Os investidores começam a fazer o balanço do mesmo e a concentrarem-se já nos desafios do próximo ano.
Por Henrique Tomé *
Este ano de 2022 ficou marcado por vários vários eventos, alguns dos quais inesperados, desde questões geopolíticas às económicas que acabaram por ter impacto nos mercados de capitais, provocando períodos de elevada volatilidade nos principais benchmarks mundiais.
A guerra na Ucrânia acentuou as preocupações em relação à inflação, mas não foi o único responsável pelo fraco desempenho dos índices bolsistas. Os receios entre os investidores em relação ao risco de recessão (profunda) por via das medidas adotadas pelos Bancos Centrais para travar os efeitos da inflação continuam a ser um dos principais drivers para os mercados, sobretudo numa fase em que começam a surgir evidências de que as pressões inflacionistas poderão estar a abrandar, à medida que a atividade económica é penalizada pela diminuição do consumo resultante das subidas generalizadas dos preços, e que, por sua vez, acaba por retirar poder de compra aos consumidores.
No entanto, até aqui estas questões não deveriam ser motivo de preocupação, dado que ao longo da História observamos sempre este fenómeno – períodos em que os níveis inflação são elevados, tendem a penalizar o crescimento económico, uma vez que é necessário “arrefecer” a economia para travar então a subida dos preços.
Mas se é assim tão óbvio, porque é que os mercados reagem desta forma?
Os mercados tendem a reagir com base nas expectativas futuras, sendo que o presente passa, muitas vezes, para segundo plano. Não é claro, nem garantido, mas o risco de existir a possibilidade das maiores economias mundiais começarem a contrair tem estado por detrás dos receios dos investidores, penalizando as avaliações dos ativos.
A juntar às preocupações atuais, um conjunto de outras questões referentes ao período da pandemia poderá também ser alvo de preocupação por parte dos investidores durante o próximo ano:
– Excesso de massa monetária aplicada durante o período da pandemia por via das ajudas dadas às empresas e famílias (que acabaram por contribuir para as pressões inflacionistas);
– Passagem do Quantitative Easing (QE) para o Quantitative Tightening (QT);
– Ação demasiado agressiva por parte dos Bancos Centrais, que pode conduzir a uma recessão profunda;
– Elevado nível de dívida nas economias desenvolvidas, sobretudo quando comparado com rácio Dívida/PIB;
Estes três pontos poderão ser levantados durante o próximo ano, sendo que este último que diz respeito às questões sobre o nível de endividamento elevado deve ser tido em consideração com alguma seriedade.
Na última grande crise financeira na Europa, a Grécia, na altura com o rácio dívida/PIB de 170%, entrou em insolvência, enquanto que o Japão com um rácio de dívida/PIB 230% manteve-se estável. Mas porquê? A Grécia tinha, na altura, imensos problemas de cash flow, enquanto que no Japão não existiam esses problemas.
O Japão é conhecido por ter uma das maiores dívidas mundiais, mas até agora tem sido um modelo sustentável, dado que o país não sofre de problemas de liquidez. Por outro lado, na Europa a situação é bastante diferente. Os países do sul, sobretudo, poderão entrar numa situação sensível, também devido ao facto dos juros estarem a aumentar, podendo tornar os níveis de dívida atuais insustentáveis, já que a atividade económica também está a abrandar.
Dito isto, os três pontos mencionados poderão ser os próximos drivers para o mercado, à medida que as preocupações de 2021/2022 começam a passar para segundo plano.
* Analista da XTB. Artigo publicado originalmente em Diário Imobiliário.
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