A desregulação dos mercados financeiros internacionais, que se verificou no início da década de 1980 (com o advento do presidente americano Ronald Reagan e da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher), deu origem a grandes movimentos de capitais que tornaram a economia internacional mais rápida e dinâmica (e também mais volátil, de acordo com os críticos).
Porém, a invenção e disseminação da internet veio dar um impulso decisivo ao que podemos denominar hoje como a virtualização dos mercados financeiros – ou mesmo da própria economia.
A virtualização da economia
Longe vão os tempos dos grandes assaltos a comboios, típicos do tempo em que bancos e governos precisavam de recorrer ao transporte ferroviário para transportar grandes quantidades de dinheiro. Hoje em dia, com alguns cliques do rato, é possível transferir milhões de dólares ou euros de e para qualquer lugar do mundo.
E esta tecnologia não está restrita a grandes organizações; pelo contrário, é de uso comum. Qualquer pessoa pode receber o seu salário mensal na sua conta bancária, aceder ao homebanking no computador (ou até a uma aplicação no telemóvel) e a partir daí fazer os seus pagamentos. O utilizador nem chega a ver “a cor do dinheiro”, como se diz em linguagem corrente.
Mais impressionante ainda é o facto de qualquer pessoa poder, hoje em dia, dedicar-se ao trading online. Através de plataformas dedicadas, que incluem tutoriais e ajudas como simuladores de bolsa de valores, qualquer pessoa pode, com acesso à internet e um investimento inicial, dedicar-se ao investimento nos mercados financeiros internacionais.
Meios de pagamentos eletrónicos
A popularização de meios de pagamento eletrónicos é um forte sintoma desta tendência. Principalmente na atualidade, em que o Paypal já não visto como uma ferramente exótica, só conhecida e utilizada por “geeks” da informática e peritos em finanças, mas já começa a fazer concorrência à banca tradicional. Um exemplo recente é o facto de o Paypal ter lançado um serviço gratuito de pagamentos pessoais, válido em Portugal e em outros 24 países da União Europeia. O Paypal começa, claramente, a ser um concorrente a ter em conta pela banca tradicional.
Criptomoedas
O conceito de criptomoedas surgiu com a Bitcoin, criada no final da década passada com o objetivo de vir a ser uma moeda revolucionária, em todos os aspetos. Em lugar de ser gerida por um banco central e assegurada por uma autoridade tradicional (o Estado), a Bitcoin seria gerida e assegurada pela própria tecnologia utilizada na sua concepção e desenvolvimento. Todas as transações em Bitcoin são publicamente asseguradas, pois dependem de um procedimento de validação por toda a rede; qualquer transação se torna, assim, inviolável – sem que seja necessária a intervenção de um banco, uma autoridade financeira ou qualquer outra.
Investir em criptomoedas tornou-se uma alternativa apetecível em função do extraordinário crescimento da Bitcoin durante a última década. Alguns especialistas apontam que a intenção do seu fundador, de criar um meio que pudesse substituir-se gradualmente ao dinheiro tradicionais, não se concretizou inteiramente. Em vez disso, a Bitcoin tornou-se uma nova reserva de valor, à imagem do ouro e de outras “comodities”. A dificuldade na sua “mineração” (o processo tecnológico utilizado para a obtenção de divisa em Bitcoin) e a relativa lentidão nas suas transações contribuiu para este resultado.
É por isso que novas criptomoedas vão surgindo, como o Monero, a Bitcoin Cash (esta surgida a partir de uma “heresia” relativamente ao funcionamento da Bitcoin), a Ethereum, entre outras. Será que todas estas moedas terão o mesmo destino de valorização da Bitcoin? É improvável, pois muitas surgem exatamente para colmatar as limitações da moeda “original” e a concorrência internacional é bastante grande. Por outro lado, tendo em conta o cenário de relativa instabilidade da economia internacional (a perspetiva do Brexit, a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, etc.), trata-se de um investimento em forex (“Foreign Exchange”, isto é, investimento em divisas) que pode passar de alternativo a mainstream.