Admitindo que concorda com a maioria das nossas reivindicações, foi esta a questão que Castro Almeida lançou diretamente ao MCLV no seu último artigo de opinião, no jornal O Regional. Teremos todo o gosto em responder-lhe, até porque o ex-autarca sanjoanense acusa-nos, uma vez mais, de defendermos a manutenção da atual bitola “para desenvolver o turismo ferroviário, permitindo aos turistas desfrutar do exotismo de um comboio a circular na linha do Vouga com bitola métrica”.
Por Movimento Cívico pela Linha do Vouga *
Para uma resposta o mais concreta possível, vamos dividi-la em vários tópicos, começando precisamente pelo potencial turístico:
1) Questão turística:
O sucesso da exploração turística que decorre já na linha do Vouga, desde 2017, entre Aveiro e Águeda, é algo inegável e que tem de ser rapidamente replicado para aos seus restantes troços. Desde de 2019 que a CP tem vindo a recuperar imenso material histórico de bitola métrica, que só poderá colocar em circulação nesta linha, visto que é a única que permanece ativa em Portugal. Tal facto, confere-lhe um estatuto de exclusividade, que inevitavelmente a torna ainda mais atrativa para os turistas e convém sublinhar que muitos deles são estrangeiros. Se em boa verdade, hoje em dia, cidades como Águeda e Santa Maria da Feira estão bastantes desenvolvidas a nível turístico, com festivais que atraem multidões, como é o caso do Agitágueda e da Viagem Medieval, respetivamente, outras cidades como Albergaria-a-Velha, Oliveira de Azeméis, São João da Madeira e Espinho (com exceção da época balnear) estão, no nosso ponto de vista, ainda muito atrasadas neste panorama. Como tal, estas últimas cidades que aqui referimos, podem e devem aproveitar o turismo ferroviário para se darem a conhecer ao mundo e impulsionar a sua economia local. Frisamos aqui dois exemplos concretos de festivais onde o Comboio Histórico pode-se perfeitamente conjugar e acrescentar valor: o Perlim, em Santa Maria da Feira, e o Mercado à Moda Antiga, em Oliveira de Azeméis.
2) Questão técnico-financeira:
Como já aqui referimos em diversas ocasiões, a alteração de bitola tem um custo 120% superior ao de manter a atual. O próprio Castro Almeida admite-o na sua crónica dizendo que “a solução que defendo é mais cara do que o cenário previsto no plano ferroviário. 45 a 50 milhões.” Resumidamente e fazendo as contas, apenas para o troço norte (Oliveira de Azeméis-Espinho), a modernização mantendo a atual bitola terá um custo de 34 milhões de euros, ao passo que com alteração de bitola terá um custo nunca inferior a 75 milhões de euros. O problema da alteração da bitola não fica apenas pelo custo mais elevado. O próprio tempo de construção seria bem mais elevado e implicaria enumeras correções de traçado, cuja consequência direta passa pelas expropriações de habitações e empresas que eventualmente possam estar edificadas demasiado próximas do leito de via. Portanto, modernizar mantendo a atual bitola é uma solução que não interfere com os interesses dos cidadãos, é bem mais barata e mais rápida de executar. Numa linha como a nossa, que se encontra ainda a funcionar em moldes muitos idênticos à data da sua inauguração, não podemos esperar por uma solução que implique a alteração de bitola, pois não temos sequer a garantia de que seja possível a sua exequibilidade. O que o Plano Nacional Ferroviário propõe, com o qual concordamos na totalidade, é uma solução de modernizar a linha em toda a sua extensão, com manutenção de bitola e com um custo a rondar os 100 milhões de euros.
3) Questão de velocidade:
Obviamente, seja em bitola métrica ou bitola ibérica, os tempos de viagem na linha do Vouga serão sempre mais curtos, pois existirá sempre correções de traçado e consequente aumento das velocidades praticadas. O questão que aqui se coloca é muito simples: a velocidade praticada será muito superior em bitola ibérica? A resposta é igualmente simples: Não! Basta analisarmos o exemplo da Linha de Guimarães e rapidamente perceberemos que a relação custo-benefício em tempos de viagem não foi assim tão vantajosa com a sua modernização com alteração de bitola. Nesta linha, a velocidade média não ficou muito diferente quando comparada com as velocidades dos tempos em que funcionava em bitola métrica. Para além disso, a linha deixou de ir até Fafe e não tem exploração turística. A linha do Vouga poderá ter velocidades na ordem dos 80 km/h em bitola métrica, o que para uma linha de características urbanas, é perfeitamente aceitável.
4) Questão de rede, tarifa e do transbordo em Espinho:
Este é o tema que tem causado mais polémica. Na perspectiva de Castro Almeida, uma ligação direta ao Porto “seria um ganho de tempo e de conforto que pode fazer a diferença quando se está hesitante entre o transporte automóvel ou por comboio.” Aqui, aproveitamos nós para fazer a seguinte questão: será um simples transbordo em Espinho assim tão desconfortável? É que somente se está a analisar a possibilidade do passageiro que segue direto para o Porto. Então, e os passageiros que têm de chegar a Espinho para procurar um comboio de longo curso que os levem, por exemplo, até Viana do Castelo, Braga, Coimbra ou Lisboa? Não terão sempre que efetuar um transbordo?! Em Aveiro, esse transbordo existe e daquilo que temos conhecimento, nunca foi um problema. Além do mais, sabemos que a operacionalidade entre bitolas diferentes já não é um problema nos dias de hoje. Exemplo disso, são os novos comboios suiços da Golden Pass Express, construídos pela Stadler, que apresentam bogies bi-bitola, o que lhes permite circular em linhas de bitola métrica e europeia. Castro Almeida refere ainda que uma eventual ligação direta ao Porto será “possível por um custo mensal de apenas 40 euros (o atual custo mensal do “andante metropolitano”)”. Ora, aproveitamos para esclarecer que o PNF é peremptório e um dos objectivos é integrar a linha do Vouga no sistema “Andante”, visto que o atual serviço regional passará para serviço urbano. Quer isto dizer, que o passe de 40 euros será sempre aplicado independentemente da bitola. Para finalizar, um dos argumentos que se tem usado para que haja alteração da bitola passa pela construção da Linha de Alta Velocidade, que supostamente libertará a Linha do Norte para mais serviços urbanos. O problema é que a modernização da Linha do Vouga carece de máxima urgência e não podemos ficar pendentes de uma suposta construção de outra via férrea para que a nossa progrida. Neste momento, a Linha do Norte está sobrecarregada no eixo Aveiro-Porto, pois nele circulam os comboios de mercadorias, os urbanos, os regionais e inter-regionais e os comboios de longo curso, pelo que seria muito complicado acrescentar circulações vindas da Linha do Vouga. Não existindo garantias de que nos próximos dez anos exista canal horário na Linha do Norte para circulações vindas da Linha do Vouga, temos de avançar pela solução da bitola métrica pois é mais económica, mais rápida, mais realista e com potencial turístico, que responde de igual modo aos interesses das populações inseridas na AMP, sem desprezar as restantes populações que são também servidas por esta via férrea. Queremos a Linha do Vouga em bitola métrica para que seja para todos e não só para alguns.
* https://www.facebook.com/Pelalinhadovouga .
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