Dois homens acusados de burlas de vários milhares de euros para aquisição de telemóveis de gama alta, que eram vendidos depois através da Internet, e fazer outras despesas, remeteram-se ao silêncio no Tribunal de Aveiro.
O alegado ‘esquema’ usado pelos arguidos, residentes no Grande Porto, à data sem outra atividade, passava por angariar indigentes e outras pessoas vulneráveis que, aliciados com algum dinheiro, eram usados para compras a crédito.
O tribunal ouviu como testemunha um ofendido de Esmoriz, concelho de Ovar, que terá facultado a caderneta bancária utilizada por desconhecidos na compra de vários equipamentos no valor de alguns milhares de euros em centros comerciais do Norte do país.
O homem, que não reconheceu os arguidos, disse ter sido confrontado com o pagamento de prestações por créditos, estando ‘a contas’ com processos executivos movidos pela instituição bancária lesada.
A GNR acabaria por ser informada deste e de outros casos em Esmoriz, iniciando uma investigação que levou a desmantelar o ‘esquema’ em julho de 2018.
O acusado mais velho, de 50 anos, que responde por cinco crimes de burla qualificada, seria, tudo indica, quem angariava as pessoas para os créditos e procedia às compras dos equipamentos. Foi identificado em tribunal por outro lesado, um cidadão inválido, como “a pessoa” que o terá tentado convencer a desistir da queixa na polícia.
Outros indivíduos não identificados terão estado mais directamente envolvidos. “Levaram-me a fazer uma conta em Espinho para ter um cartão de crédito, fizeram-me comprar telemóveis, tablets, cartões e outras coisas em lojas. Não posso pagar isto”, declarou, explicando que foi obrigado a abrir a conta depois “ameaçado por algo que parecia uma arma”.
O homem negou que tivesse recebido alguma contrapartida financeira para alinhar na burla. “Só depois é disseram que me davam 100 euros se desistisse da queixa”, insistiu.
O arguido mais novo, de 32 anos, que comprava os equipamentos para revender pela Internet a preços inferiores ao mercado, tinha na residência, na cidade da Maia, quase quatro dezenas de telemóveis, três consolas de jogos, um ‘smartwatch’, dois mil euros em dinheiro e vários documentos relacionados com as burlas. Está acusado de dez crimes de receptação.
» Os supostos burlões selecionavam pessoas mais vulneráveis, convencendo-as a fazerem cartões de créditos, tendo como contrapartida o pagamento em dinheiro de valores bastante baixos. Os cartões eram usados na aquisição de equipamentos eletrónicos e de telecomunicações, que posteriormente eram entregues ao suspeito de recetação que os vendia na Internet, a um valor inferior ao praticado no mercado.