
Por outro lado, a China tem investido massivamente na formação de engenheiros. De acordo com a UNESCO, em 2018, foram formados cerca de 1,8 milhões de engenheiros no território chinês, o que representa quase 40% do total mundial naquele ano. Além disso, a China tem atraído mutos engenheiros asiáticos para as suas empresas tecnológicas e centros de inovação, inclusive do Japão. Está, de facto, a ser criada na China uma ampla massa crítica nas áreas mais sofisticadas das engenharias, tendo em vista a modernização da economia do país e, claro, ganhar terreno aos EUA na competição tecnológica.
A engenharia de hoje é marcadamente interdisciplinar, ou seja, um território aberto ao cruzamento de diferentes especialidades. Neste pressuposto, é particularmente interesse a interseção dos vários domínios da engenharia e a interseção da engenharia com outros campos do saber, como a biologia, a medicina, a genética, a comunicação, o multimédia, a arquitetura ou até a arte.
Com esta interdisciplinaridade, a engenharia está mais bem capacitada para responder aos desafios da inovação empresarial. Como sabemos, a dinâmica empresarial contemporânea exige a criação de valor a partir do conhecimento. E muito desse conhecimento de que as empresas necessitam provém das diferentes engenharias, que por isso assumem um papel crucial na competitividade do tecido produtivo.
Isto diz bem da responsabilidade da engenharia no desenvolvimento socioeconómico de Portugal. No atual contexto económico, a inovação é provavelmente o fator mais importante para a competitividade portuguesa à escala global. Ora, a inovação implica conhecimento e a engenharia, pela sua capacidade de desenvolver métodos e tecnologias sofisticadas, é a fonte de muito desse conhecimento que qualifica as empresas. Associado à engenharia estão recursos humanos altamente qualificados, know-how técnico-científico, capacidade de realização e meios tecnológicos com manifesto interesse económico.
Por outro lado, a nova geração de engenheiros portugueses está mais predisposta a criar o seu próprio emprego, a partir de projetos de empreendedorismo de base tecnológica. A qualidade da nossa formação superior em engenharia garante, sem dúvida, competências adequadas à atividade empreendedora. Isto é o mesmo que dizer que os nossos jovens engenheiros dispõem de conhecimento convertível em valor empresarial, designadamente em setores de grande potencial económico como a bioengenharia, os materiais, as TIC, a robótica, as energias ou o ambiente.
Portugal, que é um dos Estados-membros da UE com o maior grau de inadequação das competências às necessidades das empresas, devia assumir como desígnio a formação de mais engenheiros em áreas estratégicas para o desenvolvimento do país. É preciso um forte investimento no ensino, investigação e inovação em engenharia para que as nossas empresas tenham talento e conhecimento para desenvolverem novos produtos, serviços e tecnologias com interesse para o mercado. Só assim poderemos criar maior valor acrescentado e ser mais competitivos nos setores de elevada especialização.
* Presidente da ANJE- Associacão Nacional de Jovens Empresários. Artigo publicado originalmente em Linktoleaders.com.
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