A indicação da construção de um crematório em Aveiro consta do programa eleitoral da coligação “Aliança com Aveiro”, que venceu as eleições autárquicas. Mas, recuando ao momento em que os dois cemitérios da cidade passaram à gestão da antiga Junta de Freguesia da Glória, existiu, desde logo, a ideia de humanizar a zona de inumação dos cendrários (recipientes de cinzas provindas de cremação) e denominá-la “Memorial à vida”.
Executivo da União das Freguesias de Glória e Vera-Cruz *
Vem constituindo prática corrente a opção pela cremação, em detrimento da tradicional inumação. Tal gesto constitui uma mudança na mentalidade post mortem, sendo que, actualmente, 13 por cento dos funerais em Portugal incluem acto de cremação, chegando aos cinquenta e três por cento na Área Metropolitana de Lisboa. Com efeito, por vontade própria do falecido ou opção da sua família, a cremação traduz uma forma diferente, porventura mais simples e simbólica que o tradicional enterramento.
Sendo certa a inevitabilidade da morte na existência humana, é natural que as instituições públicas prevejam a forma de ordenamento de inumações e salvaguarde a saúde pública, que, nos nossos tempos contemporâneos, nos leva até à Revolta da Maria da Fonte (proibição de inumações em igrejas, passando a realizar-se em cemitérios públicos). Por outro lado, na realidade portuguesa, os espaços destinados a inumações foram-se localizando junto de igrejas.
Só os mais recentes, prevendo a sua ampliação a longo prazo, se situam em espaços de menor densidade populacional. Outra realidade que existe há algumas décadas entre nós é a da construção de complexos funerários, os quais dispõem de salas para velar os falecidos sem nenhum elemento religioso a que os possa associar naquele momento e com outras salas para convívio e com serviço de cafeteria.
Na realidade de Aveiro, dispomos de dois cemitérios no centro da cidade: um do século XIX e outro da centúria seguinte. Até aos nossos dias, os funerais realizados que incluem cremação têm de dirigir-se, normalmente, à Figueira da Foz e a São João da Madeira.
Indo ao encontro de números concretos, existem 26 crematórios em Portugal, sendo 13 públicos e 13 privados, sendo que ainda este ano irão inaugurar-se mais três privados. Não subsiste, assim, nenhuma vinculação da necessidade ou conveniência da gestão destes espaços por parte de entidades públicas; no caso, doze municipais e um de uma Junta de Freguesia.
Os outros crematórios em funcionamento apresentaram-se a concurso e oferecerem os seus serviços ao mercado, como sucede noutras realidades em que existe público e privado. Não se crê que nenhum deles, se inserido numa zona de maior densidade urbana, minorize a sensibilidade humana. Pelo contrário, o aspecto sóbrio das suas linhas arquitectónicas e a forma de inserir a morte no quotidiano torna estes equipamentos necessários mais humanizados e humanizantes da morte.
Ainda no que se refere à realidade aveirense, actualmente dispõe-se, na cidade, de quatro espaços para velório (Igrejas de Santo António, Nossa Senhora das Febres, São Gonçalinho e Mártir São Sebastião), todos eles da Igreja Católica e dois públicos (capelas dos cemitérios Central e Sul), tendo-se encerrado dois de propriedade da Santa Casa da Misericórdia.
Consequentemente, sente-se a necessidade de encontrar espaços para velórios, não só pela insuficiência dos mesmos, mas em particular se se pretende a ausência de símbolos religiosos e a disponibilidade de outros serviços, como os consumíveis e bebíveis. Aliar a construção do crematório a casas mortuárias é uma decisão consequente e perfeitamente inteligível ante a realidade dos factos e das estruturas.
A indicação da construção de um crematório em Aveiro consta do programa eleitoral da coligação “Aliança com Aveiro”, que venceu as eleições autárquicas. Consequentemente, a ideia foi sufragada pelos eleitores e o Executivo municipal executa agora tal ponto programático. Mas, recuando ao momento em que os dois cemitérios da cidade passaram à gestão da antiga Junta de Freguesia da Glória, existiu, desde logo, a ideia de humanizar a zona de inumação dos cendrários (recipientes de cinzas provindas de cremação) e denominá-la “Memorial à vida”.
Assim, existirá em Aveiro um crematório a cumprir todas as regras de saúde pública – como os demais –, e de mais salas direccionadas especialmente para velórios (e não adaptáveis como os espaços católicos, que obrigam a uma logística para o efeito), junto a um cemitério, a poucos metros de distância, que dispõe de uma zona para colocação dos cendrários.
Com o maior respeito que a morte nos impõe e os sentimentos ante aqueles que partem, passará Aveiro a dispor de um equipamento nobre, em espaço urbano, na plena concepção de que a morte faz parte da vida.
Considera-se, pois, da maior utilidade e a mais conveniente localização o crematório em Aveiro, pelo que o Executivo da União das Freguesias Glória e Vera Cruz toma como posição o total apoio ao projecto, saudando a sua iniciativa e concretização pela Câmara Municipal de Aveiro.
* Maioria PSD-CDS. Artigo a propósito de proposta camarária enviada à Assembleia Municipal de Aveiro.