Covid-19: A va(á)cina que antes de ser já era e que não será, para já, suficiente!

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Covid-19, vacina.

Não dando, neste contexto, grande importância às questões da vogal aberta ou fechada, que de resto se repete a propósito de Carina e quase nunca a propósito de Marina (insondáveis os aspectos da fonética de algumas palavras) eis-nos “instalados” na speedy vacina para a COVID-19. E, de novo, a criação de conhecimento, a comunicação desse conhecimento e a comunicação social completamente “fundidas”.

Por António de Sousa Uva *

É, de facto, histórica e fantástica a actual rapidez com que foram desenvolvidas diversas vacinas, diversificadas nos seus mecanismos de desenvolvimento de memória imunológica, mas a ansiedade colectiva está “ao rubro” e instala-se a discussão das suas indicações e prioridades de administração como se assistíssemos a um autêntico (e alienígena) “big brother”. Imagine-se, por absurdo e mal comparado, o mesmo sobre as questões técnicas da pilotagem do Airbus A-380 … poderia ser interessante desde que, em qualquer situação, pudessem contar sempre com a nossa (in)disponibilidade para estar a bordo.

É compreensível o que sucede num quadro de, há quase um ano, uma pequena partícula viral se ter tornado notícia mundial diária, “emoldurado” no maior ou menor clima de medo e na “revolta” comunitária pelo descarado tropismo viral pelos mais velhos e mais vulneráveis, para não falar da devastação económica e social que nos caiu em cima (e também ainda mais nos países mais vulneráveis em termos económicos …). Bastará a tal propósito recordar a ordem de grandeza da unidade “milhão de óbitos”, directa ou indirectamente, associados ao SARS-CoV-2.

E instala-se, entre outros, uma “floresta” de aspectos científicos (com grande notoriedade para a imunidade de grupo), dados técnicos, dimensões morais e Ética, burocracia de licenciamento, opiniões, logística e aprovisionamento que transforma essa amálgama em algo ininteligível para qualquer abordagem com o mínimo de rigor indispensável a estas “lides”. Isto tudo num período pré-natalício e de um, também perigosamente próximo, final de ano que “ameaça” fazer recrudescer o quadro pandémico se o distanciamento físico for violado, o que tem o mais elevado grau de previsibilidade.

Se o referido quadro parece muito perturbador, imagine-se a pressão que sentirão os técnicos independentes, e a quem se pede uma enorme responsabilidade, das agências Estatais de licenciamento de medicamentos (e também de vacinas) que cada vez estão com o “in” (de independente) mais em fase de implosão, interessantemente, pressionados pelas mesmas entidades que as criaram … Estranhos (mas estranhamente compreensíveis) estes novos tempos de alguma desregulação da regulação.

Racionalizemos! “Dando de barato” que as vacinas são eficazes e seguras, o seu licenciamento será uma realidade, a sua produção, distribuição, aprovisionamento e aplicação estão asseguradas, os seus clientes são “apenas” quase dez milhares de milhões e, com mais ou menos prioridades de aplicação, isso demora tempo e ainda mais tempo demora a indução da imunidade específica, independentemente da sua duração ainda não (ou incompletamente) conhecida. Dito de outra forma, as medidas de Saúde Pública (esperamos) de todos conhecidas continuarão a ser necessárias por muito tempo (para já, o tempo necessário a que essa imunidade adquirida, natural ou artificialmente, dificulte a circulação do vírus de tal forma que deixe de ser pandémico).

Nesse panorama aqui agora “aflorado”, a pergunta que nos ocorre reiteradamente é se não seria mais sensato usar esse raciocínio como ansiolítico já que esse raciocínio não causa nem dependência, nem habituação? É que todos ganharíamos muito com isso e essa sensatez poderia, em si mesma, ter uma acção terapêutica por aumentar a percepção do risco indispensável à sua melhor gestão.

* Médico do trabalho, Imunoalergologista e Professor catedrático da NOVA (ENSP). Artigo originalmente publicado no site Healthnews.pt.

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