O presidente da Câmara de Aveiro gostaria de ter visto explicada a saída de Francisco Picado, deputado do PS, do conselho de administração do Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV), aquando de recentes alterações na equipa liderada por Margarida França.
Ribau Esteves falou do assunto mais claramente no final do debate das contas do exercício de 2020, na última Assembleia Municipal (AM), depois de apontar “erros de contas” do vogal socialista em alguns números referidos sobre os encargos previstos nos projetos do Rossio e de novo ferry. No primeiro caso, disse que é preciso abater o pagamento do concessionário e de comparticipações (4,6 milhões de euros) e no segundo também existem verbas de fundos europeus a receber.
“Compreendo a sua baralhação, que é um clássico, mas nos últimos tempos é um bocadinho mais agravada”, afirmou o edil, dirigindo-se ao eleito do PS que teve a seu cargo, como é habitual, intervenções relacionadas com o desempenho financeiro e económico da Câmara.
Num momento anterior, Francisco Picado, confrontado com outros reparos, ainda nas entrelinhas, sobre a saída do cargo de administrador do hospital, ironizou dizendo-se “sensibilizado” por o edil estar “extremamente condoído”. Avisou, contudo, que “as fontes de informação” sobre o seu “retiro espiritual” (palavras do presidente) estavam “avariadas”.
Ribau Esteves manteve e começou a concretizar o que estava na base da troca de palavras quase codificada com o deputado do PS, criticando a falta de esclarecimentos públicos sobre a não recondução do mesmo no cargo hospitalar: “As minhas fontes foram suas durante muito tempo. Sou uma pessoa respeitadora das relações institucionais, mas também exigente daqueles que são servidores do Estado, que deixam de ser de repente e não prestam contas a ninguém; isso contesto, serviço público não é só relevante quando se entra, mas quando se sai, quando se prestam contas como estamos a fazer”, disse.
Discurso direto
“Invocou a minha pessoa em funções que não têm nada a ver com o que desempenho aqui, em termos de cargos públicos; e mais, insinuou que eu cessei as minhas funções sem prestar contas. Fique sabendo – é um protesto, com declarações lavradas em ata, para os efeitos que bem entender dar-lhe no futuro – , fique sabendo que prestei contas a quem tive, e tenho de prestar, no exercício dessas funções. E pode estar o senhor descansado que assumo a responsabilidade de todos os meus actos como sempre o fiz no exercício de funções públicas. O que tem de meter na cabeça é que não sou seu lacaio. E a si, nas funções que desempenhei, não lhe presto contas nenhumas. Não lhe admito que volte a tecer insinuações dessas aqui, se tem alguma coisa a dizer, a apresentar ou se acha que tem o direito ou o conhecimento como cidadão que não prestei as contas que devia, faça o favor ir no sítio no certo colocar essas questões e não insinue” – Francisco Picado (deputado do PS).
“Queria só explicar aos cidadãos que não perceberam o que se passou aqui com o senhor Francisco Picado. Sei que é a excitação, o meu amigo vai ter de resolver o problema. O tempo também ajuda a sarar as feridas. Para as pessoas perceberem porquê: porque não foi notícia, foi escondido das pessoas que o dr. Francisco Picado não foi reconduzido como administrador do CHBV; foi notícia que a senhora presidente e mais duas pessoas foram reconduzidas foi notícia que o direitor clínico, Frederico Cerveira, excelente pessoa a quem só temos de agradecer, pediu para sair, também está à beira da reforma, mas não foi notícia que Francisco Picado, militante do PS não foi reconduzido pelo seu próprio Governo e partido. É só para as pessoas saberem o que está em causa, quanto a contas eu não falei de contas financeiras. É importante na política quando entramos dizer que entramos e quando saímos dizer que saímos. E escondeu-se isto. Não houve jornalista nenhum, não houve ninguém que dissesse isto. Porquê ? É chato não ser reconduzido, ainda por cima quando é o nosso partido que diz não, um abraço” – Ribau Esteves, presidente da Câmara.
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