A Europa presenciou diferentes movimentos de migração forçada a nos últimos anos. Esses movimentos são constituídos por uma população geralmente jovem, sendo que uma percentagem interrompeu os seus estudos universitários ou está em condições de integrar o ensino superior no país de acolhimento. Está (mesmo)?
Por Sílvia Melo-Pfeifer *
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Dados de 2020, do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), revelam que apenas 1% dos jovens refugiados em idade de frequentar o ensino superior o faz, em comparação com 34% dos jovens em todo o mundo. Enquanto o senso comum poderia imaginar que o maior obstáculo para a integração no ensino superior seria a língua, devido à construção de competências linguísticas ainda em curso, os estudantes universitários com experiência de refúgio e exílio na Europa descrevem um panorama de dificuldades mais complexo e multifatorial.
No âmbito do projeto Europeu Erasmus Plus AGILE (“Higher Education Resilience in Time of Crisis”), coordenado pela Université Paris 8), 160 estudantes universitários com estatuto de refugiado responderam a um questionário on-line acerca das suas experiências académicas, em 2023.
A par das dificuldades linguisticas – não só na língua oficial do novo país, mas também em outras eventuais línguas de ensino, como o inglês – os estudantes refugiados no ensino superior declaram dificuldades económicas, de alojamento e de compreensão da nova cultura académica em que se encontram. Adicionalmente, referem dificuldades de reconhecimento das suas competências e percursos académicos prévios, assim como obstáculos administrativos a esse reconhecimento, o que os leva a mudanças mais ou menos abruptas nas suas aspirações e nos seus percursos profissionais.
Muitos estudantes referem a constante pressão de terem de recomeçar tudo de novo, a cada nova relocalização forçada. E finalmente, os estudantes mencionam questões emociais relacionadas com a imprevisibilidade da situação nos seus países de origem, a separação familiar e a insegurança de muitos membros das suas famílias (sobretudo em contextos de guerra), a vivência de situações de racismo e de exclusão, e a instabilidade do seu próprio estatuto administrativo no país de acolhimento.
Um repto lançado às universidades de acolhimento pelos estudantes que responderam ao questionário: a construção de espaços de socialização com os estudantes e comunidades locais, para favorecer a integração pela aprendizagem e utilização informal da língua.
* Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Professora da Universidade de Hamburgo. Artigo publicado originalmente no site UA-pt.
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