
Algo em que a sociedade católica-cristã falhou redondamente foi em não usar o nome de Deus em vão.
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Por O VAZ *
Tudo começa no intimidante terceiro mandamento: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão.” Traduzindo para linguagem corrente: “Cuidado como te referes a mim, que eu tenho boa memória e péssimo sentido de humor.” A interpretação oficial é: evitar blasfémias, juramentos falsos e qualquer outro uso desnecessário do nome divino.
A teoria permaneceu mas, como em tudo, a execução ficou aquém das expectativas.
Ao longo da história, a humanidade tentou cumprir este mandamento com fervor. Os judeus, por exemplo, resolveram o problema eliminando a possibilidade de erro: simplesmente, deixaram de pronunciar o nome de Deus original, “YHWH”, que não deve ter sido um grande desafio, devido à falta de vogais.
À falta de alternativas, substituíram-no por “Adonai” (“Senhor”) ou “HaShem” (“O Nome”). Fazendo o paralelismo, é como deixar de chamar o patrão pelo nome próprio, por ser arriscado, e passar a chamá-lo apenas “O Patrão”. Se é prático, já que disfarça o eventual esquecimento do seu nome? Sim. Se é estranho? Também.
Os Jeovás, rebeldes como são, decidiram manter-se fiéis ao nome divino, já que acreditam que, se ele foi escrito, por algum motivo é: para ser usado. É o
mais semelhante possível ao original, segundo as adaptações do hebraico – YHWH > YaHoWaH > Jeová.
Entretanto, os Cristãos decidiram simplificar as coisas: podiam mencionar o nome de Deus, mas apenas para fins nobres. “Pai, em orações?”- “Sim senhor”; “Sermões?” – “Claro” ; “Em situações de pânico?” – “Já não gosto tanto”. E assim foi descarrilando até: “Meu Deus, que calor!, numa praia?” – “Humm, talvez longe de mais”.
E assim chegámos ao humor involuntário das expressões contemporâneas.
Hoje, “Ai, meu Deus” é um reflexo pavloviano para tudo e mais alguma coisa. Desde “Ai, meu Deus, queimei o jantar.” até algo tão fútil como “Ai meu Deus, o meu filho faleceu atropelado por um trator”. Lá tem de estar Deus, convocado por um reflexo.
* Cineasta. [email protected]
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