Terá quem nos governa a noção de que se nada se fizer, corremos o risco de metade das empresas florestais já não existirem no final deste verão?
Por Pedro Serra Ramos *
Assistimos nos últimos dias a um agravamento das condições que podem potenciar o aumento do risco de incêndio. De imediato os nossos governantes optaram, mais uma vez, por proibir a circulação e a realização de trabalhos em espaços florestais e/ou rurais.
Numa situação em que toda a ajuda é pouca, e se reconhece que a primeira intervenção é fundamental para o combate dos focos de incêndio, numa fase inicial, afastam-se indiscriminadamente as empresas que, habituadas ao seu território, que conhecem melhor do que ninguém, contribuem de alguma forma para a remoção do combustível presente nos locais e que quase sempre constituem parte da primeira intervenção. Gente formada e equipada que protege e defende a floresta sempre. É óbvio que há trabalhos que, pela sua natureza, têm de parar.
Mas também é óbvio que há trabalhos que até ajudam na redução do risco de incêndio, através da remoção de combustível ou da limpeza das áreas associada às preparações de terreno. Estaremos em condições de desperdiçar estes recursos?
As empresas florestais, através da criação e manutenção da floresta, são as principais responsáveis no combate às alterações climáticas, que constitui hoje o principal problema na base do aumento do risco de incêndio.
A ANEFA – Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente apresentou em 2020 aos nossos governantes um conjunto de medidas, que visavam ajudar a aprender a viver com esta realidade, sem que se tomassem medidas cegas em relação a quem trabalha nas áreas florestais. Apenas meia medida apareceu espelhada no Dec. Lei 82/2021, sabendo-se desde logo que em situações muito graves, tal medida seria ultrapassada por um Despacho, como veio agora a acontecer.
Terá quem nos governa a noção de que se nada se fizer, corremos o risco de metade das empresas florestais já não existirem no final deste verão? Estamos a falar de pelo menos 1000 empresas de forma direta, que empregam no mínimo, cerca de 8 000 pessoas.
As empresas atravessam hoje graves dificuldades, por via do aumento dos combustíveis e dos custos dos fatores de produção. Não conseguirão suportar qualquer paragem, como a que nos está a ser imposta, sem que haja uma compensação do serviço que estamos a prestar à sociedade. Existem salários, empréstimos e impostos que teremos de liquidar no final do mês. Perguntamos, como o vamos fazer se estamos proibidos de trabalhar?
É urgente encontrar soluções, a curto e longo prazo, e a ANEFA teve o cuidado de as apresentar em tempo certo, e estaremos sempre na disposição de nos voltarmos a sentar à mesa para as discutir.
Mas não podemos aceitar a indiferença de quem nos governa, como se neste processo as empresas florestais pura e simplesmente não existissem. Tal como referimos em 2020 estamos a caminhar para o encerramento do setor florestal, e as contas de silvicultura apresentadas pelo INE recentemente são a prova disso. E sem floresta como vamos viver?
* Presidente da direção da ANEFA – Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente.
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