Cumprir Abril…O Grito! Lembrar é Preciso !

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Assembleia da República.

Falar de Abril de 1974, 47 anos passados, é tarefa delicada pela monotonia que
pode significar a repetição de frases, conceitos e até propósitos que ao longo destes
anos muitas vezes foram ditos, analisados, discutidos e repetidos.

Por José Teixeira Valente *

Se na vida de uma pessoa ou até de uma Instituição 47 anos constitui um espaço de tempo já significativo, na vida e na história de uma nação com nove séculos, 47 anos são temporalmente muito pouco. Poder-se-ia assim concluir da irrelevância em assinalarmos esta efeméride. Mas não! Estes 47 anos de vida deste país são, porventura, depois da época dos Descobrimentos, o período da nossa história secular, o mais relevante, o mais decisivo.

Abril de 74 foi fruto de uma geração sofredora, lutadora, patriótica. Falar-se de Abril é simbolizar a geração de 60: Aqueles homens e aquelas mulheres que sofreram as agruras do regime, que choraram os filhos ou maridos que lutavam em Africa (e tantos por lá ficaram), mas que com uma fé e coragem ilimitadas nunca desistiram de procurar um sinal de esperança:

POR ISSO ABRIL ACONTECEU.

Mas 47 anos passados lembrar Abril não pode ser só recordar o movimento dos capitães nessa alvorada do dia 25. Para mim e, naturalmente para muitos, Abril simboliza o renascer da esperança, da tolerância, da solidariedade, do entendimento, do dar as mãos para construir em harmonia uma sociedade livre, franca, aberta, amiga. A grande lição de Abril é esta: e é pena que já passados 47 anos, muitos de nós, muitos de vós, ainda não tenhamos aprendido a lição.

Por isso, o facto de estarmos envolvidos e irmanados do mesmo sentimento, devernos-á levar a refletir profundamente sobre se o que temos feito, o que temos dito, o que temos prometido se encaixa no verdadeiro espírito de Abril. Se formos sinceros e justos, se calhar, concluiremos que ainda não cumprimos Abril.

E então, o que falta para cumprir Abril? Quase tudo ou quase nada. Para os
conformados, para os acomodados não falta nada para cumprir Abril: para esses nunca faltou nada para cumprir coisa nenhuma. Mas, para os que lutam, os que amam, os que se sacrificam por esta terra, falta ainda bastante para cumprir Abril.

· Falta respeitar a diferença da opinião e das ideias;
· Falta aceitar o confronto político com lealdade e frontalidade;
· Falta o sentimento de tolerância e compreensão;
· Falta exigir a nós próprios, o que queremos exigir aos outros;
· Falta lutar apaixonadamente para melhorar a nossa terra;
· Falta, sobretudo, dar as mãos.

Mas para que, cada vez mais, falte menos para cumprir Abril, é preciso:

· GRITAR, em todo o lado;
· GRITAR para que quem governa cumpra com bom senso e equilíbrio a sua
missão;
· GRITAR contra o estado em que estão as nossas cidades, vilas e aldeias;
· GRITAR para que a economia cumpra o seu papel e leve a cabo os projetos
de desenvolvimento e progresso de Portugal;
· GRITAR contra as medidas que possam prejudicar os mais desfavorecidos;
· GRITAR por uma “Nova Educação” que ajude os alunos a “PENSAR”;
· GRITAR contra as Comissões cobradas pelos Bancos;
· GRITAR contra a impunidade para com os corruptos;
· GRITAR para que as empresas possam ter condições para progredir e,
naturalmente, criar emprego;
· GRITAR contra a falta de medidas adequadas à resolução dos problemas
sociais;
· GRITAR contra os exageros de linguagem ofensivos da dignidade das
pessoas;
· GRITAR contra os arautos da desgraça e os falhados oportunistas;
· GRITAR contra o atraso evidente na administração da Justiça;
· GRITAR contra a burocracia que sufoca e atrasa o desenvolvimento;
· GRITAR contra a exclusão social;
· GRITAR contra tudo e contra todos os que procuram entravar o progresso e o desenvolvimento desta terra, muito especialmente aqueles que mais têm
obrigação e dever de o fazer: os governantes;
· GRITAR para que todos, nesta época da pandemia COVID 19, saibam usar o BOM SENSO na defesa da saúde de todos, ajudando os profissionais de
saúde e todos quantos se dedicam a esta causa, tomando e acatando as medidas de prevenção justas e adequadas tendo em conta os mais vulneráveis e os mais idosos.

E para terminar, não poderei deixar de pedir à minha geração, essa Geração
que fez o 25 de Abril, que o cumpra, e que saiba transmitir Abril aos jovens do nosso país, para que de Abril possam colher, compreender e aceitar,
essencialmente, o espírito de empenhamento, solidariedade, tolerância, respeito mútuo, direito à diferença e, sobretudo, fraternidade, para que, como herdeiros da nossa geração, saibam continuar as tarefas que ainda não conseguimos acabar e, principalmente que tenham em atenção sempre o respeito e estima pelos mais desfavorecidos, pelas crianças e pelos velhos.

SE TRANSMITIRMOS ABRIL DESTE MODO, CUMPRIREMOS O NOSSO DEVER E ABRIL ACONTECERÁ SEMPRE.

* Dirigente da SEMA – Associação Empresarial / Abril 2021.

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