“De todos e por todos: não à extinção das espécies”

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Zoo de Santo Inácio.

Toda a vida no planeta se encontra interligada e cada espécie tem a sua função e a sua razão de existir, o que permite que os ecossistemas funcionem, sendo que o Homem não é exceção e, como parte integrante, tem também o seu papel e impacto na vida da Terra.

Por Francisco Ramos *

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Bem sabemos que a manutenção de ambientes naturais saudáveis e a abundância de biodiversidade traz benefícios ao Homem, nomeadamente no que diz respeito à disponibilidade de alimento, à regulação da temperatura do nosso planeta ou a promoção da saúde. De facto, é maravilhoso constatarmos que a natureza, por si só, tende a procurar um equilíbrio entre todos os seres vivos, onde cada um tem a sua importância, por isso é que a perda de uma espécie num ecossistema causa distúrbios em todos os outros seres vivos nele existentes, pelo que, se uma espécie se encontra em risco, é provável que o ecossistema em que esta vive também esteja.

Nos últimos anos, assistimos a um declínio alarmante da biodiversidade em todo o mundo. Segundo um estudo realizado pela WWF (World Wildlife Fund) e a ZSL (Zoological Society of London), entre 1970 e 2018, constatou-se um declínio médio de 69% das populações de animais selvagens em todo o mundo. Tudo isto se deve, na sua maioria, a ações do Homem que ameaçam a sobrevivência das demais espécies. Desflorestação, uso excessivo dos recursos naturais, fragmentação de habitat, caça furtiva, poluição e espécies invasoras são algumas das principias causas deste declínio. Atualmente, existem mais de 150.300 espécies na Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza), com mais de 42.100 espécies ameaçadas de extinção, representando 28% de todas as espécies avaliadas. Estamos perante um ponto crítico, onde temos a obrigação de tomar medidas para que estes números não se agravarem.

Mais do que nunca, precisamos deixar a natureza recuperar-se e dar resposta a tudo que, por ação excessiva do Homem, interferiu negativamente no equilíbrio dos ecossistemas. Porém, podemos intervir neste processo, de forma positiva, tentando compensar o que de errado já foi feito e contribuir para a aceleração desta recuperação.

E é aqui que entram os parques zoológicos. Nos dias de hoje, zoos e aquários acreditados desempenham um papel fundamental na conservação da biodiversidade e da vida selvagem, atuando na preservação dos ecossistemas e na educação para a Conservação. Estes parques mantêm os animais em espaços seguros e desenhados de acordo com a ecologia de cada espécie, com determinados objetivos. Um deles é a investigação científica. A possibilidade de acompanhar e estudar diariamente animais que em estado selvagem são difíceis de observar, permite obter um maior conhecimento sobre as espécies, conhecimento esse que é aplicável para medidas de conservação in-situ (habitat natural da espécie).

No entanto, não são só os cientistas que têm a possibilidade de acompanhar animais selvagens que se encontram sob cuidados humanos. Os zoos também abrem as suas portas à comunidade, aproximando os visitantes da natureza e de animais que, de outra forma, seriam quase impossíveis de serem vistos. Ninguém protege o que não ama, e ninguém ama o que não conhece, por isso, os zoos dão a conhecer espécies de animais de todo o mundo, ensinando o seu papel e a sua importância nos ecossistemas, contribuindo ativamente para a educação ambiental.

Para além destes dois eixos de atuação, a reprodução de espécies ameaçadas de extinção é mais um dos objetivos dos parques zoológicos. Os EEP’s, Programas Europeus de Reprodução de Espécies Ameaçadas, garantem a manutenção de populações saudáveis, dentro dos Zoos e Aquários membros da EAZA (Associação Europeia de Zoos e Aquários). Cada programa EEP tem uma equipa de coordenação responsável pela gestão de todos os exemplares de uma determinada espécie, que se encontram distribuídos pelas diversas instituições.

O Zoo Santo Inácio participa em vários desses programas e é um exemplo de sucesso na reprodução do jabiru do Senegal (Ephippiorhynchus senegalensis). Tendo sido o primeiro zoo pertencente à EAZA a conseguir reproduzir esta espécie, já assistiu ao nascimento de 6 jabirus do Senegal ao longo dos últimos anos. Estas crias, por sua vez, foram cedidas a outras instituições, com o objetivo de criar outros casais reprodutores. Uma vez que a população desta espécie em estado selvagem está a diminuir, a presença de espécimes em zoos garante a existência de um reservatório genético que assegura a continuidade da espécie. A manutenção, sob cuidados humanos, de uma população saudável, com elevada variabilidade genética, permite, caso seja necessário, a reintrodução de animais na natureza, aumentando assim a população geneticamente diversa de uma espécie em estado selvagem. Este é um recurso muito valioso que já permitiu evitar o desaparecimento de espécies que outrora já se encontraram extintas na natureza.

Acresce que, como se pode ler no recente documento da UICN “Position statmement: on the role of botanic gardens, aquariums and zoos in species conservation”, a maior parte dos parques zoológicos têm a conservação como foco principal e tem desenvolvido trabalhos locais na proteção de comunidades de animais, através de monitorização da espécie, na defesa de direitos, ou no financiamento em prol da conservação de espécies in situ e ex situ. O mesmo documento salienta que “numa vida cada vez mais urbanizada, os zoos proporcionam às pessoas experiências com animais, fungos e plantas de todo o mundo. Essas conexões com natureza, juntamente com a educação ambiental, podem aumentar a compreensão dos visitantes e apreciação do valor intrínseco”, destacando o potencial de educação, inspiração e capacitação das comunidades para a preservação.

Por tudo isto, os parques zoológicos assumem-se como pilares da conservação de espécies em vias de extinção, salvaguardando a existência de muitas delas no futuro. O papel dos zoos não substitui a ação da natureza, mas devido ao trabalho ativo na conservação ex-situ e in-situ, à cooperação com outras instituições ambientais e científicas e à consciencialização para a necessidade de mudança em prol da natureza, fornece um apoio crucial na preservação da vida animal e dos ecossistemas.

* Curador do Zoo Santo Inácio. Artigo publicado originalmente no site Ambientemagazine.

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