Continuar a crescer lá fora

90
Transporte de contentores, Porto de Aveiro.

Até ao processo de ajustamento desenhado pela troika, o modelo de desenvolvimento da economia portuguesa assentava na procura interna. Em 2008, o peso das exportações no PIB estava abaixo dos 30% e as empresas exportadoras constituíam apenas 8% do tecido empresarial nacional. Acresce que, nesse mesmo ano, as vendas ao exterior representavam somente 35% dos negócios das empresas.

Por Carlos Carvalho *

Está a ler um artigo sem acesso pago. Faça um donativo para ajudar a manter o jornal online NotíciasdeAveiro.pt gratuito.

Em 2023, as exportações atingiram um peso no PIB de 47,4% (30,5% em bens e 16,9% em serviços), o que é revelador de como a economia portuguesa se tornou mais aberta ao exterior. Nesse ano, as vendas ao exterior registaram um crescimento real de 4,2% e representaram a maior contribuição para o crescimento económico de Portugal pelo terceiro ano consecutivo. Hoje, há mais de 40 mil empresas exportadoras em Portugal, quando em 2012 o número não chegava às 30 mil.

Porém, algumas nuvens negras assomam no horizonte de crescimento das exportações. A economia mundial encontra-se em desaceleração e o protecionismo tem vindo a ganhar adeptos, em particular nos EUA. A procura externa de bens/serviços portugueses está a ser pressionada em baixa, devido ao arrefecimento económico dos principais destinos das nossas exportações, designadamente Alemanha e França.

As limitações ao livre comércio podem motivar uma recomposição do crescimento do PIB português, com um reforço do peso da procura interna em detrimento das exportações. Isto significaria uma alteração do modelo de desenvolvimento do país, passando a procura interna (potencialmente indutora de importações e alavancada por dívida) a ser o principal fator de dinamização económica. Se for o caso, Portugal regressa a um cenário similar ao vivido antes da crise de 2008, em que a economia crescia de forma pouco sustentável.

A meu ver, Portugal deve continuar a apostar na internacionalização da economia, mesmo que a conjuntura internacional não se afigure favorável nos próximos anos. Com um mercado doméstico exíguo, níveis de endividamento elevados, desequilíbrios na balança externa e avultadas necessidades de financiamento externo, o nosso país não pode fazer da procura interna o seu motor de crescimento. Deve, isso sim, focar-se na expansão do tecido industrial, no reforço da competitividade e na subida das exportações, sobretudo com maior valor acrescentado.

Para aprofundar a internacionalização da economia portuguesa, importa desde logo alargar a base exportadora do país. Apesar da evolução dos últimos anos, o peso das empresas exportadoras no tecido empresarial nacional (pouco mais de 10%) é ainda baixo, com a agravante de que cerca de 50% destas empresas vende para um só mercado: Espanha ou Angola. É preciso, portanto, incentivar mais empresas a exportar, sobretudo PME e start-ups, cujas vendas ao exterior são menos significativas. Na verdade, as exportações portuguesas estão ainda muito concentradas em grandes empresas.

É também fundamental alterar o perfil exportador do país. Há que encontrar novos mercados de destino, atenuando a dependência comercial em relação à UE e contornando o abrandamento económico dos nossos parceiros. Convém ainda aumentar a intensidade tecnológica e as características diferenciadoras dos nossos bens/serviços, de modo a torná-los mais competitivos. Além disso, Portugal deve reforçar o valor acrescentado nacional das exportações, que presentemente é menor do que o valor bruto das mesmas.

Obviamente que a internacionalização é um processo complexo. Para muitas empresas, dar ao negócio uma dimensão internacional tem implicações profundas na sua cadeia de valor, além de exigir capital humano especializado. Para fazer frente a estas dificuldades, há que apostar em parcerias entre empresas, acelerar a transição digital, qualificar os recursos humanos e investir na inovação.

* Presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários. Artigo publicado originalmente no site Linktoleaders.

Siga o canal NotíciasdeAveiro.pt no WhatsApp.

Publicidade e serviços

» Pode ativar rapidamente campanhas promocionais no jornal online NotíciasdeAveiro.pt, assim como requisitar outros serviços. Consultar informação para incluir publicidade online.