A 15 de Dezembro de 1997, sob a direção de Fernando Eldoro, a Orquestra Filarmonia das Beiras fazia a sua estreia. Efeméride aproveitada para o atual diretor artístico e maestro António Vassalo Lourenço fazer um ponto de situação ao fim de 20 anos.
A Orquestra Filarmonia das Beiras (OFB) comemora o 20º aniversário…
… um marco importante. Uma orquestra portuguesa chegar aos 20 anos é sempre de assinalar. Meritório para uma orquestra regional. De facto, a 15 de dezembro de 1997, a Orquestra Filarmonia das Beiras (OFB) deu o seu primeiro concerto.
É a segunda da rede de orquestras regionais. A do Norte começou cinco anos antes, a do Sul, que se chama hoje Orquestra Clássica do Algarve, começou cinco anos depois. Felizmente estão as três em atividade.
Sinal que vingaram, têm atividade e publico.
É um bom sinal. Por duas razões: primeiro, no nosso universo, não temos uma história antiga, nem com muita continuidade, ao contrário das grandes orquestras europeias, que têm centenas de anos, as portuguesas ficam-se pelas décadas. É bom que uma orquestra atinja os 20 anos; e pelo segundo motivo, porque trata-se de uma orquestra que não está nos grandes centros, em Lisboa e no Porto.
Mesmo as orquestras sinfónicas, como as conhecemos são relativamente recentes, ainda que herdeiras de outras que existiram.
Saber que estas três orquestras regionais sobrevivem, mesmo com todas as dificuldades, é muito importante.
Muito. Em particular, nas Beiras, onde, essencialmente, fazemos o nosso trabalho e desenvolvemos a nossa missão, que é levar esta música, este partimónio riquíssimo da cultura europeia, às pessoas. Mas também trazer as pessoas até nós, que é outra das nossas missões e desafios, temos conseguido fazê-lo. A par de outras atividades importantíssimas, como a nossa açao junto das escolas de ensino música, de dinamização da formação, de divulgação de jovens valores, temos estudantes de música a iniciar carreiras, a par da formação de públicos, sobretudo junto dos mais jovens, para que tenham acesso a esta música que não é tão fácil, não entra todos os dias em casa. Se não fizermos este esforço ser difícil chegar às pessoas. Acreditamos que é um valor importante e que as população vão enriquecer culturalmente tenho acesso a ela.
Satisfeitos com as duas décadas ?
Naturalmente, estamos muito contentes por atingir esta data. Podemos dizer que a orquestra afirmou-se no seu território, mas também a nível nacional, é requisitada para eventos de música e festivais pelo país.
Estamos muito contentes com a data, é motivo de satisfação e também de responsabilidade. Quer dizer que o nosso trabalho está a dar frutos, mas o desafio para o futuro ainda é maior, de continuar, procurar novos desafios, para tornar o projeto musicalmente na oferta que tempos para as pessoas.
Foi um parto difícil, que a dado momento desafinou, por assim dizer, tendo sido necessário uma refundação.
Foi um momento sempre difícil, mas talvez tenha sido indispensável para que a orquestra hoje possa estar como está, afirmou-se na sua região.
Infelizmente não é caso único. Muitas orquestras passaram pelo mesmo. As outras orquestras regionais passaram pelo mesmo.
A ideia inicial não era má, mas as condições dadas eram insuficientes. Foi preciso a certa altura do percurso emendar, mexer nas estruturas, o que não foi fácil. Mas foi possível, tivemos um hiato entre 2004 e 2005. Uns meses que permitiram regressar em força, após uma reorganização, que permitiu viabilizar o projeto. Era o mais importante.
A Universidade de Aveiro passar a liderar, foi importante?
A universidade e todos os outros parceiros, associados, são importantes. O apoio do Estado é indispensável, mas não chega. Todo o apoio dos municípios e instituições da região é importante.
A ação da universidade é a mais significativa, mas também é uma instituição que beneficia muito de existir aqui a orquestra, não só para as suas atividades próprias lúdicas, mas também para formação dos cursos de música. Posso dizer que tem sido objeto de case study, de atenção, não só pelo ministério do Ensino Superior como do ministério da Cultura, enquanto exemplo de boas práticas. É benéfico para as duas instituições em função de um bem maior que é a divulgação e o ensino da música. Obviamente, a Filarmonia sem universidade seria muito menos forte, com menos possibilidades de fazer o trabalho que faz. E a universidade, os seus cursos de música, sem a Filarmonia ficariam mais coxos, com menos condições para desenvolverem o ensino de música de forma mais completa. Esta ligação tem sido muito importante, de liderança da universidade. Mas todos os associados uniram-se, o Estado continuou a apoiar.
O programa de espectáculos é suficiente para viabilizar a orquestra.
Cerca de 70 por temporada. Existem períodos com mais concertos, como acontece desde novembro a janeiro. Praticamente não paramos, por vezes com dois programas. É um trabalho intenso, de ensaio e espectáculos. Pelos fins de janeiro e até julho, retoma em força basicamente sem interrupções. Tem trabalho regular, às vezes não consegue dar resposta a todas as solicitações. Fazemos alguma ginástica nesse sentido. Estamos a ultimar a temporada até ao Verão. Perspetivo meses normalmente bem.
Com uma apresentação em grande, na Meo Arena, pelo meio.
Não é missão este tipo de espetáculos. Agora é importante para a orquestra, são momentos diferentes, música diferente. Dá uma satisfação diferente, também porque chegamos a um público maior, é diferente tocar para 11 mil pessoas no Meo Arena, como vai acontecer em maio, 90 elementos, com o concerto com a música ao vivo de Harry Potter e a Pedra Filosofal.
São desafios maiores, tanto em termos musicais, como de produção, participar em grandes produções internacionais.
Temos de dar respostas a um nível mais exigente, com uma logística enorme. A nossa estrutura é pequena, 23 músicos de cordas efetivos, mas ágil também. Quando precisa de aumentar, fá-lo sem problemas.
Qual o futuro da OFB ?
Continuar com a nossa missão. Penso que se continuar a correr como tem acontecido, e estamos satisfeitos, a conquistar público, a ajudar jovens valores no ensino, provavelmente teremos uma fase de crescimento, sempre com ideias novas, mantendo o nosso rumo o futuro só pode ser bom.
Vê mais público com a orquestra ?
Sim. Não tenho dúvidas onde estamos assiduamente temos já o nosso público. Em Aveiro isso acontece, independentemente do reportório ou do solista que puce mais gente. É trabalho feito desde há 20 anos, esgotamos salas com mais probalidade. Existem concelhos onde temos públicos fiel, Albergaria-a-Velha vimos isso. Não acontecia no início. Em Leiria, vamos com muita regularidade. A Viseu. Sentimos que criámos o nosso público. Aos poucos, em outros locais, vamos chegando lá. Os parceiros sabem que estes resultados não se alcançam rapidamente, é normal. Temos um caminho para fazer, é preciso acreditar.