“Crónicas de Lisboa”: A História de um Circo que é Retangular

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Palácio de São Bento.

Num Circo Grande, que por acaso é retangular, existem vários “clubes ou companhia de circo”, mas em que os palhaços, digo povo, estão nas cadeiras, enquanto as ditas “companhias circenses” se divertem ou digladiam num processo de conquista pelo domínio do Circo Grande, que afinal é retangular. Nessa luta, pela ascensão e domínio do poder, os palhaços, digo povo, acabam por assistir a espetáculos, dentro e fora do circo, deprimentes. Os “artistas” usam, não armas de guerra, mas sim a “arma da palavra” e usando e aproveitando-se de todo o tipo de oportunidades para derrubar o mandante do circo grande, espiolhando, se for vantajoso, a vida pessoal do chefe e dos seus “adjuntos” do circo. Vão ao ponto de usarem o termo lamaçal, fazendo-nos lembrar aqueles jogos em que as pessoas se atolam na lama e a atiram contra os “rivais” do jogo.

Por Serafim Marques *

“Partido político é um agrupamento de cidadãos para defesa abstrata de princípios e elevação concreta de alguns cidadãos – Carlos D. de Andrade

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Há alguns anos, o mandante do Circo Grande, digo país, desgovernou a sua gestão e vieram os credores de outros circos mundiais que impuseram outro mandante do circo e que com a democracia reinante, apesar de frágil, vai funcionando, com a legalização democrática, dada pelos votos, dos espectadores palhaços, digo povo, das atividades circenses. Escolheram um novo mandante que impôs rigor para salvar as finanças do circo grande, que é retangular, e evitar que um circo estrangeiro se apoderasse deste circo, que é retangular.

Reequilibradas as contas do Circo Grande, de novo os palhações, digo o povo, foram chamados a votar, afinal é esse o ilusório poder – votar, que é muito pouco, embora muitos palhaços, digo povo, organizados em corporações, se vinguem decretando uma panóplia de greves, mas prejudicando sempre os palhaços, digo o povo, mais frágeis e pobres. E os palhaços, digo povo, deram uma maioria absoluta a certa companhia circense para governar, mas o mandante desse Circo Grande, com elevada ambição de aceder a um circo muito grande, digo circo da EU, bateu a porta e, novamente, os palhaços, digo povo, foram chamados a escolher as companhias circenses dos seus mandantes e acólitos. Nova composição das companhias e dos chefes mandantes, mas as vinganças começaram a ser cozinhadas e em cada dia se procuravam argumentos, num ataque pessoal, para derrubar o mandante e, desse modo, os rivais do circo mandante conseguiram derrubar o Circo Grande e, assim os palhaços, digo o povo, vão ser chamados a escolher novos mandantes, principais e secundários.

Há 50 anos que este Circo Grande, que é retangular, vive num constante espetáculo circense, com os palhaços, diga-se povo, a assistirem, cada vez mais e porque as televisões, e são mais de dez, transmitem e espiolham até à exaustão estes espetáculos, por vezes deprimentes. E o que fazem os palhaços, digo povo, para além de exercerem o poder do voto que o sistema político lhe concede e que é muito pouco? Deixam de sentir interesse pelo sistema regente neste Circo Grande. Aqueles que resistem à erosão do sistema reinante acreditam, mas outros desinteressam-se de escolher as suas “companhias” para este circo, abstendo-se de participar nessa “festa”.

Alguns, e são cada vez menos, acreditam, ingenuamente, que as coisas podem mudar. Puro engano, porque a degradação da vida no Circo Grande é uma realidade. Recentemente, o espetáculo no circo e fora dele, tornou-se degradante e, todos se tornaram adversários uns dos outros inviabilizando a gestão do Circo Grande, digo país, pelo que o circo vai sair de novo às ruas das aldeias, das vilas e das cidades, fazendo todas as palhaçadas, agora invertendo os papéis dos palhaços, digo povo, chamando-os para votarem nas companhias, digo partidos, simpatizantes de cada companhia do circo, que afinal é retangular.

Porque neste circo cada companhia circense age, não em benefício dos palhaços, digo povo, mas sim em prol da sua companhia e satisfazendo o ego dos seus chefes, o circo dos quase dez milhões de palhaços, digo povo, torna-se mais pobre e perde o comboio dos circos mais ricos desse mundo fora. Prisioneiros das amarras dessa cultura de “primeiro a minha companhia, depois o ego do chefe e acólitos, e, por fim, o interesse do Circo Grande, digo país, os palhaços, digo povo, desesperam e vão-se desviando das companhias mais antiga e fogem para companhias mais recente que se aproveitam das fraquezas e dos vícios das companhias “cinquentenárias”, e cujos líderes lhes prometem aquilo que os líderes e acólitos, das companhias mais antigas não satisfazem.

E assim se vão perdendo as vantagens para os palhaços, digo povo, se as duas principais companhias circense fizessem um acordo pelo tempo absolutamente necessário e pusessem este Circo Grande na senda do progresso e que houvesse apenas palhaços no verdadeiro circo. Quanto tempo teremos de esperar para entenderem que a imaturidade das democracias e o desenvolvimento do país necessita de acordos. Até lá, os palhaços, digo povo, reclamam por melhor qualidade de vida, no ensino, na saúde, na habitação, na erradicação da pobreza, da corrupção e tantas outras necessidades dos palhaços, digo povo.

Vivamos e pratiquemos a democracia, não no papel, mas na realidade – que não seja destrutiva -, como forma de governar não para satisfazer egos, capelinhas e os próprios partidos, mas sim para bem do povo que constitui a nação portuguesa. Cuidado com os “predadores” da Democracia, cujos exemplos vamos conhecendo. Eles espreitam.

* Economista (reformado).

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