Só não pode morrer o dever que temos para com a sua memória: continuar com a tradição dos moliceiros.
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“São todos uns insurrectos, Cravo!”. Só ele sabia dizer esta frase que passou a ser minha saudação provocatória: “Você é um insurrecto, Ti Abílio!”
Se existe a “brejeirice da beira ria” como forma de expressão, era no Ti Abílio que ela encarnava, na malandrice , no sorriso, na ingenuidade sábia, no ser amigo.
O ano passado falei com ele duas vezes pelo telefone, uma das vezes liguei-lhe eu a dar-lhe os parabéns, como era costume, a outra foi ele que me ligou e me deixou preocupado e triste.
O Ti Abílio tinha vendido o moliceiro “Dos Netos”, porque já não se sentia em condições de navegar e ao telefone disse-me mais ou menos isto: Que faço eu aqui Cravo? vou todos os dias ao Bico ver a ria e choro.
Havia dois moliceiros de velha cepa na Murtosa: o Ti Zé Rebeço e o Ti Abílio Carteirista. mas bastava dizer “Ti Zé” ou “Ti Abílio” e todos sabíamos, sabemos, quem eram.
Ambos morreram. Ambos estão vivos, o Ti Zé e o Ti Abílio são para sempre.
Morreu tanta memória com eles, só não pode morrer o dever que temos para com a sua memória: continuar com a tradição dos moliceiros – os verdadeiros, com vela.
O Ti Abílio morreu dia 10 de janeiro de 2024.
* https://ahcravo.com/author/ahcravo/
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