A actual pandemia COVID-19 afectou o mundo inteiro, levando a mudanças na vida pessoal e profissional. Apesar de ter surgido na China, em Wuhan, em 2019, foi em Março de 2020, que a Organização Mundial de Saúde, declarou a existência de uma situação pandémica. A extensa cobertura mediática contínua dos meios de comunicação social, levaram ao aumento do medo, ansiedade, pânico social, e risco de suicídio, deteriorando a saúde mental, com o aumento da procura de apoio psicológico.
Por Anabela Pereira *
Há reconhecimento de que a ciência, tem sido valorizada na procura de soluções para os desafios atuais. Contudo, os profissionais que trabalham para a ciência, também eles tiveram de se readaptar ao trabalho. Enquanto alguns trabalhos de investigação puderam ser feitos em casa, tais como redacção de artigos, investigação científica, outros requerem recolha de dados, presença no terreno, ensaios laboratoriais, e ensaios clínicos.
Muitos investigadores tiveram de readaptar os seus horários e compromissos, tendo sido o acesso ao trabalho de campo/laboratório restringido por medidas de confinamento. Muitos ensaios clínicos foram suspensos devido à necessidade de isolamento social e vários grupos de investigação sentiram a necessidade de alterar os seus projectos de investigação e/ou desenvolver novos, concentrando-se em estratégias para responder à pandemia. O teletrabalho e o apoio a crianças e dependentes foram outros reajustamentos necessários com implicações na saúde física e mental dos investigadores
Preocupados com esta situação, foi por nós realizado um estudo que pretendeu avaliar a ansiedade, a depressão, o stress, os medos e as estratégias de sobrevivência dos investigadores portugueses durante a pandemia da covid-19.
Foram inquiridos 243 investigadores com uma média de idade de 37,9 anos que participaram num questionário online. O estudo foi realizado entre 1 de Junho de 2021 e 11 de Agosto de 2021. O questionário incluía a avaliação da depressão, ansiedade e stress (DASS-21), medo da covid-19 (FCV-19S), e o inventário de respostas a situações stressantes (CISS). Os resultados sugeriram que ser mulher e mais jovem parecem estar relacionados com receios mais significativos.
Os investigadores solteiros e mais jovens mostraram valores mais elevados de stress, depressão e ansiedade. Áreas de investigação, como as ciências médicas e de saúde, apresentaram níveis mais elevados na escala da ansiedade, de depressão e stress. Os medos foram também identificados de elevado impacto na investigação realizada. Dados mais específicos da presente investigação poderão ser encontrados nos estudos de Batista, Afonso, Lopes, Fonseca, Silva, Pereira e Pinho (2022).
Os resultados deste estudo alertam para que as universidades possam dar mais atenção às variáveis de natureza pessoal que interferem no bem-estar psicológico dos investigadores e consequentemente no sucesso académico e produção científica. O equilíbrio entre a profissão, as variáveis pessoais e familiares deverá ser prioritário. Importa também que sejam realizados estudos mais extensos e diversificados acerca da presente temática.
* Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt
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