Não tenhamos dúvidas que a economia vai demorar a recuperar, esta é uma crise particularmente especial, não só pelas suas características, mas também e sobretudo pelo efeito global que causa.
Paula Coutinho *
O Covid-19 veio para ficar! Pelo menos até existir uma vacina que permita debelar esta pandemia. Até lá temos de saber conviver com um inimigo invisível, um inimigo de todos nós, que não escolhe idades, extratos sociais e sexo.
Poderemos dizer que se assemelha à crise espanhola vivida há 100 anos atras? Talvez, mas, independentemente disso, temos de usar as lições aprendidas daí para evitar catástrofes maiores. Temos de ser pacientes e ao mesmo tempo resilientes, temos de ser tenazes e ao mesmo tempo criativos.
Vivemos agora uma crise de saúde pública global, que afetou, que afeta o mundo e que traz para além das perdas de vidas humanas, danos colaterais:
» A Crise na saúde – o desleixo, a falta de cuidados para outras patologias que não deixam de existir em plena pandemia. Temos de encontrar o equilíbrio, para que não morramos – quer da doença, quer da cura;
» A Crise Social – estão a aumentar as desigualdades sociais alargando o fosso entre as classes, o que se exige é que o estado seja forte com os fortes e colaborativo com os fracos. Nestes tempos em que os rendimentos são obsoletos, em que as pessoas têm medo do fim do mês, em que o lay off é uma realidade a nível nacional, a qual não está ajustada às prementes necessidades da economia, que urge por liquidez. As pessoas, e as empresas vão ter de fazer mais com menos, vão ter que se reajustar, exige-se mais social;
» A Crise económica – O vírus da economia & o vírus do medo. Infelizmente é inevitável que estes dois “vírus” se instalem. O medo do futuro, dos tempos incertos vão acabar por se apoderar do ser humano, que não vai ter só medo do Covid-19, como também da incerteza, da falta de confiança na economia, em saber gerar riqueza, do nível do consumo interno, o que pode levar a retração em investir e é aí que se instala o “vírus” na economia;
Nos últimos anos o que sustentava a economia portuguesa era o turismo, não havia lugar de norte a sul, com especial incidência no sul que não tivesse turismo, e isso ajudou o nosso país a viver.
Porém, a realidade agora é outra e até voltarmos aos índices atingidos antes desta crise ainda vai demorar alguns anos, diria, talvez sendo otimista, uns três anos. Até lá temos de arranjar forma de criar confiança no mercado, de tirar proveito desta crise para encontrar nichos de mercado que recupere a taxa de desemprego que já se está a verificar.
Não tenhamos dúvidas que a economia vai demorar a recuperar, esta é uma crise particularmente especial, não só pelas suas características, mas também e sobretudo pelo efeito global que causa. E Portugal, devido à sua dependência externa – dado que importa mais do que exporta – está especialmente exposto às mutações externas e ao seu desenvolvimento, aplica-se aqui, sem forma de dúvida o efeito dominó para a retoma económica.
A economia vai retrair devido ao vírus medo, as pessoas vão ter temor em consumir, em viajar, em mudar de carro, casa, etc.. Temos de reverter a situação, dando confiança à população, recuperando o turismo, investir na agricultura, sobretudo na de subsistência, e aumentar as exportações. Apoiar as empresas Portuguesas, apoiar o que se faz bem em Portugal.
Mas em cada crise, há uma oportunidade, e é essa oportunidade que temos de alcançar para que consigamos sair mais fortes e com maior rapidez deste momento de impasse.
Soube-se há pouco, através de uma notícia dos meios de comunicação social que Portugal já está a exportar máscaras – isto é saber adaptar-se aos novos tempos, é fazer uma análise Swot, é trabalhar no sentido de colmatar as falhas existentes no mercado, e é isso que o tecido empresarial tem de fazer – adaptar-se.
O teletrabalho vai ser uma realidade, os serviços online, vão aumentar, vamos ter que nos adaptar e aprender a viver online. É certo que perdemos postos de trabalho em determinadas áreas, mas também é certo que ganhamos postos de trabalho noutras áreas, só depende de nós.
A convivência social e a forma de estar vai ser um desafio maior. O português por si só é um povo afetuoso, que gosta de receber de acarinhar, de abraçar. Poderão haver muitas formas de ultrapassar esta necessidade que corre no sangue latino.
Lembremo-nos que a saudade é um termo português, que o fado que transborda, que nos deu a conhecer além-fronteiras, fala dos sentimentos, da forma de estar e sentir que tanto nos carateriza. Acredito, quero acreditar, que o amor vai resistir e vamos ultrapassar esta fase, com mais amor ainda para dar e receber. Acredito que vamos continuar a sentir, a saber dar e receber, sem por em causa o próximo.
A Política e a forma de fazer política tem de ganhar outra dimensão, recordamos que em 2021 vamos ter eleições presidenciais e autarcas, e, muito provavelmente, nessa altura ainda não teremos a solução para o vírus Covid-19, portanto, é importante, é imprescindível chegar às pessoas, às mulheres aos homens que decidem o futuro do país, do nosso concelho.
E é aí que temos de apostar no digital, que é sem dúvida a forma mais eficaz e rápida de chegar aos cibernautas. Mas lembremo-nos que nem todas as mulheres e homens tem internet e acesso às redes sociais e é neste momento que a nossa criatividade é posta à prova, voltando aos tempos do correio postal, da personificação da nossa mensagem a cada Cidadã e Cidadão.
Vivemos tempos difíceis, jamais imaginados, quer por nós, quer pelos nossos pais, é tempo de arregaçar as mangas e ir à luta, acreditar num mundo melhor, em que nós somos os protagonistas de fazer o bem, pensar mais no próximo e no bem comum.
Exige-se um Estado cooperante, menos show off e mais social, que tem de liderar pelo exemplo. Não pode abrir exceções para manter a geringonça e a sua sobrevivência política.
Em suma, o País, a Europa, o Mundo tem que se reinventar. A forma de estar na sociedade, de fazer política, de comercializar tem que se adaptar aos novos tempos, julgo que este momento de reflexão, pelo qual todos passamos e ainda vamos passar, nos irá ajudar a tornar a inventar uma forma de estar, de ficar em sociedade.
* Presidente da concelhia do PSD de Sever do Vouga (artigo publicado originalmente no blog O Futuro Começa Hoje, dinamizado pela concelhia do PSD de Oliveira de Azeméis).