Dia da sobrecarga do planeta: Esperança na Cimeira do Futuro

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Defesa do ambiente (imagem genérica)

Tendência para antecipar uso do cartão de crédito ambiental mantém-se e a quase estagnação na evolução é insuficiente para responder aos desafios que se colocam à Humanidade – Como acelerar transição?

Por Francisco Ferreira *

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O dia da sobrecarga do planeta (Overshoot Day) assinala o dia em que a necessidade de recursos e serviços ambientais por parte da Humanidade excede a capacidade do Planeta Terra para regenerar esses mesmos recursos. A partir daí torna-se necessário usar recursos naturais que só deveriam ser utilizados a partir de 1 de janeiro do ano seguinte, neste caso, 2025.

Este ano o uso do cartão de crédito ambiental começou um dia mais cedo do que em 2023, ou seja, a 1 de agosto. Tal significa que estamos a usar 1,7 planetas, isto é, 70% mais do que a natureza nos oferece anualmente.

Nos últimos anos a tendência é de estagnação. Para a ZERO, é possível que esta tendência se deva aos esforços de descarbonização e a um conjunto de políticas que visam promover o respeito pelos limites do planeta, muito embora possa também estar a ser influenciada por alguma desaceleração económica nos últimos anos. De qualquer modo, esta tendência é insuficiente para alcançar os objetivos do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPPC) de reduzir as emissões de carbono a nível mundial em 43% até 2030 (tendo por referência 2010). Para que tal seja possível, teremos de retirar 19 dias em cada um dos próximos sete anos.

Estamos muito longe de atingir esta velocidade de transformação e esta incapacidade é uma ameaça para as gerações presentes, mas, muito em particular, para os direitos e expectativas das gerações futuras.

É preciso acelerar

O que os dados nos indicam é que a Humanidade tem de acelerar o passo e promover as mudanças necessárias de forma a reduzir o impacte que as suas atividades e necessidades têm sobre a capacidade de carga do planeta. De acordo com a iniciativa #MoveTheDate do Dia da Sobrecarga do Planeta, mudanças como ter fontes renováveis a alimentar 75% das necessidades mundiais de eletricidade podem reduzir em 26 dias o nosso uso do cartão ambiental e reduzir para metade o desperdício alimentar pode contribuir para uma redução de mais 13 dias. Mas há mais:

A redução da pegada de carbono em 50% permitir-nos-á acionar o cartão de crédito ambiental 93 dias mais tarde (início de novembro).

Se reduzirmos a nossa pegada ligada à mobilidade em 50% e se assumirmos que um terço dos km são substituídos por transporte público e os restantes pela bicicleta e andar a pé, acionaremos o cartão de crédito ambiental 13 dias depois (para a segunda semana de agosto).

Se reduzirmos o consumo de carne em 50% e substituirmos essas calorias por uma alimentação vegetariana, o cartão de crédito seria acionado 17 dias depois (meados de agosto), com 10 desses dias a resultarem das emissões de metano evitadas.

É urgente a tomada de consciência para a necessidade de alterar o paradigma de desenvolvimento no sentido de promover uma economia do Bem-Estar, que garante qualidade de vida para todos dentro do respeito pelos limites do planeta.

O foco nas gerações futuras – A Cimeira do Futuro

O desafio de acelerar a transição para a sustentabilidade está bem expresso no progressivo aumento do protagonismo do debate em torno das gerações futuras e dos seus legítimos direitos e expectativas. Vivemos um momento na História da Humanidade onde as estruturas e estratégias de resposta aos enormes desafios que se colocam, tendem a seguir padrões ultrapassados e repetitivos. Apostando na cooperação internacional e procurando restabelecer bases de confiança intra e inter-gerações, as Nações Unidas estão a organizar a Cimeira do Futuro, que decorrerá de 20 a 23 de setembro em Nova Iorque. Neste evento será dada primazia à identificação de estratégias que, permitindo a integração dos efeitos futuros das decisões do presente nos processos de decisão política, concretizem a mudança estrutural necessária que permita respeitar os direitos das gerações presentes e futuras.

A Cimeira é um evento de alto nível, que reúne os líderes mundiais que visa a adoção do Pacto para o Futuro, que incluirá como anexos um Pacto Digital Global e uma Declaração sobre as Gerações Futuras.

Como se calcula o indicador

O dia da sobrecarga do planeta é calculado dividindo a biocapacidade do planeta (a quantidades de recursos maturais que o Planeta Terra consegue gerar/providenciar num ano) pela pegada ecológica da Humanidade (a procura de recursos durante um ano), tendo em consideração os 365 dias de cada ano.

Tal como um extrato bancário dá indicação das despesas e dos rendimentos, a Pegada Ecológica avalia as necessidades humanas de recursos renováveis e serviços essenciais e compara-as com a capacidade da Terra para fornecer tais recursos e serviços (biocapacidade).

A Pegada Ecológica mede o uso de terra cultivada, florestas, pastagens e áreas de pesca para o fornecimento de recursos e absorção de resíduos (dióxido de carbono proveniente da queima de combustíveis fósseis). A biocapacidade mede a quantidade de área biologicamente produtiva disponível para regenerar esses recursos e serviços.

* Dirigente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável.

Link sobre Cimeira do Futuro – https://www.un.org/en/summit-of-the-future

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