Evoluir para um modelo económico sustentável e para que a transição ecológica resulte só é possível se se tornar a eficiência energética uma verdadeira prioridade. Dado o contexto atual, este esforço tem de passar, obrigatoriamente, pela concretização da Dimensão Transição Climática do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e das medidas do Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030), pois sem isso não é possível.
Por José Guedes *
Só assim é que a indústria pode contribuir, efetivamente, para a redução das emissões de gases com efeito de estufa, para a incorporação de energias renováveis no consumo de energia final e de eficiência energética, bem como para a redução da intensidade energética e carbónica da indústria. Pois bem, é, então, nestas questões que devemos concentrar a nossa atenção.
Afinal, qual a dimensão do problema?
Na generalidade dos equipamentos e processos industriais em que se utiliza um combustível para produzir calor, uma parte significativa da energia fornecida ao sistema é perdida sob a forma de gases de exaustão. Quando a transferência de calor para o produto atinge o seu limite prático de utilização, os gases de combustão são removidos da máquina ou do sistema através de condutas de exaustão ou de uma chaminé, contendo, ainda, uma considerável quantidade de energia térmica.
A quantidade de energia perdida nos efluentes gasosos constitui o principal potencial de perdas nas transformações de energia operadas em ambiente industrial e, por isso, e apesar da desindustrialização ocorrida nos últimos 40-50 anos, constitui no país um problema cuja dimensão temos de reduzir.
Indústrias como a Cerâmica, o Vidro e o Cimento são flagrantes exemplos de aplicação, tornando inclusive possível a produção de energia elétrica em sistemas de Cogeração “Bottoming cycle”, mas enquanto em Portugal não se investe em projetos que poderiam produzir, anualmente, cerca 55 GW de eletricidade e evitar a emissão de 27 mil toneladas de CO2, consumindo zero de combustível, na China não se imagina construir uma fábrica de cimento sem implementação da referida tecnologia, seja com vapor (SCR) ou fluído orgânico (ORC).
A implementação deste tipo de sistemas de recuperação de energia permite produzir eletricidade, ora seja para autoconsumo ou para injeção direta na rede elétrica – conforme possa ser ou não permitido pelas entidades reguladoras – em quantidade significativa, que nos casos de maior expressão poderão mesmo ultrapassar os 20% das necessidades elétricas da própria indústria. Nos casos de menor dimensão, é sempre possível transformar a energia térmica em outras formas, tais como: vapor, água quente e/ou água gelada. A escolha da forma de transformar a energia disponível nos gases efluentes será definida em função das especificidades e necessidades de cada processo industrial.
A procura e a implementação de sistemas de aproveitamento dessa energia é, assim, para além de um ato coerente de gestão, uma responsabilidade cívica que não devemos alienar, passando a ser um desígnio humano.
* CEO e Fundador da Energest. Artigo publicado originalmente no site Essência do Ambiente.
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