Permitam-me uma proposta, por exemplo, a poucos metros do antigo Mário Duarte, em pleno Parque, e sobre o antigo “campo de treinos”, está um campo de futebol público, porque não alargar esse campo, valoriza-lo, inserir-lhe algum elemento identitário do “Mário Duarte” antigo, uma placa, o que for possível, notório e de bom gosto. Estou certo que mais e melhores ideias surgirão, e queira o povo e os poderes públicos executá-las.
Por Filipe Guerra *
A comunidade aveirense teve notícia recente do início da demolição do antigo Estádio Mário Duarte.
O antigo Estádio Mário Duarte, foi um equipamento desportivo, no Município, da maior importância. O início das partidas de futebol naquele lugar remonta aos anos 30 do século passado, por ali, e acompanhando os vários progressos feitos no Estádio, realizaram-se milhares de partidas de futebol, passaram muitos milhares de atletas, em jornadas vivenciadas por sucessivas gerações de espectadores aveirenses e visitantes. Dali sempre saiu notícia com Aveiro, e especialmente sobre o Sport Clube Beira-Mar.
Não é, nunca será possível, fazer um relato sobre Aveiro e a sua sociedade, no último século, sem referir a importância que também aquele Estádio teve. Não desprezando nem menorizando, de quanto, tanto mais, se fez Aveiro.
O desaparecimento do Estádio Mário Duarte representa também, o desaparecimento de um pouco de Aveiro.
Ao longo das últimas décadas, Aveiro tem sido um Município em profunda transformação. Existem diversos elementos identitários, de Aveiro e da sua gente, que têm desaparecido, desde espaços sociais, elementos arquitetónicos e paisagísticos, tradições e hábitos culturais, profissões e vivências, por exemplos. Assim, se por um lado, a demolição do Estádio Mário Duarte surge em coerência com este tempo, por outro, convoca e responsabiliza, os aveirenses, a uma reflexão sobre o Presente, e o lugar que este reserva à sua própria História.
As sociedades carecem de elementos identitários, que sedimentem laços comuns, partilhas, dinamizando e agregando sob valores e princípios, que deem sentido a um Presente construído a partir do Passado e que se pretende entregar para o futuro. Uma sociedade sem referências identitárias, atomizada, nos seus vários sentidos, será uma sociedade em desagregação, indistinta, sem unidade, coerência ou identidade.
A demolição do “Mário Duarte”, no contexto da sua profunda degradação, e da necessidade imperiosa de alargamento do Hospital(a quem se deseja rápida conclusão da obra, e sucesso na prossecução da defesa e universalidade da Saúde pública), compreendendo-se, não deve ser encarada levianamente. Será incompreensível, e até imperdoável, que se permita o desaparecimento da História, sem que ali permaneça qualquer registo seu.
Permitam-me uma proposta, por exemplo, a poucos metros do antigo Mário Duarte, em pleno Parque, e sobre o antigo “campo de treinos”, está um campo de futebol público, porque não alargar esse campo, valoriza-lo, inserir-lhe algum elemento identitário do “Mário Duarte” antigo, uma placa, o que for possível, notório e de bom gosto. Estou certo que mais e melhores ideias surgirão, e queira o povo e os poderes públicos executá-las.
Aveiro, o Sport Clube Beira-Mar, o Estádio Mário Duarte, têm uma homenagem por fazer.
* Jurista, eleito do PCP na Assembleia Municipal de Aveiro.