Envelhecimento e longevidade, questão complexa em Portugal

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Envelhecimento.
Natalim3

Perguntará alguém menos informado da realidade: como a educação e o ensino interagem com o envelhecimento e a longevidade?

Por Brasilino Godinho *

1. A problemática da velhice e da longevidade tem amplitude mundial, como foi demonstrado na Conferência Internacional de Lisboa, realizada nos dias 21 e 22 de Setembro de 2017, promovida pela ONU; na qual participaram delegados de 52 países e que culminou com a DECLARÇÃO UNIVERSAL SOBRE OS DIREITOS DOS IDOSOS.
Em Portugal ela tem grande acuidade e por isso me vou concentrar no caso português visto que ele tem peculiares características que se revestem de gravosas condicionantes na nossa vida colectiva e, sobretudo, arrasta a deteriorização da qualidade de vida do cidadão idoso.

2. Sempre que se manifeste interesse em abordar a complexa problemática da terceira idade há um ponto de partida a que se deve prestar atenção; ou seja: centrado na Educação; pois que se ela é motor decisivo na evolução de todos os sectores da sociedade, também é factor importante e determinante do desenrolar quotidiano do envelhecimento e na longevidade prosseguida em paralelo.
É condição fundamental e imprescindível para bem e aprofundadamente se apreender a complexidade da questão do envelhecimento e da longevidade, estar-se consciente do papel determinante que cabe à Educação e ao Ensino (nos três graus: Básico, Secundário e Superior) na formulação existencial do natural processo de os cidadãos sofrerem os inevitáveis efeitos da passagem do tempo.

3. Em Portugal o envelhecimento e a longevidade que lhe é correlativa carecem da aplicação do factor positivo que lhe seria adstrito se a Educação e o Ensino funcionassem em perfeita sintonia e regular sincronia – o que, infelizmente, não se verifica. Pois que foi cometido o grande erro de dissociar a Educação do Ensino.
Aliás, é de ter presente o facto de no Enino Superior se concentrar empenho em ministrar conhecimentos de ciências em detrimento das humanidades e descurando a instrução cultural, de modo que cada vez mais se evidencia a existência de pessoas, quais robots humanos desprovidos de alma, de sentimentos e de cultura geral.
Hoje, neste Portugal submetido à Partidocracia, qual entidade acéfala, a deseducação é geral e prevalece assustadoramente em todos os sectores da sociedade. Acrescem no negro quadro os crónicos analfabetismos primário, funcional e cultural, com ela entrosados numa desagregadora e fatídica amálgama que vem direcionando a Nação para as profundezas do abismo de colapso de Portugal.

4. Pelo que não se vislumbra hipótese, mesmo remota, de inverter tão nefasto estádio prejudicial e degradante do tecido social.
Claro que nas várias formas existenciais de velhice, consideradas no plano individual e nas implicações que elas desenvolvem no dia-a-dia da sociedade, se reflectem as consequências adversas e degradantes decorrentes do vigente constrangimento das funções pedagógica e formativa, atribuíveis à Educação.
Daí que se depreenda que o envelhecimento e a longevidade em Portugal continuarão a ser encarados pelos órgãos do Poder, com desprezo e maiores agravamentos das já muito precárias condições de sobrevivência das pessoas idosas.

5. É um dado científico que o acto de nascimento é o início de um processo de envelhecimento.
Assim admitido, se haverá por bem considerar que seja desde logo o novo ser devidamente aprestado no seio da família através da educação e elementares formas de percepcioar o ambiente e as linguagens de convívio com as pessoas que dele estão próximas.
Mas no tempo actual, na maioria das famílias, nem essa elementar aprendizagem é facultada aos seres nos seus primeiros anos de vida. Um aspecto de precaridade vivencial da família que prevalece no decorrer dos anos e sobressai pela intrínseca falta de formação educativa dos próprios familiares; a qual, lhes faltou nas suas idades de infância, adolescência e de adultos.
Na actualidade – não disponível e ao alcance das crianças e dos adolescentes – seria indicado que o Ensino desse importante contributo de proporcionar a educação de que eles tanto carecem. Infelizmente isso não se verifica, como já se mencionou nos antecedentes parágrafos.

6. Perguntará alguém menos informado da realidade: como a educação e o ensino interagem com o envelhecimento e a longevidade?
Através do cumprimento quotidiano da norma latina: mens sana in corpore sano (alma sã em corpo são). Ou seja: ao longo dos anos ir sendo feita formação moral, cívica e intelectual dos jovens no sentido de eles saberem que normas de procedimento diário devem cumprir para terem apropriados hábitos de conduta apontados a uma natural, salutar, evolução do envelhecimento e também capacitá-los da obrigação de respeitar e dignificar os velhos.

7. Com tal propósito de valorização cívica e educacional decerto teríamos no campo da Política, na área da Administração Pública e em sede de Governação, gente competente, idónea, cultivando os valores da Fraternidade, Igualdade e Liberdade, que nos devemos direito e obrigação de acatar com afinco e determinação, sem tibiezas ou desacertos reprováveis. Deste modo estaria alcançada uma governação competente, empenhada em manter uma política séria e vantajosa para todos os portugueses.
Então, reitero: se obtido tal estádio de aprimoramento da sociedade, teríamos funcionando eficazmente toda uma governação legislando e agindo com eficácia, veneração e muito respeito pelos idosos, manifestando preocupação em assegurar-lhes condições de vida digna da natureza humana. E também o imprescindível cuidado em proporcionar ao idoso o normal evoluir do seu envelhecimento; a manutenção do propósito de longevidade; o exercício de vida activa no seio da sociedade, com pleno aproveitamento da sua experiência e riqueza de conhecimentos e saberes. Constitui escândalo e é um enorme prejuízo para a Nação que a imensa riqueza da massa cinzenta dos idosos esteja desperdiçada pela governação e sociedade portuguesas.

8. Todavia, observo que tudo que fica exposto numa perspectiva de algo pressuposto de acontecer, não terá concretização imediata, a médio ou longo prazo. Por uma razão: envolveria um longo prosseguimento de realização, comportando a participação de sucessivas gerações. Prevejo: ninguém se preocupará com o assunto, a acuidade e urgência que lhe são inerentes. Para grande desgraça de Portugal!

9. A rematar o presente texto importa notar que no decorrer da pandemia Covid-19 têm morrido muitos idosos não devidamente acautelados, resguardados e tratados pelas autoridades governamentais – o que veio a traduzir-se em coincidência com a declaração feita,- por um deputado da Guarda – na Assembleia da República: “É preciso acabar com a peste grisalha”. Não haja dúvida que Covid-19 veio mesmo a calhar para exterminar os velhos. Como se fosse encomendada, por quem se permite o desplante de classificar o velho como um oneroso peso para a sociedade de consumo. Enfim, fica o registo de uma evidente negligência da governação relativamente à precária existência dos idosos em Portugal.

* Doutorado em Estudos Culturais, autor. https://www.facebook.com/brasilino.godinho

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