A Europa atravessa um momento turbulento, e as crises políticas e económicas em França e na Alemanha, dois motores da União Europeia, trazem preocupações para o futuro da estabilidade e competitividade do bloco.
Por Diogo Fernandes Sousa *
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Para Portugal, um país fortemente integrado no contexto europeu, os desdobramentos destas crises são motivo de atenção redobrada, dada a sua ligação direta ao nosso crescimento económico e ao contexto político da UE.
França enfrenta uma crise política sem precedentes, com a queda do governo de Michel Barnier e o aumento do défice orçamental para 6,2% do PIB, o mais alto da zona euro. A falta de consenso político e a pressão para lidar com as desigualdades sociais e a inflação tornam incerta qualquer tentativa de implementar reformas estruturais.
Já a Alemanha, tradicionalmente vista como o pilar de estabilidade da Europa, lida com a estagnação económica e uma crise política interna. A coligação liderada por Olaf Scholz desmoronou, com eleições antecipadas convocadas para fevereiro. A falta de um plano económico claro em Berlim agrava a incerteza, num momento em que a Alemanha deveria liderar esforços para fortalecer as regras fiscais da UE.
A conjugação destas crises políticas com fatores externos — como as tensões comerciais com os EUA, o arrefecimento das relações com a China e as pressões militares devido à agressão russa — enfraquece o projeto europeu como um todo.
Para Portugal, as repercussões destas crises são múltiplas. A economia portuguesa depende significativamente das dinâmicas económicas europeias, com os mercados alemão e francês entre os seus principais parceiros comerciais. Qualquer desaceleração nestas economias traduz-se numa redução das exportações portuguesas, afetando setores como o têxtil, calçado e automóvel.
Além disso, o aumento das taxas de juro das dívidas públicas em países como a França pode contagiar economias periféricas, como a portuguesa, tornando o financiamento mais caro e dificultando o cumprimento das regras orçamentais da UE. A subida dos custos de financiamento também pode afetar os investimentos estruturais e os apoios financeiros da União, fundamentais para Portugal.
A instabilidade em Berlim e Paris pode ainda atrasar decisões políticas essenciais a nível europeu, como a implementação de medidas de recuperação económica, o reforço da competitividade e os fundos para a transição digital e ecológica. Sem a liderança das duas maiores economias da UE, a tomada de decisões em Bruxelas pode paralisar, prejudicando projetos que beneficiam países como Portugal.
Por outro lado, internamente, é também um momento para acelerar reformas que tornem a economia portuguesa mais resiliente às oscilações externas. O investimento na diversificação de mercados e na transição para o digital pode reduzir a dependência de mercados externos e preparar o país para futuros desafios.
Apesar das preocupações, é importante reconhecer que crises como estas fazem parte da evolução histórica da Europa. Tal como no passado, desafios internos e externos podem servir de catalisadores para uma maior cooperação e integração. Contudo, é imperativo que a União Europeia atue rapidamente para evitar um agravamento das disparidades económicas e políticas entre os seus membros.
Para Portugal, o caminho passa por uma participação ativa nos debates europeus e uma preparação interna sólida para mitigar os impactos das incertezas externas. O fortalecimento do projeto europeu depende não apenas das grandes potências, mas também do contributo de todos os seus membros.
* Escritor do Livro “Rumo da Nação: Reflexões sobre a Portugalidade”. Professor do Instituto Politécnico Jean Piaget do Norte.
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