Covid-19: é o que há!

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Não parece que as respostas adoptadas sejam as melhores, com um enorme respeito por quem “está ao leme” e de quem assessora. Mas, de facto, o que não se queria, e se apontava como razões para a necessidade do inadiável “achatamento” da curva, aí está com grande dramatismo e a perspectiva da “culpa” é a única que é totalmente indesejável!

Por António de Sousa Uva *

Costumo responder quando me perguntam em casa do que é a sopa, é o que há! Apetece responder o mesmo em relação à resposta à pandemia …

Quando a justificação do encerramento das escolas, em janeiro, é a variante ”inglesa”, com circulação provável desde, presuntivamente, setembro de 2020, apetece responder o mesmo! Não, dirão alguns, essa variante vem sendo cada vez mais frequente nos novos casos.

Mas era esperada outra coisa?

Portugal não é uma espécie de Algarve dos Ingleses?

O conhecimento que temos dos vírus respiratórios sazonais não é suficiente para presumir isso mesmo?

A circulação de cidadãos entre o Reino Unido e Portugal não vislumbrava que isso acontecesse?

Seria esperado algo diferente do que a adaptação do vírus ao hospedeiro?

Os conhecimentos anteriores (de muitos anos) de, entre outras, Infecciologia, Virologia e de Imunologia já não apontariam nesse sentido?

Os perfis evolutivos em outros países não deviam ser seguidos com mais atenção?

Os conhecimentos anteriores de outras pandemias não indiciariam perfis evolutivos similares?

Claro que para quem se exercita (ou baseia a sua actuação) em torno da análise probabilística do número de casos, com base na história pregressa, se pode esperar isso mesmo. Mas é isso que devemos esperar de quem determina as estratégias de acção mais adequadas para o combate à pandemia? Não serão indispensáveis outros conhecimentos? Desde logo de quem conhece e lida com a doença?

Não parece que as respostas adoptadas sejam as melhores, com um enorme respeito por quem “está ao leme” e de quem assessora. Mas, de facto, o que não se queria, e se apontava como razões para a necessidade do inadiável “achatamento” da curva, aí está com grande dramatismo e a perspectiva da “culpa” é a única que é totalmente indesejável!

Isso também acontece em outros países? Claro que sim! Muito mais ricos que o nosso país? Claro que sim! mas, em imagem em espelho, quem disse em abril e maio que era o milagre português, se for coerente, não deveria agora dizer que é a “desgraça portuguesa”? Serão esse tipo de análises as mais adequadas para a actual emergência em Saúde Pública? Como não me pareceu correcta aquela afirmação, também o seu contrário não fará sentido!

Não me parece que o aproveitamento político do combate à pandemia, pela positiva ou pela negativa, seja aceitável. Politic e Policy não podem ser sinónimos porque o resultado nunca será bom e essa “promiscuidade”, dizem alguns, pode parecer que tem sido a regra e, pelo menos academicamente, essa hipótese tem que ser colocada.

O apelo que deve ser feito é o que foi realizado no início da pandemia: sermos todos agentes de Saúde Pública. Estaremos, de facto, a ser todos agentes de Saúde Pública? Não me parece! Quer-me parecer, mas admito que possa estar enganado, que muitos, quer individualmente quer profissionalmente, pensam mais em si que nos outros! Será essa a melhor forma de combater a pandemia?

* Médico do trabalho, Imunoalergologista e Professor catedrático da NOVA (ENSP). Artigo publicado inicialmente no site Healtwnews.

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