A cidade precisa que o plano estratégico não seja unicamente um papel feito por gravatas e canetas no terceiro andar de um escritório.
Por Sara Tavares *
Em Aveiro, há muito que a estratégia a nível cultural é quase inexistente, instável e muito pouco consolidada.
O pretexto da candidatura a Capital da Cultura 2027 será, sem dúvida, uma oportunidade para mudar este paradigma.
Contudo, é claro que ao longo dos tempos os vários agentes culturais tentam fazer o seu papel, dar o seu contributo da melhor forma possível, uma vez que, quer queiram quer não, são maioritariamente influenciados nas suas escolhas programáticas com a falta de financiamento.
Ora, segundo o plano estratégico para a cultura de Aveiro, este terá que ser construido de forma ativa, participada e partilhada; terá que abarcar a diversidade cultural que carateriza a cidade, como também o país.
O financiamento deverá ser um dos aspetos trabalhados, não obstante, aquilo que me parece essencial será o estabelecer de redes.
Vejo com muito bons olhos passos a serem dados por alguns agentes, a título de exemplo o GrETUA, que assinalou os seus 40 anos de existência saindo da sua casa, estabelecendo pontes com outros agentes, nomeadamente o Mercado Negro, o Cineteatro Avenida e o Teatro Aveirense.
Por outro lado, preocupa-me o facto de que o Festival dos Canais já contou com a sua terceira edição em 2018 e não consiga ainda garantir parcerias que permitam que o público de freguesias como S. Jacinto, Nossa Senhora de Fátima e Nariz tenham transporte assegurado para poderem ter a possibilidade de marcar presença nos concertos.
Quem organiza tem conhecimento desta lacuna, espero, efectivamente, que seja colmatada nas próximas edições.
Voltando às redes, parece-me igualmente positivo que a programação do Teatro Aveirense tenha vindo a incluir espetáculos protagonizados por artistas de Aveiro. Traz público à casa, divulga trabalho, capacita aveirenses.
No entanto, há muito, muito a fazer! A cidade precisa, na minha perspectiva e como assídua consumidora da cultura aveirense, que este plano estratégico não seja unicamente um papel feito por gravatas e canetas no terceiro andar de um escritório.
Acho extremamente essencial que a participação artística seja efectiva, desde o que pisa o palco, ao que trata da luz ou o que estica os cabos.
Todos terão a sua visão, o seu contributo a dar. O público esse, só terá a ganhar, bem como a cidade.
Assistirei atentamente à evolução deste plano e espero sinceramente, que Aveiro tenha a capacidade de o gerir de forma a que ultrapasse esse estatuto.
* Professora, vogal do PS na Assembleia Municipal de Aveiro.