O comandante Armando Santos, responsável pela segurança do Porto de Aveiro, fala dos riscos da movimentação de cargas, da prevenção e dos planos de emergência.
Entrevista difundida pela Rádio Voz da Ria / Espaço da Comunidade Portuária de Aveiro
Em que pilares, ao nível de planeamento, que é indispensável para resposta em caso de acidente, assenta a segurança portuária ?
A divisão de segurança tem várias componentes, nomeadamente a parte da proteção, com o plano diretor no âmbito do código ISPS e o plano de segurança interno, de que faz parte o plano de prevenção e medidas de autoproteção. Na parte da emergência temos o plano de emergência interno. Os planos são testados para tornar o porto seguro.
É um porto que está a crescer, aumentou a sua capacidade. Tem um ramal ferroviário, os cais, há muito trânsito de mercadorias, algumas de dimensões significativas.
Temos procurado manter reuniões regulares com as empresas. Criámos reuniões de segurança dos operadores do terminal de granéis líquidos, com os responsáveis de segurança. Procuramos discutir os assuntos inerentes à segurança e implementar conjuntamente melhorias.
A dinâmica portuária tem implicações ao nível de segurança.
O Porto de Aveiro tem recebido novas empresas. Muitas das medidas de segurança são implementadas na fase inicial, de projeto e instalação. Um projeto bem executado é meio caminho andado para as operações decorrerem bem. Acompanhamos desde o início, aquando do licenciamento das várias entidades. Depois damos acompanhamento nas reuniões regulares.
E o porto em si ?
Na parte de emergência, o plano interno está numa plataforma de que fazem parte os planos de emergência das várias empresas a operar no porto. Fazemos juntos os exercícios. Os relatórios permitem o retorno de informação para a eventual melhoria de procedimentos.
Os simulacros são úteis para manter a prontidão de resposta.
As empresas por si estão abrangidas por obrigações legais de fazer exercícios, nomeadamente pela diretiva Seveso.
Nós acompanhamos, a par das outras autoridades como a Proteção Civil, a Autoridade Marítima, etc.
Fazemos exercícios de conjunto para testar o nosso plano de emergência interno. Estamos periodicamente em formação, temos uma equipa preparada para casos de incêndios, pronta para o combate inicial. Trabalhamos para ter um bom nível de desempenho.
Ao longo da sua existência o porto já teve acidentes graves com navios, como aconteceu em 1999, causando duas mortes. A rutura causada no pipeline por uma draga. Incêndios em zonas portuárias e acidentes rodoviários mais recentemente. Existem sempre riscos de derrames.
Estamos preparados e trabalhamos para reduzir os riscos, por isso fazemos os treinos, conjuntamente com os restantes atores envolvidos, temos um protocolo com os bombeiros de Ílhavo e Aveiro, que dão sempre um nível de resposta muito aceitável, pelo que vemos nos exercícios.
“Na chamada ‘sala de crise’, estamos a estudar optimizar os meios”
Naturalmente há sempre melhorias que podem ser feitas.
Sim. Em termos de comunicações, na chamada ‘sala de crise’, estamos a estudar optimizar os meios, na integração dos sistemas de comunicação, da receção das camaras de vídeo, para ter a melhor informação em situação de crise. Estamos a investir nisso.
É da responsabilidade das empresas terem estrutura própria para dar uma resposta inicial. Se extravasar as suas instalações ativámos o nosso plano, se sair do porto é a Proteção Civil Municipal.
À semelhança do que acontece com a segurança do terminal de granéis líquidos, com as reuniões de segurança com os responsáveis das empresas, vamos reativar a comissão de segurança e higiene de trabalho no terminal Norte e no terminal de granéis sólidos. É essencial os responsáveis falarem para encontrarem juntos as melhores soluções de segurança. A circulação num terminal portuária tem de ser bem organizada. Os equipamentos pesados, os empilhadores, têm prioridade; as pessoas precisam de circular com alta visibilidade, as velocidades têm de ser controladas. Com cultura de segurança, o risco decresce significativamente.
Os corpos de bombeiros que fazem parte do vosso plano de emergência têm os meios adequados ?
Temos o protocolo, na segurança gostamos de ter sempre o melhor, mas nem sempre é possível. Na área de intervenção em caso de acidente químico penso que os equipamentos podem necessitar de uma atualização. Surgiram novos equipamentos, avanços tecnológicos que devem ser tidos em conta.
Um porto com tráfego de mercadorias sempre a crescer nos últimos anos. Exigência de rapidez de movimentação de carga. A segurança sente-se pressionada?
Temos mais navios, mais carga, mais operadores. O Porto de Aveiro está atento, avaliando os riscos desde a entrada do navio. Só entram com condições de segurança. Todas as áreas fazem avaliação de risco e procedimentos de atuação. As empresas, muitas têm cultura de segurança. Esperamos que consigam demonstrar ter os procedimentos adequados para ficarmos todos no bom caminho.
O trabalho portuário conheceu mudanças, com mais formação, as pessoas especializaram-se. Deu um salto qualitativo. Na movimentação de carga e em salvaguardar a segurança.
As pás eólicas trouxeram exigências novas.
São grandes equipamentos, sim. Tivemos de acautelar o transporte, no corte de rotundas para os camiões acederem com maior segurança, criámos um portão de acesso.
Os operadores vão adquirindo equipamentos tendo em conta as cargas, a dimensão das mesmas.
“Maior risco está no terminal de granéis líquidos”
Onde estão os maiores riscos do Porto de Aveiro ?
O maior risco está no terminal de granéis líquidos, não quer dizer que não possam ocorrer acidentes nos outros locais.
Uma boa prevenção, com todo este processo de ações preventivas, minimiza muito os riscos.
O terminal de granéis líquidos tem a sua especificidade, pelos químicos, os combustíveis, os gases também.
O terminal vai no sentido de crescer. As empresas têm já muito conhecimento na área da segurança, tem sido uma mais valia.
No terminal Norte também chegaram empresas com essa cultura de segurança.
Para as eólicas, existe um transporte especial e movimentação cuidada do cais para os navios, com tempo e procedimentos seguros, tem corrido bem a operação. Existiram pequenas colisões na movimentação.
Os estivadores têm uma formação própria, nomeadamente para utilizarem os equipamentos, e acompanhamento nas tarefas.
A Zona de Actividades Logísticas e Industriais (ZALI) é um novo desafio?
É uma área totalmente diferente, vamos ter produção, trabalhadores. Está a arrancar a primeira fase.
Temos em construção a fábrica para as eólicas. É uma área muito grande, estamos atentos para o acompanhamento próximo das empresas que vão ser instaladas. Queremos fazer uma boa gestão de riscos, acutelar os acessos, as áreas de proteção, com fiscalização das várias entidades. Assim, o risco não será acrescido. O plano de proteção já impõe restrições de acesso em determinadas zonas portuárias, entre outras medidas.
No relacionamento com a comunidade local, é importante gerir as implicações de um porto.
Na parte da segurança fazemos tudo para minimizar os riscos. Na área ambiental temos feito um grande esforço para minimizar os incómodos. Estamos no bom caminho. Avaliando os riscos ou situações que causem problemas, com medidas de monitorização. A situação pode ser controlada e não motivar razões de queixa.
As vias rodoviárias portuárias existentes são satisfatórias?
Temos acesso à autoestrada, a nova ZALI é servida pela circular que contorna todo o porto, do terminal Norte aos granéis líquidos. Temos acessos dimensionados para os próximos anos.