No nosso território temos presente inúmeros casos de abandono do nosso património construído, sendo o edifício do antigo tribunal o caso mais gritante no domínio público e no privado, os casos da Malaposta de Sanfins, do edifício ardido em 2018 no Rossio, da Pensão Avenida, das duas casas em ruína no parque do Rossio ou do edifício onde outrora existiu a sede do MRPP no centro histórico.
Por Filipe T. Moreira *
Um pouco por todo o município existem réplicas destes casos. São parte do nosso património tangível, são a memória coletiva de todos nós e, se por um lado vemos edifícios em avançado estado de degradação e destruição, em contraponto são residuais as intervenções no sentido da inversão desse estado de situação.
Num passado relativamente recente a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira fez uma intervenção no antigo “curral de gado” contíguo às instalações do edifício do desusado matadouro municipal, para aí criar o um espaço para que artistas pudessem desenvolver atividade, isto antes de ter avançado igualmente com a recuperação do edifício que foi pertença da Junta Nacional de Produtos Pecuários. Neste último iria funcionar um espaço de apoio às atividades das artes de rua. Foram gastos 50.000 euros do erário público nessa recuperação. Foi colocado telhado com telha tipo francês e recuperada a armação, os rebocos e pinturas. Sendo que no espaço exterior foi igualmente arranjado o passeio e enquadradas as vetustas duas Tílias que aí residiam. No pátio interior do matadouro foi igualmente preservada uma Magnólia Sempre-Viva. Enaltecemos esta intervenção bem como a posterior que devolveu as instalações do edifício principal às suas caraterísticas iniciais.
Todavia, ainda corria o outono de 2019 quando os caprichos da meteorologia fizeram com que inopinadamente uma das Tílias perdesse parte da sua copa, que se veio a arrojar no telhado do acima referido “curral de gado”. Num ápice uma brigada de motosserristas a mando da Câmara abateram de forma inapelável a dita prevaricadora. Não foi sequer ponderada a sua preservação através de uma poda recuperadora. Ela já havia cometido a aleivosia de anteriormente ter partido o vidro de uma janela de sótão existente no telhado pelo que pagou a impertinência de ser reincidente na sua teimosia de deixar a contragosto dos humanos cair os seus ramos. Imperou assim a lei dos “mais fortes”.
Em remedeio o telhado após o ato criminoso da árvore, foi coberto nos seus estragos por toldos que devem ter sobrado de uma das “festas medievais”, sendo adornados os seus cumes com tubagens alaranjadas. Para reforçar foram colocados sacos de areia para manter tudo no seu devido lugar caso o vento matreiro decidisse fazer das suas. Esta cena sofre, entretanto, uma pequena alteração com a degradação dos sacos de ráfia plástica que sucumbiram aos elementos, ficou a areia que continham a escorrer pelo telhado. Os mais desavisados pensariam que de imediato estavam os serviços municipais a tratar da resolução do problema, apesar de gostarmos de sobremaneira do colorido da cena.
Estávamos enganados pois, passadas que são três estações do ano pouco favoráveis para estes arranjos, não sabíamos que aguardavam pelo inverno para repor o dito telhado na sua total magnificência.
Assim, face a este desleixo e inoperância, a CDU irá, através do seu eleito na Assembleia Municipal requerer resposta às seguintes questões:
O imóvel em questão mantém dentro de si atividade?
Se sim com que garantias de segurança?
A que se deve tamanha demora na recuperação do telhado deste imóvel?
Irão as árvores que lá permanecem sofrer o mesmo tratamento se algo de idêntico acontecer?
As mesmas alguma vez foram avaliadas na sua condição fitossanitária?
* Comissão Coordenadora da CDU de Santa Maria da Feira.