Crónica: Casar é para gays e jovens conservadores de direita

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Casamento (Ilustração O VAZ).

Hoje em dia, casar é para gays e jovens conservadores de direita. Sei que parecem duas coisas diametralmente opostas, mas estão relacionadas.

Por O VAZ *

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Com o avanço civilizacional, a vontade de contrair matrimónio tem vindo a esfumar-se. Talvez porque se assemelha ao ato de contrair uma doença chata – e pode não estar longe disso.

Antigamente, casar era um ritual de passagem inevitável, como o batizado ou a primeira comunhão. Era mal visto aquele que não cumprisse com estas tradições e regras sociais impostas sei lá por quem.

Atualmente, os casais modernos dispensam o sacramento, optando pela simplicidade da união de facto. Trocam o véu e a grinalda por um filho aqui, um gato acolá, e um apartamento que pertence ao banco. As razões são muitas: profissionais, financeiras ou simplesmente o desejo de evitar contratos vitalícios.

Afinal, já não é mal visto o filho bastardo, o sexo antes do casamento, o divórcio, a menage a trois ou acumular ex-cônjuges como quem coleciona cromos da bola. Por outro lado, é cada vez mais dispensada a religião, igreja e o sentimento de posse marido-mulher.

Mas há quem resista a esta tendência. De um lado, temos os jovens conservadores de direita, herdeiros do tradicionalismo, defensores da família nuclear e da aprovação divina para a sua união. Para eles, casamento é assunto sério: um compromisso perante Deus, a sociedade e, claro, os cartórios. Como é que a comunhão entre um casal apaixonado poderia não ser celebrada? Tem de o ser.

Mas, não exageremos na inclusão. Se a união envolver duas pessoas do mesmo sexo, há constrangimentos. O casamento é sagrado, sim, mas há limites. E é então que entram os gays. Comunidade que, durante séculos, foi privada deste direito. Mas agora, face a visões progressistas, conquistaram o seu direito ao casamento.

Vejamos, pelos argumentos que apontei anteriormente, não vejo grande entusiasmo, nem vantagens, no casamento. Mas, se eu fosse homossexual e vivesse num país em que, devido a lutas, o casamento homossexual tivesse prevalecido. Então nesse caso, meus amigos, passem-me o véu e o buquê. Casava-me com toda a pompa e circunstância, lançava arroz aos convidados e ainda obrigava o padre a dar um beijinho a três com o meu parceiro.

Daí, nos dias que correm, o casamento só ter utilidade para estas duas etnias da sociedade: homossexuais e conservadores de direita, gays e homofóbicos, paneleiros contra fascistas. Desculpem o entusiasmo, comecei a visualizar uma batalha no adro da igreja. Local onde estes dois opostos se cruzam para dar beijinhos.

* Cineasta. [email protected]

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