Consulta de estudo dos distúrbios da deglutição arranca no hospital Dr. Francisco Zagalo

2005
Ana Castro Sousa (esquerda) e Susana Reis.

O Hospital Dr. Francisco Zagalo – Ovar (HFZ-Ovar) lançou este mês um novo serviço semanal: a consulta de estudo dos distúrbios da deglutição, que irá permitir um melhor conhecimento dos doentes com suspeita de disfagia.

“Era uma lacuna sentida há muito neste hospital, pois temos nos dois serviços de internamento existentes muitos doentes com distúrbios da deglutição, que estão sub-diagnosticados”, afirma a médica otorrinolaringologista, Ana Castro Sousa.

A nova consulta – que arrancou no HFZ-Ovar no passado dia 14 de Fevereiro – realiza-se semanalmente à quinta-feira (entre as 09 e as 12 horas), numa primeira fase com especial atenção aos doentes internados na Unidade da Medicina Interna e na Unidade de Convalescença e, posteriormente, abrangendo a comunidade.

“Vamos poder fazer agora o rastreamento desse tipo de doentes, notificar aqueles que se apresentam com distúrbios da deglutição. No fundo, verificar até que ponto os podemos ajudar na tentativa de solucionar o problema e dar melhor qualidade de vida ao doente”, sublinha Ana Castro Sousa.

A consulta pretende identificar os doentes com disfagia, sendo realizada por um médico da especialidade de Otorrinolaringologia e por uma Terapeuta da Fala. Os procedimentos de avaliação incluem avaliação clínica e instrumental. A avaliação instrumental consiste na realização da vídeo-endoscopia, permitindo a observação de como a deglutição é processada, com que grau de efectividade o bolo alimentar atinge o esófago e, sobretudo, se existe uma deglutição segura ou não.

“Após o diagnóstico de disfagia orofaríngea procedemos à elaboração de um programa terapêutico que elege um grupo de procedimentos capazes de causar efeitos benéficos na dinâmica da deglutição, reflectindo-se satisfatoriamente no quadro geral do individuo”, explica a terapeuta da fala, Susana Reis.

“O acompanhamento destes doentes a curto, médio e longo prazo permitirá evitar pneumonias, desnutrição, desidratação e mesmo isolamento social, reforçando assim as valências nesta unidade”, salienta.

A deglutição tem por função transportar o alimento desde a cavidade oral até ao estomago, sendo um processo vital composto por uma fase voluntária (preparatória oral e oral executiva) e duas fases involuntárias (faríngea e esofágica).

Quando se verifica qualquer dificuldade ao longo da deglutição, decorrente de processo agudo ou progressivo, que interfere no transporte do bolo alimentar – desde a boca até ao estômago -, denomina-se de disfagia.

A deglutição pode ser prejudicada por processos mecânicos que dificultam a passagem do bolo, como por falta de secreção salivar, por fraqueza das estruturas musculares responsáveis pela propulsão do bolo ou por disfunção da rede neuronal que coordena e controla a deglutição. Todas estas dificuldades podem acarretar graves consequências para o paciente, como a penetração e/ou aspiração de alimento e/ou saliva para a árvore traqueobrônquica, desnutrição e desidratação, podendo levar o paciente à morte.

De acordo com a Associação Portuguesa de Terapeutas da Fala, a disfagia afecta no nosso país cerca de 80 mil pessoas e estima-se que haja milhares de indivíduos que sofrem desta patologia e não têm apoio adequado.

Hospital Dr. Francisco Zagalo, Ovar.