Empresas descapitalizadas em risco de ‘morrer na praia’

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Restauração.

A AHRESP reitera que os meses de verão não permitiram colmatar as perdas catastróficas acumuladas durante ano e meio. As empresas continuam descapitalizadas e com uma ameaça iminente de encerrar definitivamente.

Por Manuel Pereira Gonçalves *

No dia 19 de outubro, a AHRESP promoveu o seu primeiro evento presencial desde o início da pandemia Covid-19, em Coimbra, com a reunião de um painel de especialistas de diversos quadrantes do turismo para a segunda Talk do projeto Hotel os desafios da transição digital como fator da sustentabilidade do turismo, tendo-se concluído que a tecnologia é um aliado de elite para o desenvolvimento da atividade mais representativa do PIB nacional, e em que as pessoas, o nosso património material e imaterial, continuam a ser o grande ativo.

Pese embora as mensagens positivas e de grande esperança desta conferência, onde muito se debateu o enorme potencial e capacidade de o turismo retomar aos números de 2019, é preciso que o tecido empresarial desta atividade, e as suas pessoas, resistam íntegros nos próximos meses.

E para resistir precisam de apoios urgentes. No entanto, praticamente todos os mecanismos que estavam desenhados para apoiar os nossos setores de atividade terminaram.

A AHRESP tem vindo a alertar ao longo dos últimos meses que a retirada prematura dos apoios pode colocar em causa os esforços do último ano e meio e comprometer a viabilidade das empresas de restauração e similares e do alojamento turístico, que ainda não estão preparadas para fazer face a todas as suas obrigações financeiras.

Impõe-se uma discriminação positiva nos apoios às empresas do turismo, não apenas porque foram as mais impactadas pela crise, mas também porque serão as últimas a sentir a retoma plena pelo facto de estarem dependentes de quem nos visita. E todos sabemos, que a nível global, 30 milhões de turistas não voltam de um dia para o outro.

Ajuda que deve continuar também porque a retoma económica não é transversal, uníssona e homogénea em todos os setores de atividade e em todos os territórios.

A AHRESP reitera que os meses de verão não permitiram colmatar as perdas catastróficas acumuladas durante ano e meio. As empresas continuam descapitalizadas e com uma ameaça iminente de encerrar definitivamente. É essa a informação que sentimos diariamente no contacto com os empresários, através das nossas representações em todo o País e no mais recente inquérito AHRESP às empresas, relativo a setembro.

Os dados recolhidos neste último inquérito revelam que 34% das empresas de restauração e 14% no alojamento não vão conseguir manter o seu negócio até ao final deste ano sem novos mecanismos de apoio financeiro.

O que temíamos no pós-moratórias, está a confirmar-se: apenas cerca de 10% das nossas empresas recorreram à Linha Retomar, alegando condições pouco vantajosas de negociação com o seu banco ou complexidade na mesma. Um alerta que a AHRESP emitiu atempadamente.

Recentemente, o programa ADAPTAR Turismo, um mecanismo de apoio ao investimento aguardado há mais de um ano pelos empresários, esgotou a dotação orçamental em menos de 48 horas, deixando imensas empresas sem possibilidade de apresentar a sua candidatura. Já os beneficiários da medida APOIAR Rendas, cujas candidaturas decorreram entre fevereiro e abril de 2021, sofrem atrasos de vários meses no recebimento da sua segunda tranche.

Seja o que o futuro trouxer ao País, a AHRESP apela ao Governo que continue a apoiar as empresas da restauração, similares e do alojamento turístico, para que possam aguentar os meses que se avizinham e estarem disponíveis para dar resposta à retoma da atividade turística, que se espera poder acontecer a partir do
segundo semestre de 2022.

É preciso defender as nossas empresas, as nossas pessoas e o emprego, se queremos um turismo com potencial de crescimento evidente. Só não podemos “morrer na praia”.

* Presidente da AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal . Editorial da Revista Manual de Negócios.

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